quinta-feira, 9 de junho de 2011

INVESTIMENTO DE IMPACTO

Uma nova classe de ativos começa a ganhar corpo no portfólio de empreendedores brasileiros. Batizado de "investimento de impacto", esse nicho alternativo, apesar de incipiente, surgiu no exterior há cerca de uma década com o propósito de injetar recursos em empresas ou projetos inovadores, com alto potencial de crescimento e consequente retorno financeiro, mas, sobretudo, que provoquem impactos claramente positivos em termos sociais e ambientais.
Não se trata de investir em companhias que adotam práticas paralelas para minimizar impactos negativos de seu negócio - um conceito mais ligado à sustentabilidade -, mas em modelos cuja influência positiva no meio esteja no DNA da empresa, explica Paulo Bellotti, sócio da Pragma Patrimônio, responsável por estruturar essa nova prática de investimento na gestora. A iniciativa é uma resposta à demanda dos próprios clientes e deve proporcionar aportes de R$ 100 milhões nos próximos dois a três anos, afirma.
A Pragma, fundada em 1998 por José Guimarães Monforte, é um "multifamily office" conhecido por administrar fortunas e assessorar grupos de empresários conhecidos, como os fundadores da Natura Cosméticos. A nova área, que foi batizada de Nova Economia, será uma ramificação do negócio de gestão de investimentos em participações, nos moldes do "venture capital" (capital de risco).
Um estudo internacional publicado no fim do ano passado pelo J.P. Morgan Global Research em parceria com o The Rockefeller Foundation, intitulado de "Investimentos de impacto, uma classe emergente de ativos", identificou um mercado potencial entre US$ 400 bilhões e US$ 1 trilhão nos próximos dez anos, com oportunidades de ganhos entre US$ 183 bilhões e US$ 667 bilhões. Para os autores da análise, essa nova classe de ativos deve se revelar uma das principais mudanças no setor de fundos nos próximos anos.
A vocação para o investimento de impacto na Pragma não é de agora, conta Bellotti, engenheiro de formação com passagens por empresas como DuPont e Poliolefinas, hoje Braskem, e pelo banco Rabobank. Segundo ele, a gestora já tinha experimentado a ideia com investimentos como o realizado em 2009 na Dobrevê Energia (Desa), dos segmentos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e parques de energia eólica. "O investimento na Desa foi o embrião da nova área", diz.
Individualmente, investidores clientes da Pragma também já tinham enveredado pelo mesmo caminho, mas, segundo o executivo, faltava uma estrutura formal. Reunindo todas essas iniciativas, Bellotti estima que foram aplicados cerca de R$ 100 milhões nesse novo tema.
Os investimentos de impacto, segundo ele, devem abranger cinco principais nichos. O primeiro deles explora o conceito da base da pirâmide, ou seja, de investimentos voltados para as classes C e D, nas áreas de educação, habitação, telecomunicações e serviços financeiros, como o microcrédito. Entre as demais áreas de interesse, destacam-se: florestas nativas e plantadas, água e lixo, agricultura sustentável e energia renovável.
"Essa é uma tentativa de construir um capitalismo que leve em consideração os limites da terra e melhorias socioeconômicas." O executivo destaca que, assim como num "venture capital", os investidores se tornam sócios das empresas investidas, permanecendo entre quatro e sete anos no negócio. O retorno esperado é duas a quatro vezes o aplicado.

(Fonte : Jornal Valor Econômico)

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