segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

FIM DA ERA DAS TARIFAS BARATAS


A história se repete. As empresas aéreas brasileiras não conseguem decolar. O modelo aeroviário adotado pelo país há 10 anos, quando o setor era dominado por Varig, Transbrasil, Vasp e TAM — e que naufragou pouco a pouco, com a saída das três primeiras do mercado —, volta a ocorrer. O setor está concentrado agora nas mãos de TAM, Gol (que absorveu a Webjet), Azul (que se uniu à Trip) e Avianca. Juntas, elas são donas de 99,5% do mercado doméstico, segundo balanço de outubro da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
O resultado dessa concentração reflete no bolso do consumidor. Há o risco de apenas a elite voltar a voar. A guerra de tarifas entre as companhias aéreas, com promoções de até mesmo de R$ 1 por trecho, ficou para trás. Reportagens do Correio na semana passada mostraram que as viagens de avião na alta temporada ligando grandes cidades nos Estados Unidos e na Europa podem ser bem mais baratas do que entre capitais brasileiras. O jornal publicou ainda a recente escalada de preços das passagens aéreas.
Mas o governo e as empresas aéreas decidiram unificar o discurso para justificar os preços abusivos cobrados pelas empresas áreas neste fim de ano. A Secretaria de Aviação Civil (SAC) e as companhias aéreas informaram na semana passada que esse movimento de carestia é normal em todo o mundo em períodos em que a procura por bilhetes aumenta muito.
Entretanto, especialistas no setor discordam. Cláudio Costa Pereira, militar reformado da Força Aérea, com vasta experiência em aviação nacional e internacional, é tachativo ao dizer que a situação atual do setor é pior do que há 10 anos. "Temos menos empresas oferecendo as linhas. Isso é sempre problema, pois traz elevação de preço e diminuição de benefício. Outro dia, paguei R$ 3 por um copo de água em um voo. Antes, tinha café da manhã, almoço, jantar e até ceia de graça", avalia o consultor. Segundo Pereira, o passageiro também está hoje em situação pior. "Quando poderíamos imaginar que a Varig, Vasp e Transbrasil iriam fechar?", questiona.
O engenheiro Lucas Martins viaja com frequência a trabalho. Os destinos mais comuns são São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Curitiba. Ele se assustou com a alta de preços das tarifas aéreas nos últimos tempos. "Não sei se é em função da alta temporada ou pela fusão das companhias aéreas", diz. Os funcionários públicos Raquel Elizabeth de Sousa Santos e Gidião Augusto dos Santos também embarcam com frequência de Belo Horizonte para Brasília. Na viagem feita na semana passada, desembolsaram mais de R$ 1 mil no trecho BH-São Paulo. "Antes, pagava R$ 300 pela ida e volta, ou até mesmo R$ 89", reclama Gidião.

GREVE À VISTA

Os aeroviários (funcionários que trabalham em terra) das cidades de Belo Horizonte, Salvador, Brasília e Galeão entraram em estado de greve. "Podemos começar a greve a qualquer momento, pois já foi aprovada em assembleia", afirma Valter Aguiar, diretor nacional do Sindicato dos Aeroviários. "Tivemos várias reuniões com os patrões e a nossa pauta de reivindicação não foi atendida. Eles não querem oferecer nem o índice tradicionalmente usado em negociações salariais — o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC)", afirma Aguiar. Segundo ele, as empresas ofereceram apenas 0,25% de reposição salarial.
Os trabalhadores demitidos da Webjet e os aeroviários fizeram manifestação na madrugada de sexta-feira no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH. Cerca de 100 pessoas caminharam da rodovia até o saguão do aeroporto reivindicando melhoria nas condições salariais e reclamando contra a demissão dos trabalhadores da Webjet.
A crise vivida pelo segmento da aviação não é privilégio do Brasil. A Pan American World Airways, mais conhecida como Pan Am, foi a principal companhia aérea norte-americana da década de 1930 até o seu colapso em 1991, depois de acidente aéreo em 1988. Em 2011, os altos custos trabalhistas e a elevação do preço dos combustíveis derrubaram as contas da American Airlines, que recorreu à lei de concordata dos Estados Unidos para evitar a falência.
Até então, a American Airlines havia sido a única grande companhia aérea norte-americana a não recorrer à proteção prevista no código de insolvências depois dos ataques terroristas de 2001. Entre as empresas que se beneficiaram da Lei de Falências, estão a Delta Airlines e a Northwest Airlines — que pediram concordata em 2005 e acabaram se fundindo posteriormente —, e a United Airlines, que em 2002 recorreu à mesma estratégia para em 2010 se unir à Continental.

SOB NOVA DIREÇÃO

Quem conhece o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek e passou ontem pelas suas áreas internas reparou no novo padrão visual. Placas de orientação aos usuário e adesivos com a marca Inframerica em lixeiras e portas automáticas, além de tapumes indicando reformas, marcaram o início oficial da nova operação do terminal. De janeiro a dezembro de 2012, a Infraero, que divide a operação com o concessionário privado, estima que 16,2 milhões de passageiros passarão pelo aeroporto.

(Fonte : Jornal Correio Braziliense)

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