segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Airbnb tenta substituir hotel convencional e atrair viajante de negócios



Sempre que possível, Tad Milbourn, presidente-executivo da Payable, uma start-up de tecnologia de San Francisco, se hospeda em acomodações oferecidas pelo Airbnb — seja viagem a negócios ou a lazer. "É muito bom, ficar na casa de alguém de preferência a um hotel", ele disse. "É superior, do ponto de vista do preço, experiência e novidade."
Como a Payable ajuda clientes a administrar pagamentos, Milbourn sente sintonia especial com os serviços que o Airbnb desenvolveu para os viajantes de negócios, e encoraja os dois outros funcionários de sua empresa a usar o Airbnb e seus serviços.
Entre esses serviços, estão a capacidade de rastrear a localização de um funcionário, os seus gastos e cobrir as despesas com um cartão de crédito empresarial.
Milbourn é um dos muitos viajantes de negócios que hoje optam pelo Airbnb e outros serviços on-line de hospedagem, como o HomeAway e o VRBO, em vez de hotéis convencionais.
Um relatório divulgado no mês passado pela Concur, uma empresa de gestão de viagens e despesas, constatou que o número de noites que seus 42 milhões de clientes de viagens de negócios passam em acomodações desse tipo subiu em mais de 50%, entre o primeiro trimestre de 2015 e o mesmo período neste ano.
O Airbnb está cultivando ativamente essa clientela, tendo recentemente fechado acordos com três grandes empresas de gestão de viagens de negócios nos Estados Unidos: American Express Global Business Travel, BCD Travel e Carlson Wagonlit Travel.
Nos termos desses acordos, o Airbnb enviará dados sobre os gastos e itinerários dos viajantes às empresas de gestão de viagens, que por sua vez transmitirão os dados aos seus clientes, os empregadores dos viajantes. Assim, os chefes poderão usar esses dados para monitorar os gastos e deslocamentos de seu pessoal, para localizá-los em caso de emergência.

SURPRESAS DESAGRADÁVEIS

Mas alguns viajantes de negócios que recorreram ao Airbnb, especialmente aqueles cujas reservas de acomodações foram feitas por seus chefes, avisam que más surpresas podem estar à espera, em alguns casos.
Alexa Pothier, consultora radicada em Boston que trabalha para uma empresa de software de Palo Alto, Califórnia, usou o Airbnb ocasionalmente em viagens de férias com resultados no geral positivos, mas teve experiência diferente em uma viagem de negócios em 2014 quando se hospedou em um apartamento de um quarto no bairro de Shoreditch, em Londres.
O anfitrião era dono de uma pequena empresa, com uma loja no térreo do imóveis, e Pothier precisava passar pela loja para chegar às escadas que conduziam ao apartamento. Ainda que a área do apartamento fosse grande, o que segundo Pothier permitia que la trabalhasse confortavelmente, ela levou um susto com um rato que passou correndo por cima do sofá logo que chegou.
E a janela do quarto dava para uma rua barulhenta, o que a forçava a usar tapa-ouvidos para dormir, deixados pelo anfitrião em uma vasilha ao lado da cama.
Quando Katie Gilligan, nova-iorquina e antiga gerente de contas de um serviço de reserva de passagens sediado em Londres, viajou a Londres no ano passado a negócios, seu chefe a hospedou em dois apartamentos reservados via Airbnb, uma semana em cada um.
O segundo apartamento, no bairro de King's Cross, era propriedade de uma mulher que dividia as acomodações com a hóspede e não permitia que Gilligan usasse água ou desse descarga no vaso sanitário depois das 20h. A anfitriã também andava pelo apartamento enrolada em uma toalha, disse Gilligan, contando suas experiências de vida e sobre alienígenas que vinham ao nosso planeta e usavam sondas nas pessoas.

VANTAGENS E DESVANTAGENS

Para se qualificar e ficar disponível para viajantes de negócios, uma acomodação precisa atender a diversos critérios, entre os quais avaliações positivas de usuários; admissão 24 horas por dia; acomodações que sejam uma casa ou apartamento inteiros, não compartilhados com o morador; disponibilidade de wi-fi e de um espaço que permita trabalhar com um laptop; ferro de passar, secador e outros confortos.
Chip Conley, diretor mundial de hospitalidade e estratégia do Airbnb, disse que mais de 70 mil empresas reservaram acomodações por meio do Airbnb for Business, programa introduzido no ano passado que oferece acomodações e ferramentas de gestão de viagens de negócios.
Nem todas as empresas, porém, estão tão dispostas quanto a Payable a comentar sobre seu uso do Airbnb.
Algumas das empresas importantes que Conley e outros mencionaram como usuárias dos serviços de viagens de negócios do Airbnb —entre as quais Facebook e Google— se recusaram a comentar. E muitas das empresas que se dispuseram a comentar, como o Morgan Stanley, Salesforce, Twilio e TBWA, tinham relações de negócios de outra ordem com o Airbnb.
Alguns profissionais do setor de viagens de negócios reconhecem os potenciais benefícios de usar serviços como os do Airbnb, mas veem também alguns percalços.
As acomodações de preço acessível do Airbnb ajudam os participantes de convenções e eventos que têm orçamentos limitados, afirmou Deborah Sexton, presidente-executiva da Associação de Administração de Convenções Profissionais. As acomodações em casas de terceiros podem também representar uma alternativa atraente quando os hotéis estão lotados.
A depender de sua localização, uma acomodação do Airbnb pode não ser a opção mais conveniente para um viajante de negócios, especialmente alguém que esteja participando de uma conferência ou convenção, disse Sexton.
"Um dos maiores benefícios de um hotel sede é sua localização central", ela disse. "Para os participantes que ficam em acomodações do Airbnb em bairros diferentes, chegar a uma conferência que comece cedo ou participar de uma recepção noturna que termine tarde pode ser mais difícil."
Sexton e outros especialistas também apontaram para questões de segurança e responsabilidade judicial.
Ainda que o Airbnb ofereça cobertura de seguro aos anfitriões, com proteção primária aos anfitriões e senhorios do Airbnb em mais de 15 países contra indenizações de até US$ 1 milhão, a cobertura não se aplica a responsabilidade associada a casos de assalto e agressão, abuso ou assédio sexual, ou atos de terrorismo.
William Brewer, advogado de Nova York e Dallas que representa proprietários de hotéis —os quais costumam estar entre os mais ferozes adversários do Airbnb—, disse que os proprietários, administradores e franqueados de hotéis tinham a obrigação de reduzir os riscos previsíveis. Para o viajante, ele disse, a questão é determinar se os fornecedores de acomodações têm um balanço sólido a ponto de pagar por qualquer negligência caso problemas ocorram.
"Acredito que seja por isso que as empresas muitas vezes optam por cadeias de hotelaria conhecidas quando reservam viagens para seu pessoal", ele acrescentou.
Mas essas preocupações podem pesar menos, disse Brewer, se um viajante estiver em um projeto de longa duração e o empregador puder reduzir custos significativamente ao reservar acomodações via Airbnb. Nesse caso, disse ele, o empregador poderia considerar útil "investir o esforço necessário a pesquisar para determinar a situação quanto à responsabilidade legal".
Não está claro, tampouco, se as batalhas continuadas entre o Airbnb e as prefeituras de Nova York, San Francisco e outras cidades virão a prejudicar a estratégia da empresa para as viagens de negócios.
O Airbnb abriu um processo contra a prefeitura de San Francisco por uma decisão do legislativo municipal, em junho, de multar a empresa em US$ 1 mil ao dia por anfitrião do serviço não registrado junto às autoridades.
Isso se seguiu a uma decisão bipartidária dos legisladores de Nova York, que votaram por multas pesadas contra alguém que use o Airbnb para alugar um apartamento inteiro por menos de 30 dias - prática ilegal no Estado desde 2010.
Nick Papas, porta-voz do Airbnb, disse que a empresa não permitiria que essas disputas prejudicassem seus esforços para cultivar clientes entre os viajantes de negócios. "Até o momento, percebemos que os viajantes de negócios e lazer continuam ávidos por usar o Airbnb em Nova York e San Francisco", ele disse.
Bjorn Hanson, professor do Centro Tisch de Hospitalidade e Turismo, Universidade de Nova York, disse que os acordos entre as empresas de gestão de viagens de negócios e o Airbnb demonstram que elas estão "na prática dando seu endosso" ao Airbnb.
"Isso muda o debate" que o Airbnb vem travando com os governos de Nova York e San Francisco, ele disse, e dá "muito mais peso ao lado do Airbnb".


(Fonte : New York Times / Imagem divulgação)

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