quinta-feira, 19 de maio de 2016

Brasil precisa deixar a indigência e explorar melhor a gastronomia




A gastronomia continua crescendo como um dos focos mais atrativos para o turismo mundial, pelo menos nos países espertos o suficiente para perceber isso.

Sua importância pode ser medida pela realização de um evento organizado pela ONU justamente em torno do tema, de 27 a 29 de abril, no Peru: o 2º Fórum Mundial de Turismo Gastronômico, da Organização Mundial do Turismo.

Realizado em colaboração com o Basque Culinary Center (a faculdade de gastronomia do País Basco), o fórum atraiu participantes de 40 países, teve na abertura o presidente da República do Peru e três dias de participação ativa da ministra do Turismo.

É, os peruanos (que em 2014 faturaram US$ 350 milhões só em gastos de turistas com comida) perceberam, como a ONU, que a gastronomia é um patrimônio que pode render dividendos líquidos por meio do turismo.

Dividendos que já estão colhendo outros países como Espanha (13 milhões de visitantes anuais que declaram ir ao país principalmente pela comida) ou México (que teve sua cozinha declarada patrimônio cultural da humanidade). Nada mais distante do que a indigência com que as autoridades -com a omissão complacente de chefs e restaurateurs - encaram, ou ignoram, a questão no Brasil.

A América Latina está presenciando um encolhimento na economia, e usar a riqueza gastronômica como ferramenta para incentivar novas camadas de turismo pode ajudar a reverter o empobrecimento, opinou o diretor da OMT, Carlos Vogeler. Discutir formas de otimizar este esforço foi a tônica do encontro.

A ONU é um organismo decorativo, que não decide nada de relevante (e quando decide, ninguém cumpre); mas várias de suas incontáveis agências e organismos servem ao menos como espaço de debate e reflexão. Este fórum de turismo gastronômico não foge muito à sina de sua vetusta organização-mãe: reuniu uma mescla estranha de entidades que iam de velhas organizações fossilizadas a pesquisadores acadêmicos.

Mas, se nada de muito concreto foi deliberado, o documento de conclusão estimula algumas diretrizes que valem no mínimo para despertar países inertes como o Brasil: o turismo gastronômico deve respeitar os produtos tradicionais e suas raízes históricas, apoiar-se na diversidade cultural e na biodiversidade e incluir elementos de transparência e proteção do consumidor.

Com a rara exceção de um ministro do Turismo (dos muitos que se sucederam à velocidade da luz, segundo conveniências fisiológicas), Vinicius Lages, e um presidente da Embratur de curta duração, Flávio Dino, nossas autoridades seguem ignorando o potencial da gastronomia brasileira.

E enquanto alguns poucos chefs tentam, com dificuldade, se articular, a maioria dos chefs renomados, tragados por vaidade e marketing pessoal, se recusa a empenhar seu prestígio num esforço coletivo de promoção da comida e dos cozinheiros do país.

E entre a incompetência de uns e a omissão de outros o Brasil vai perdendo este barco -talvez por isso, entre depoimentos de tantos países que progridem nessa área, no fórum de Lima não se ouviu relato algum de brasileiros.



(Fonte : Jornal Folha de SP / Imagem divulgação)

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