Sempre que possível, Tad Milbourn,
presidente-executivo da Payable, uma start-up de tecnologia de San Francisco,
se hospeda em acomodações oferecidas pelo Airbnb — seja viagem a negócios ou a
lazer. "É muito bom, ficar na casa de alguém de preferência a um
hotel", ele disse. "É superior, do ponto de vista do preço,
experiência e novidade."
Como a Payable ajuda
clientes a administrar pagamentos, Milbourn sente sintonia especial com os
serviços que o Airbnb desenvolveu para os viajantes de negócios, e encoraja os
dois outros funcionários de sua empresa a usar o Airbnb e seus serviços.
Entre esses serviços,
estão a capacidade de rastrear a localização de um funcionário, os seus gastos
e cobrir as despesas com um cartão de crédito empresarial.
Milbourn é um dos
muitos viajantes de negócios que hoje optam pelo Airbnb e outros serviços
on-line de hospedagem, como o HomeAway e o VRBO, em vez de hotéis
convencionais.
Um relatório
divulgado no mês passado pela Concur, uma empresa de gestão de viagens e
despesas, constatou que o número de noites que seus 42 milhões de clientes de
viagens de negócios passam em acomodações desse tipo subiu em mais de 50%,
entre o primeiro trimestre de 2015 e o mesmo período neste ano.
O Airbnb está
cultivando ativamente essa clientela, tendo recentemente fechado acordos com
três grandes empresas de gestão de viagens de negócios nos Estados Unidos:
American Express Global Business Travel, BCD Travel e Carlson Wagonlit Travel.
Nos termos desses
acordos, o Airbnb enviará dados sobre os gastos e itinerários dos viajantes às
empresas de gestão de viagens, que por sua vez transmitirão os dados aos seus
clientes, os empregadores dos viajantes. Assim, os chefes poderão usar esses
dados para monitorar os gastos e deslocamentos de seu pessoal, para
localizá-los em caso de emergência.
SURPRESAS DESAGRADÁVEIS
Mas alguns viajantes de negócios que
recorreram ao Airbnb, especialmente aqueles cujas reservas de acomodações foram
feitas por seus chefes, avisam que más surpresas podem estar à espera, em
alguns casos.
Alexa Pothier,
consultora radicada em Boston que trabalha para uma empresa de software de Palo
Alto, Califórnia, usou o Airbnb ocasionalmente em viagens de férias com
resultados no geral positivos, mas teve experiência diferente em uma viagem de
negócios em 2014 quando se hospedou em um apartamento de um quarto no bairro de
Shoreditch, em Londres.
O anfitrião era dono
de uma pequena empresa, com uma loja no térreo do imóveis, e Pothier precisava
passar pela loja para chegar às escadas que conduziam ao apartamento. Ainda que
a área do apartamento fosse grande, o que segundo Pothier permitia que la
trabalhasse confortavelmente, ela levou um susto com um rato que passou
correndo por cima do sofá logo que chegou.
E a janela do quarto
dava para uma rua barulhenta, o que a forçava a usar tapa-ouvidos para dormir, deixados
pelo anfitrião em uma vasilha ao lado da cama.
Quando Katie
Gilligan, nova-iorquina e antiga gerente de contas de um serviço de reserva de
passagens sediado em Londres, viajou a Londres no ano passado a negócios, seu
chefe a hospedou em dois apartamentos reservados via Airbnb, uma semana em cada
um.
O segundo
apartamento, no bairro de King's Cross, era propriedade de uma mulher que
dividia as acomodações com a hóspede e não permitia que Gilligan usasse água ou
desse descarga no vaso sanitário depois das 20h. A anfitriã também andava pelo
apartamento enrolada em uma toalha, disse Gilligan, contando suas experiências
de vida e sobre alienígenas que vinham ao nosso planeta e usavam sondas nas
pessoas.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Para se qualificar e ficar disponível para
viajantes de negócios, uma acomodação precisa atender a diversos critérios,
entre os quais avaliações positivas de usuários; admissão 24 horas por dia;
acomodações que sejam uma casa ou apartamento inteiros, não compartilhados com
o morador; disponibilidade de wi-fi e de um espaço que permita trabalhar com um
laptop; ferro de passar, secador e outros confortos.
Chip Conley, diretor
mundial de hospitalidade e estratégia do Airbnb, disse que mais de 70 mil
empresas reservaram acomodações por meio do Airbnb for Business, programa
introduzido no ano passado que oferece acomodações e ferramentas de gestão de
viagens de negócios.
Nem todas as
empresas, porém, estão tão dispostas quanto a Payable a comentar sobre seu uso
do Airbnb.
Algumas das empresas
importantes que Conley e outros mencionaram como usuárias dos serviços de
viagens de negócios do Airbnb —entre as quais Facebook e Google— se recusaram a
comentar. E muitas das empresas que se dispuseram a comentar, como o Morgan
Stanley, Salesforce, Twilio e TBWA, tinham relações de negócios de outra ordem
com o Airbnb.
Alguns profissionais
do setor de viagens de negócios reconhecem os potenciais benefícios de usar
serviços como os do Airbnb, mas veem também alguns percalços.
As acomodações de
preço acessível do Airbnb ajudam os participantes de convenções e eventos que
têm orçamentos limitados, afirmou Deborah Sexton, presidente-executiva da
Associação de Administração de Convenções Profissionais. As acomodações em
casas de terceiros podem também representar uma alternativa atraente quando os
hotéis estão lotados.
A depender de sua
localização, uma acomodação do Airbnb pode não ser a opção mais conveniente
para um viajante de negócios, especialmente alguém que esteja participando de
uma conferência ou convenção, disse Sexton.
"Um dos maiores
benefícios de um hotel sede é sua localização central", ela disse.
"Para os participantes que ficam em acomodações do Airbnb em bairros
diferentes, chegar a uma conferência que comece cedo ou participar de uma recepção
noturna que termine tarde pode ser mais difícil."
Sexton e outros
especialistas também apontaram para questões de segurança e responsabilidade
judicial.
Ainda que o Airbnb
ofereça cobertura de seguro aos anfitriões, com proteção primária aos
anfitriões e senhorios do Airbnb em mais de 15 países contra indenizações de
até US$ 1 milhão, a cobertura não se aplica a responsabilidade associada a
casos de assalto e agressão, abuso ou assédio sexual, ou atos de terrorismo.
William Brewer,
advogado de Nova York e Dallas que representa proprietários de hotéis —os quais
costumam estar entre os mais ferozes adversários do Airbnb—, disse que os
proprietários, administradores e franqueados de hotéis tinham a obrigação de
reduzir os riscos previsíveis. Para o viajante, ele disse, a questão é
determinar se os fornecedores de acomodações têm um balanço sólido a ponto de
pagar por qualquer negligência caso problemas ocorram.
"Acredito que
seja por isso que as empresas muitas vezes optam por cadeias de hotelaria
conhecidas quando reservam viagens para seu pessoal", ele acrescentou.
Mas essas
preocupações podem pesar menos, disse Brewer, se um viajante estiver em um
projeto de longa duração e o empregador puder reduzir custos significativamente
ao reservar acomodações via Airbnb. Nesse caso, disse ele, o empregador poderia
considerar útil "investir o esforço necessário a pesquisar para determinar
a situação quanto à responsabilidade legal".
Não está claro,
tampouco, se as batalhas continuadas entre o Airbnb e as prefeituras de Nova
York, San Francisco e outras cidades virão a prejudicar a estratégia da empresa
para as viagens de negócios.
O Airbnb abriu um
processo contra a prefeitura de San Francisco por uma decisão do legislativo
municipal, em junho, de multar a empresa em US$ 1 mil ao dia por anfitrião do
serviço não registrado junto às autoridades.
Isso se seguiu a uma
decisão bipartidária dos legisladores de Nova York, que votaram por multas
pesadas contra alguém que use o Airbnb para alugar um apartamento inteiro por
menos de 30 dias - prática ilegal no Estado desde 2010.
Nick Papas, porta-voz
do Airbnb, disse que a empresa não permitiria que essas disputas prejudicassem
seus esforços para cultivar clientes entre os viajantes de negócios. "Até
o momento, percebemos que os viajantes de negócios e lazer continuam ávidos por
usar o Airbnb em Nova York e San Francisco", ele disse.
Bjorn Hanson,
professor do Centro Tisch de Hospitalidade e Turismo, Universidade de Nova
York, disse que os acordos entre as empresas de gestão de viagens de negócios e
o Airbnb demonstram que elas estão "na prática dando seu endosso" ao
Airbnb.
"Isso muda o debate" que o Airbnb vem travando com os governos de
Nova York e San Francisco, ele disse, e dá "muito mais peso ao lado do
Airbnb".
(Fonte
: New York Times / Imagem divulgação)