Apesar
do visível avanço nas obras de ampliação dos três aeroportos privatizados em
2012, a execução dos trabalhos está abaixo do cronograma determinado pelos
contratos, o que já leva a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a fazer uma
advertência informal às concessionárias.
Ninguém
duvida, no governo, que os três consórcios realmente vão concluir a estrutura
física dos novos terminais antes do início da Copa do Mundo. Os contratos
determinam o mês de maio como limite para a entrega. A preocupação da Anac é
que essas estruturas estejam "plenamente operacionais" dentro dos
prazos.
"Não
vamos aceitar só que cortem a fita de inauguração", disse ao Valor o
presidente da agência, Marcelo Guaranys. Segundo ele, isso significa que não
apenas as obras civis dos novos terminais devem estar prontas, mas com
"todos os sistemas testados e comissionados".
Tudo
precisa ser aprovado nos mínimos detalhes: da esteira de devolução de bagagem à
descarga do toalete, do funcionamento do ar-condicionado ao corrimão da escada
rolante. E, mesmo com o cronograma de obras no limite, Guaranys adverte que a
Anac não vai tolerar descumprimento dos contratos.
Os
últimos relatórios de acompanhamento da agência indicam que, a poucas semanas
do prazo acertado, nenhuma das três concessionárias cumpria rigidamente o
andamento previsto dos trabalhos. Em Brasília, onde a Inframérica devia estar
com 87,89% das obras concluídas até o fim de janeiro, a execução havia atingido
o patamar de 78,26%. Isso representa menos do que deveria ter sido alcançado na
virada do ano. Ou seja, a diferença de quase dez pontos percentuais representa
um mês inteiro de trabalhos. Nada impede, porém, que a concessionária recupere
o tempo perdido na reta final das obras.
Em
Viracopos, a evolução prevista no fim de janeiro era de 85,36% dos serviços,
enquanto o nível efetivamente executado tinha sido de 81,90%. Há
"descasamento" também em Guarulhos, o maior aeroporto do país, onde
as obras deveriam ter alcançado 92,09% do total até o fim de fevereiro. Foram
atingidos 87,78%.
Guaranys
comanda pessoalmente, desde a semana passada, uma nova rodada de inspeções nos
três aeroportos. Eles foram leiloados à iniciativa privada em fevereiro de 2012
e tiveram seus contratos de concessão assinados em junho do mesmo ano. As
intervenções de maior porte começaram apenas na virada para 2013, quando as
novas empresas assumiram definitivamente a gestão dos aeroportos, após um
período de transição com a Infraero.
"Temos
pedido que eles não percam o ritmo e até acelerem [as obras]", afirma
Guaranys. Embora todas as concessionárias estejam recebendo um aperto da Anac,
o foco de maior pressão é Viracopos, devido à "complexidade" das
obras. A previsão da Aeroportos Brasil, responsável pelo aeroporto, é que o
novo terminal seja aberto em 11 de maio.
O
detalhe é que as novas estruturas não serão usadas, nem antes nem durante a
Copa do Mundo, pela esmagadora maioria dos passageiros que tiverem Campinas
como origem ou destino: elas só serão usadas pela TAP, única companhia aérea
com voos internacionais em Viracopos, e pelas oito seleções de futebol -
incluindo Portugal e França - que usarão o aeroporto como base de locomoção
pelo país. Azul, TAM e Gol vão migrar para o novo terminal somente depois da
Copa.
Em Guarulhos, onde o terminal 3 será dedicado exclusivamente aos voos
internacionais, haverá migração antes do torneio apenas para 11 das 25 empresas
aéreas com rotas para o exterior. A TAM e a American Airlines estão de fora.
Isso reduzirá o impacto da nova estrutura no alívio dos outros dois terminais
em funcionamento, já saturados, durante a Copa. A inauguração também foi marcada
para o dia 11 de maio.
Em
Brasília, onde a ampliação está sendo feita no terminal já em uso, o Píer Sul
tem estreia prevista para a primeira quinzena de abril. Ele acrescentará dez fingers
(pontes conectoras) e quase 30 mil metros quadrados à área de embarque. A
grande preocupação é com as obras do Píer Norte, do outro lado do aeroporto,
que só ficam prontas no fim de maio.
Mesmo
com o tom de cobrança, Guaranys demonstra confiança nas concessionárias e na
recuperação dos atrasos, afirmando que é "exagero" dizer que a Anac
ligou o sinal amarelo. "A evolução que se tem de semana a semana,
principalmente nesta fase final de acabamento das obras, é
impressionante", comenta o presidente da Anac. "Se vão entregar tudo
e absolutamente conforme as exigências previstas, é isso o que vamos
verificar", acrescenta.
Quanto
à subutilização dos novos terminais, por causa das operações ainda restritas
das empresas aéreas, Guaranys afirma que "as transições devem ser feitas
com muito cuidado" para evitar problemas. Ele ressalta que, além de
ampliação nas áreas de embarque e desembarque, outras melhorias menos visíveis
aos passageiros já foram concluídas pelas concessionárias. Essas reformas incluem
expansões dos pátios de aeronaves, intervenções nas pistas e mais
estacionamentos.
(Fonte
: Jornal Valor Econômico)