A
gastronomia continua crescendo como um dos focos mais atrativos para o turismo
mundial, pelo menos nos países espertos o suficiente para perceber isso.
Sua
importância pode ser medida pela realização de um evento organizado pela ONU
justamente em torno do tema, de 27 a 29 de abril, no Peru: o 2º Fórum Mundial
de Turismo Gastronômico, da Organização Mundial do Turismo.
Realizado
em colaboração com o Basque Culinary Center (a faculdade de gastronomia do País
Basco), o fórum atraiu participantes de 40 países, teve na abertura o
presidente da República do Peru e três dias de participação ativa da ministra
do Turismo.
É, os
peruanos (que em 2014 faturaram US$ 350 milhões só em gastos de turistas com
comida) perceberam, como a ONU, que a gastronomia é um patrimônio que pode
render dividendos líquidos por meio do turismo.
Dividendos
que já estão colhendo outros países como Espanha (13 milhões de visitantes
anuais que declaram ir ao país principalmente pela comida) ou México (que teve
sua cozinha declarada patrimônio cultural da humanidade). Nada mais distante do
que a indigência com que as autoridades -com a omissão complacente de chefs e
restaurateurs - encaram, ou ignoram, a questão no Brasil.
A América
Latina está presenciando um encolhimento na economia, e usar a riqueza
gastronômica como ferramenta para incentivar novas camadas de turismo pode
ajudar a reverter o empobrecimento, opinou o diretor da OMT, Carlos Vogeler.
Discutir formas de otimizar este esforço foi a tônica do encontro.
A ONU é
um organismo decorativo, que não decide nada de relevante (e quando decide,
ninguém cumpre); mas várias de suas incontáveis agências e organismos servem ao
menos como espaço de debate e reflexão. Este fórum de turismo gastronômico não
foge muito à sina de sua vetusta organização-mãe: reuniu uma mescla estranha de
entidades que iam de velhas organizações fossilizadas a pesquisadores
acadêmicos.
Mas, se
nada de muito concreto foi deliberado, o documento de conclusão estimula
algumas diretrizes que valem no mínimo para despertar países inertes como o
Brasil: o turismo gastronômico deve respeitar os produtos tradicionais e suas
raízes históricas, apoiar-se na diversidade cultural e na biodiversidade e
incluir elementos de transparência e proteção do consumidor.
Com a
rara exceção de um ministro do Turismo (dos muitos que se sucederam à
velocidade da luz, segundo conveniências fisiológicas), Vinicius Lages, e um
presidente da Embratur de curta duração, Flávio Dino, nossas autoridades seguem
ignorando o potencial da gastronomia brasileira.
E
enquanto alguns poucos chefs tentam, com dificuldade, se articular, a maioria
dos chefs renomados, tragados por vaidade e marketing pessoal, se recusa a
empenhar seu prestígio num esforço coletivo de promoção da comida e dos
cozinheiros do país.
E entre a
incompetência de uns e a omissão de outros o Brasil vai perdendo este barco
-talvez por isso, entre depoimentos de tantos países que progridem nessa área,
no fórum de Lima não se ouviu relato algum de brasileiros.
(Fonte : Jornal Folha de SP / Imagem
divulgação)
Nenhum comentário:
Postar um comentário