terça-feira, 30 de novembro de 2010

AÉREAS PERDEM R$ 5 BI COM TRANSPORTE DE PASSAGEIROS


As companhias aéreas brasileiras perderam R$ 5,3 bilhões nos últimos quatro anos - período em que a demanda doméstica cresceu 58,8% e a internacional recuou 17,2% -, levando-se em conta somente receitas e despesas com a sua atividade principal: o transporte aéreo de passageiros.
O prejuízo bilionário, que não inclui outros serviços como embarque de cargas e operações financeiras, foi apurado no Anuário do Transporte Aéreo de 2009, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Especialistas e executivos do setor afirmam que a conta não fecha por uma conjugação de fatores: crise econômica, dois acidentes aéreos de grandes proporções e guerra de preços nas passagens.
Neste ano, a tendência é que a aviação comercial brasileira permaneça no vermelho. E isso deve acontecer mesmo com a alta de 68,3% nos preços das passagens nos últimos 12 meses até outubro, de acordo com o IPCA.
Conforme o anuário da agência, o valor que o passageiro pagou por quilômetro transportado ("yield", índice de rentabilidade que baliza os reajustes de preços) em 2009 foi de R$ 0,48. Esse montante é o mais baixo desde 2002, início da série histórica dos dados compilados pela Anac. Entre 2002 e 2009, o recuo do "yield" foi de 33,07%.
Nos anos 2000, o setor aéreo só conseguiu ganhar dinheiro com o transporte de passageiros entre 2003 e 2005. O consultor aeronáutico Paulo Bittencourt Sampaio lembra que naquela época o acordo de compartilhamento de voos entre a TAM e a Varig puxou para cima os preços das tarifas. E o impacto desse reajuste, diz ele, perdurou até meados de 2005. No ano seguinte, o setor começou a perder dinheiro novamente, retomando a fase difícil iniciada em 2001 com os atentados terroristas de 11 de Setembro nos Estados Unidos.
Ontem, os passageiros viveram mais um dia de confusão nos aeroportos. Pela terceira vez em quatro meses, enfrentaram atrasos e cancelamentos de voos por causa do excesso de carga horária das tripulações. A Anac suspendeu a venda de passagens domésticas pela TAM com decolagens até sexta-feira. Anteriormente, a agência já havia multado Gol e Webjet, também por problemas causados pela sobrecarga das tripulações.

EM NOVE ANOS, COMPANHIAS AÉREAS SÓ LUCRARAM ENTRE 2003 E 2005

Nos anos 2000, o setor aéreo só ganhou dinheiro com o transporte de passageiros entre 2003 e 2005. O consultor aeronáutico Paulo Bittencourt Sampaio lembra que nessa época o acordo de compartilhamento de voos entre a TAM e a Varig puxou para cima os preços das tarifas. E o impacto desse reajuste, conta ele, perdurou até meados de 2005, pois a parceria foi desfeita em meados de 2004.
A partir de 2006, até 2009, o setor aéreo acumulou prejuízo de R$ 5,3 bilhões em seus voos, sem considerar receitas extras.
"Em 2001 e 2002 o resultado negativo foi influenciado pelo impacto dos atentados terroristas de 11 de setembro. Em meados de 2003, houve recuperação também porque o antigo Departamento de Aviação Civil [órgão que antecedeu a Anac] fez um congelamento de oferta. Com isso, as tarifas também subiram", afirma Sampaio.
Em 2006, quando começou a série de quatro anos consecutivos de prejuízo ao setor, Sampaio destaca a crise da Varig. "Em 2007 e 2008, houve um crescimento acelerado de TAM e Gol. As empresas de médio e pequeno portes também cresceram, pois entraram na competição com tarifas baixas", diz.
O diretor de mercado de capitais da Gol, Rodrigo de Macedo Alves, diz que o período de 2006 a 2009 foi de transformações. "Desde 2006, tivemos os acidentes da Gol e da TAM e o caos aéreo, com a greve de controladores de tráfego aéreo. Nesse período também compramos a Varig e os nossos planos de manter voos de longa duração não deram certo".
Tanto Alves, da Gol quanto Beting, da Azul, dizem que a conta do setor aéreo tem chances de ser superavitária com a busca por mais receita de outros serviços como venda de lanches a bordo e assentos mais confortáveis. Na Gol, serviços extras respondem por 11% do faturamento, mas a ideia é chegar a 15% em 2011.
O anuário da Anac revelou pela primeira vez os resultados da Azul, que iniciou suas atividades em 15 de dezembro de 2008 e já é a terceira maior em fluxo de passageiros. Apesar da receita bruta de R$ 392,5 milhões, ela teve margem de lucro negativa de 38%, evidenciando as dificuldades de se ganhar dinheiro no setor. "De maneira geral, estamos muito satisfeitos com os resultados", diz o diretor de marketing da Azul. O levantamento da Anac mostra que a regional Trip já tem a quarta maior receita, de R$ 449,6 milhões em 2009. Perde apenas para TAM, Gol e Webjet.
"É muito provável que sejamos hoje a terceira maior empresa em termos de receita", diz o diretor de marketing e vendas da Trip, Evaristo Mascarenhas. Segundo ele, o resultado de 2009 foi obtido com a estratégia de ampliar o número de cidades que não eram atendidas. Em 2009, a companhia atendia 75 cidades e quer ampliar esse total para 84 em 2010. O gerente de relações com o investidor da TAM, Jorge Helito, defende que sejam incluídos no anuário da Anac receitas e gastos de outros serviços

(Fonte : Jornal Valor Econômico / Foto Divulgação)