Desde o dia 1º, a Receita Federal passou a cobrar
uma alíquota de 25% de Imposto de Renda sobre remessas ao exterior para
prestação de serviços. Porém, interpretações diferentes da lei e falhas na
comunicação do Fisco estão causando uma enorme confusão entre empresas, bancos
e clientes

Por enquanto, as empresas do setor tentam segurar o aumento, que pode
inviabilizar a viagem de muitos brasileiros. Segundo o presidente da Associação
Brasileira de Cruzeiros Marítimos (CLIA Abramar), Marco Ferraz, várias agências
anteciparam remessas em dezembro para evitar a cobrança do imposto no começo do
ano. As que não fizeram isso, no entanto, já começam a repassar aumentos para o
consumidor.
O
imposto incide em caso de transferências para contas no exterior. Por isso, as
agências de turismo são prejudicadas, uma vez que pagam serviços como
hospedagem por meio de remessas. Para pagamentos com cartão de crédito não há
tal cobrança. Portanto, se o turista abre mão do serviço da agência e paga as
despesas da viagem com cartão, incidirá apenas a tarifa do IOF, de 6,38%. Um
problema é que muitas pessoas podem não ter limite suficiente para bancar todas
as despesas de uma viagem.
"Com o câmbio do jeito que está e esse imposto, viajar ou estudar
fora vai voltar a ser uma exclusividade para quem é muito rico", diz o diretor
financeiro da Associação Brasileira das Agências de Intercâmbio (Belta),
Marcelo Melo.
Intercâmbio
As empresas do ramo educacional, por sua vez, ainda não têm certeza se
serão tributadas. A analista de comunicação Silvana Deolinda começou a fazer orçamentos
em agências de intercâmbio para enviar a sobrinha para a Austrália.
Uma das propostas promete isenção do imposto para quem fechar o pacote
em janeiro e outra já cobra 6,38%. A taxa intermediária é fruto de uma
negociação do setor com o governo, que promete reduzir a alíquota do IR de 25%
para 6% (mais 0,38% de IOF) e, assim, igualar a cobrança à do cartão de
crédito.
A Receita, no entanto, afirmou à reportagem que o setor educacional não
será tributado. A base para isso é o artigo 690 do Decreto 3.000 de 1999. Nele,
gastos para manutenção de dependentes no exterior e remessas para fins
educacionais, científicos ou culturais ficam isentos. A Receita repetiu essa
informação em nota divulgada à imprensa na quarta-feira passada.
Mas no dia a dia de quem trabalha no setor, a história é bem diferente.
O diretor comercial da Egali Intercâmbio, Guilherme Reischl, conta que há
bancos que cobram os 25% e outros não. Para se proteger de um eventual
prejuízo, a empresa decidiu cobrar a alíquota intermediária de 6,38% dos
clientes até que os bancos deixem de recolher o tributo.
O superintendente executivo de Câmbio do Santander, Mauricio Auger,
explicou que, no entendimento do banco, o setor educacional também deve ser
tributado e que espera uma norma formal da Receita para rever a cobrança. A
Receita Federal informou que deverá publicar uma instrução normativa no início
desta semana para sanar dúvidas. O Banco do Brasil informou que recomenda aos
clientes o recolhimento do IR. Itaú e Bradesco não comentaram o assunto.
Imbróglio
O setor de turismo tinha isenção dessa cobrança com base no artigo 60 da
Lei 12.249 de 2010, que estipulava o prazo de 1º de janeiro de 2011 a 31 de
dezembro de 2015 para a alíquota zero. Antes disso, o setor também não era
tributado. "Antes desse dispositivo, não havia isenção legal. O que
existia desde a década de 90 era uma 'isenção na prática', concedida pela
Receita Federal", diz o tributarista Samir Choiab.
Ainda assim, para evitar o início da cobrança em 2016, representantes do
setor de turismo fizeram um acordo no fim do ano passado com o então ministro
da Fazenda, Joaquim Levy, para reduzir a alíquota para 6%. Mas com a troca de
Levy por Nelson Barbosa, o acordo não se concretizou. Na semana passada, o
ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, garantiu a manutenção do acordo, mas,
para isso, o governo esbarra em um problema orçamentário: é preciso encontrar
receita extra para substituir uma arrecadação estimada de R$ 2,7 bilhões com
base na alíquota de 25%. Em tempos de ajuste fiscal, essa não vai ser uma
tarefa fácil.
(Fonte
: Jornal O Estado de SP – 25-01-16 – Imagem divulgação)