quinta-feira, 9 de junho de 2011

CACHACEIROS

Degustador ensina que, para ser bom, o destilado brasileiro só precisa ter cheiro de cana

Na ficha de avaliação, opções como "inhaca" e "na falta de tu, vai tu mesmo".
Virando a página, novas opções. De categorias mais ortodoxas como "seca" e "densa" a classificações mais livres: "parece remédio" e "engoli um gato".
A primeira ficha refere-se ao aroma. A segunda, ao sabor. Ali à frente, o professor brada: "A boca do degustador é insubstituível".
Num curso de formação básica de degustador de cachaças, no Rio, o "cachaçólogo" Marcelo Câmara, degustador profissional e consultor de alambiques pelo país, é radical na defesa da bebida.
"Tem muito conhecedor de uísque e de vinho falando de cachaça. Gente que nunca entrou num engenho, que não toma aguardente", diz.
"No restaurante, o maître não sabe indicar uma cachaça. Você pede uma caipirinha e perguntam se é de vodca ou de saquê. São raros os que têm carta de cachaça."
"CACHACIER"

A ideia, então, era fazer dos alunos razoáveis entendedores do assunto.
Na sala, em um hotel de Ipanema, mais cinco candidatos a "cachacier".
Causou estranheza uma recomendação: a de evitar desodorante, para reduzir a interferência no olfato.
Mas, até que a bebericação começasse, muita teoria pela frente. Câmara falou e falou. Em cinco minutos, disse a palavra cachaça 36 vezes.
O curso passa pela história desde o primeiro alambique, em São Vicente (São Paulo), no século 16. Por termos complexos das propriedades químicas. Pelas classificações da cachaça, de nova fresca -recém-saída da destilaria- a reserva especial -quando são curtidas por mais de três anos.
Às 16h06, começou, enfim, a bebedeira. "Cachaça não tem buquê. Cachaça só tem um cheiro. De cana!"
Em pouco mais de uma hora, cinco doses de pinga. Ou "mé". Ou "amorosa". Sinônimos de uma enorme lista distribuída aos alunos.
Não dá para se tornar um especialista. Mas dá para sair entendendo mais do assunto. E para ficar tonto.
Faltou um tira-gosto. Ou "bota-gosto", como o professor pede, com razão, que sejam chamados salaminhos, bolinhos e azeitonas.

A MELHOR AGUARDENTE
Dicas do "cachacier" Marcelo Câmara (ilhaverde.net)

PREÇO
Despreze cachaças em embalagens elaboradas, luxuosas ou caras demais

ALAMBIQUE
Prefira uma cachaça artesanal, de alambique. Não se lê a palavra "artesanal" no rótulo (indicação proibida por lei), mas expressões como "de alambique" ou "fabricada por"
CAIPIRINHA
A verdadeira cachaça é a nova, isto é, "branca", incolor e com teor alcoólico de 38% a 48%. É a única adequada para preparar caipirinha e batidas

ENVELHECIDA
Não compre cachaça com mais de quatro anos de envelhecimento, pois estará demasiadamente amadeirada

ALQUIMIA
Não compre "blends", misturas de diversas cachaças ou cachaças envelhecidas em várias madeiras. Isso é feito por quem não sabe fabricar uma cachaça de excelência

AROMA
Em casa, ao abrir a garrafa, aspire a cachaça ainda no gargalo: ela deverá ter cheiro de cana. Se não tiver cheiro do bagaço, não é cachaça boa

COPINHO AMERICANO
O copo deve ser uma miniatura para que o aroma e o sabor sejam retidos

TIRA-GOSTO
Os melhores acompanhamentos para a cachaça são as carnes e frutos do mar, fritos, assados ou defumados, e frutas ácidas
CACHAÇA PODE DEIXAR DE SER "RUM" NOS EUA

Brasil e EUA negociam uma troca para que a cachaça ganhe espaço lá fora. Se reconhecer o Jack Daniel's como uísque (hoje entra como uísque de milho), os EUA deixam de ver a cachaça como rum, rótulos dos destilados de cana.
(Fonte e imagem : Jornal Folha de S. Paulo)

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