quinta-feira, 5 de maio de 2011

FEIRA MOSTROU DIVERSIDADE E ALGUMAS BOAS NOVIDADES



A Expovinis 2011, maior feira internacional de vinhos da América Latina - sempre é bom lembrar que, a despeito da posição privilegiada que nossos vizinhos do cone sul ocupam no cenário mundial, os eventos que realizam se restringem à produção local, enquanto o Brasil tem um mercado aberto e diversificado -, cuja 15ª edição ocorreu semana passada em São Paulo, pode ser considerada a melhor até hoje realizada. O clima ajudou, o pavilhão do Expo Center Norte comprovou mais uma vez que tem infraestrutura para proporcionar conforto ao público (mais de 17 mil pessoas) e aos expositores (recorde de 350 estandes), e a Exponor, que é a organizadora do salão, demonstrou que se preocupa em oferecer cada vez mais condições para que o evento continue sempre em evolução.
Para tanto, no que cabe às novidades colocadas em prática este ano pela organização, vale, num primeiro momento, destacar a receptividade que teve a Enoteca, que permitiu aos visitantes adquirir e levar para casa vinhos expostos na feira por um preço especial ao mesmo tempo em que abriu para o expositor um canal direto de venda. É bem verdade que nem todos os vinhos disponíveis para degustação nos estandes estavam à venda no local, o que seria impraticável, tendo em vista que resultaria num número excessivamente grande de rótulos, impossível de ser gerenciado - cabia ao expositor escolher (livremente) três ou quatro vinhos de seu portfólio. Mais importante do que o intenso movimento que notei no belo espaço montado foi a declaração de Nelson Aparecido, um dos profissionais com maior conhecimento e reputação no comércio de vinhos de São Paulo - e sócio da Venews (http://www.venewsbebidas.com.br/ ), multimarcas contratada para gerenciar a loja da feira -, que se mostrou entusiasmado com a experiência. Não só as vendas foram boas, como a visibilidade e a aceitação da proposta foram bastante positivas.
Inovação importante deste ano foi, sem dúvida, a disposição de abrir quatro salas de palestras e degustação, o dobro do que havia nas edições anteriores. Isso permitiu oferecer ao publico, consumidores e profissionais, um número grande de opções e temas, atendendo interesses específicos de cada categoria. Uma das salas foi ocupada integralmente pelo Senac, que colocou professores de seus cursos e sommeliers que trabalham em suas unidades para desenvolver temas abrangentes e informativos, sobretudo para quem já trabalha no setor ou pretende entrar nele. Casa cheia é sinal de que existem pretendentes e o objetivo foi cumprido. Entre outros assuntos abordados estavam: empregabilidade e gestão de pessoas no mundo do vinho; oportunidades e desafios no mercado do vinho na atualidade; e explanações e provas sobre regiões e vinhos brasileiros.
O crescimento do mercado de vinhos no Brasil é uma realidade e há falta de gente capacitada para assumir ou completar postos carentes. Isso, acrescido ao lado glamoroso desse segmento, está atraindo gente de outras áreas, que buscam especialização no assunto, o que explica a abertura de diversos cursos com tal propósito. Campos de atuação não faltam: marketing, finanças, setor operacional, logística e suprimentos, controle de estoque, tramitação e contatos com produtores de fora, treinamento e consultoria em vendas são alguns deles. Nessas funções há possíveis frentes de trabalho, caso de multinacionais, importadoras, vinícolas nacionais e supermercados.
Duas salas foram disponibilizadas aos expositores, que podiam escolher, por ordem de chegada, algum dos quatro horários em cada um dos três dias da feira, o que significa 24 palestras a mais para os visitantes. Os produtores brasileiros marcaram presença com quatro apresentações, entre as quais a da Aprovale, Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos, apresentando as regras e os vinhos que terão a nova certificação D.O. Vale dos Vinhedos, a primeira Denominação de Origem brasileira - é um degrau superior à IP, a Indicação de Procedência obtida até então. Quem mais aproveitou os espaços oferecidos foram os portugueses, com temas variados: provas de vinhos das regiões do Dão, Beira Interior e Lisboa, as três conduzidas pelo influente jornalista Luis Lopes, diretor da "Revista de Vinhos de Portugal"; e duas apresentações comandadas por Manuel Moreira, premiado sommelier da "terrinha" que já representou duas vezes seu país no campeonato mundial da categoria.
Coube a mim, na honrosa condição de membro da Confraria dos Enófilos do Alentejo, comentar os nove vinhos escolhidos pela comissão vitivinícola da região, em conjunto com a Essência do Vinho, grupo com forte posição na produção de eventos enogastronômicos e editores da revista portuguesa "Wine". A seleção de rótulos contou com dois belos brancos, o Olho de Mocho Reserva 2008, da Herdade do Rocim (importado pela Premium, www.premiumwines.com.br ), produzido 100% com a melhor casta alentejana do gênero, a antão vaz, e o Reserva do Comendador 2009, da Adega Mayor, mescla (ou lote, como dizem os portugueses) da mesma antão vaz, roupeiro e arinto, variedade que aporta acidez (sem importador ainda no Brasil). Os sete tintos, com estilos e faixas de preços variados - Alente Premium 2008, Enoforum; Encostas de Estremoz Reserva 2007; Conde D'Ervideira Reserva 2009 (World Wine, http://www.worldwine.com.br/ ); Garrafeira dos Sócios 2004, da Cooperativa (modelo) de Reguengos de Monsaraz (Casa Flora/Porto a Porto, http://www.casaflora.com.br/ e http://www.portoaporto.com.br/ ); Couteiro-Mor Grande Escolha 2007 (Adega Alentejana, http://www.alentejana.com.br/ ); Herdade dos Grous "Moon Harvested" 2009 (Épice, http://www.epice.com.br/ ); e o Esporão Private Selection 2007 (Qualimpor, http://www.qualimpor.com.br/ ) - compuseram um painel suficientemente amplo para demonstrar porque os vinhos alentejanos têm tanta aceitação, seja em Portugal, onde são os rótulos mais vendidos, seja fora do país.
Entre as importadoras nacionais, a Enoteca Fasano, presente na Expovinis pela primeira vez, não deixou por menos, ocupando três horários e trazendo o seu sommelier, o consagrado Manoel Beato.
Todas essas degustações tiveram grande aceitação - o número de presentes em cada uma delas reflete isso. E foram - até por terem sido idealizadas com antecedência e terem a consequente divulgação- as palestras constantes do programa oficial da feira que receberam mais atenção e transcorreram na sala Premium. Três delas, já tradicionais, têm a ver com o Top Ten, concurso que se repete há seis anos e tem por objetivo premiar o melhor vinho dentro de cada uma das dez categorias estabelecidas previamente pela comissão técnica do evento. A primeira contempla exatamente os dez eleitos - o resultado e os critérios foram descritos na coluna da semana passada -, ficando as duas outras para os dez melhores rótulos nacionais, entre espumantes, brancos e tintos, e os que melhor se saíram nas categorias tintos do Novo Mundo e tintos do Velho Mundo, os quatro mais bem classificados de cada uma. Para comandar as duas últimas foi convidado o português João Pires, master sommelier, grau maior almejado para quem trabalha com a arte de servir vinhos em restaurantes. Ele vive em Londres há sete anos, comandando atualmente a área de vinhos do restaurante Dinner, do estrelado chef Heston Blumenthal, que fica no Mandarin Oriental Hotel. Conforme comentado na coluna da semana passada, João Pires deu uma brilhante aula magna para profissionais brasileiros do setor.

Os vinhos que alcançaram posição em suas categorias para participar das duas degustações envolvendo os melhores do Top Ten foram:

Na de tintos do Novo e Velho Mundo, respectivamente em ordem decrescente na classificação, foram Perez Cruz Quelen Special Selection 2006, Chile (Abflug, http://www.abflug.com.br/ ), Spice Route Mourvèdre 2008, África do Sul (Ravin, http://www.ravin.com.br/ ), Undurraga T.H. Pinot Noir 2009, Chile (Mr Man, http://www.mrman.com.br/ ), e Jim Barry The Mcrae Wood Shiraz 2005, Australia (KMM, http://www.australiacom.net/ ); e Mouchão Colheitas Antigas 2000, Alentejo (Adega Alentejana), Bodegas Portia Prima 2007, Priorato, Bodegas Portia Ebeia Roble 2009, Ribera del Duero, Burgos Porta Mas Sinén Coster 2006, Ribera del Duero (os três ainda sem importador), e Roquette & Cazes 2007, Douro (Qualimpor).
Para João Pires, os destaques foram o Spice Route, "bom conjunto e bem definido", o Undurraga "um belo exemplar de pinot noir do Novo Mundo", Mouchão, "referência em alicante bouschet e justa estrela do Alentejo", Portia Prima, "intrigante, como são os bons tintos do Priorato", o Porta Sinén Coster, "sofisticado", e, por fim, o Roquette & Cazes, "que tem mais alma portuguesa do que toque francês", referindo-se à aparentemente pouca interferência do francês Jean-Michel Cazes neste vinho que tem em parceria com a família Roquette, proprietária da Quinta do Crasto.

A prova envolvendo os dez melhores nacionais, constou, como previamente definido, de quatro tintos, pela ordem decrescente na classificação, Miolo Merlot Terroir 2008, Viapiana Via 1986 Marselan 2009, Santo Emílio Leopoldo Cabernet Sauvignon Merlot 2007 e Pizzato DNA 99 2005; de brancos: Villa Francioni Sauvignon Blanc 2009 e Monte Agudo Terroir De Altitude Chardonnay 2008; e quatro espumantes: Peterlongo Elegance Champenoise Brut, Aurora Chardonnay Método Charmat, Valmarino & Churchill Champenoise 2009 e Casa Valduga 130 Brut.
Curiosamente, João Pires começou a prova com os tintos, passando depois para os brancos e finalizando com os quatro espumantes. Depois de comentar - com muita propriedade, objetividade e conhecimento - um por um à medida em que os ia degustando, o master sommelier resumiu sua visão sobre os vinhos nacionais: o Brasil tem realmente grande vocação para espumantes, saindo daqui com boa impressão e achando que deveríamos criar uma imagem em torno deles, como têm as cavas, os espumantes espanhóis - o Valduga 130 é o melhor entre todos os que provara durante sua estadia por aqui e, para ele, tem nível internacional. Os brancos de uma forma geral o decepcionaram - "o Monte Agudo Chardonnay tem muita madeira, pouca estrutura e frescor" - e disse que os tintos têm predicados, podem evoluir, mas notou muita heterogeneidade. Dessa degustação seus únicos destaques foram o Miolo Terroir e o Pizzato DNA.
Argentina, França e Chile foram as estrelas das três degustações premium na Expovinis 2011. A primeira teve como tema central a torrontés, casta que os argentinos estão se esforçando para promover, na esteira do sucesso internacional que a malbec dispõe na atualidade. Quem conduziu a prova, que contou com vinhos de várias regiões, foi a renomada Susana Balbo, atual vice-presidente da Wines of Argentina. Os franceses, por sua vez, foram representados por um de seus nomes mais celebrados, os Rothschild, no caso, com vários vinhos pertencentes ao Grupo Baron Philippe de Rothschild, que tem em seu portfólio nada mais nada menos que o Château Mouton Rothschild. E esse ícone estava presente, da ótima safra de 1996, finalizando em alto estilo a série de cinco rótulos iniciada com dois vinhos em que o grupo atua como "négociant", o Mouton Cadet 2008, talvez o vinho francês mais vendido no mundo, e o Baron Nathanael 2007. Dois châteaux bem cotados, ambos grands crus classés, completaram dignamente a bateria, o D'Armailhac 2003 e o Clerc Milon 2001. A iniciativa de propor essa degustação foi da DeVinum, importadora que é de propriedade das vinícolas Miguel Torres e Lagarde e representa no Brasil a gama Rothschild, além de distribuir seus próprios vinhos.
Fechando - pode ser piegas mas não deixa de ser verdadeiro - com chave de ouro o ciclo de palestras da 15ª edição da Expovinis, coube à Wines of Chile oferecer uma degustação que poderia ser considerada irrepetível, já que boa parte dos vinhos está esgotada e veio da adega particular das próprias vinícolas. Ainda que assim não fosse, o padrão e o critério dos vinhos selecionados fizeram com que a ocasião fosse festejada. Os rótulos demonstram com propriedade a multiplicidade de terroirs que o Chile possui e, promovê-los, tem por objetivo atingir as ambiciosas metas estabelecidas pelo Plano Estratégico 2020, estabelecido pela Wines Of Chile, organização que congrega cerca de 100 vinícolas que representam 85% das garrafas exportadas. Mais do que dobrar as exportações, o grande desafio é fazer com que os vinhos chilenos deixem de ser conhecidos apenas pelo bom preço e mostrar que o país tem gamas média e alta para concorrer nos disputados mercados internacionais.
A série foi composta pelos seguintes vinhos e eles vêm acompanhados de suas premiações ou posições conquistadas em publicações com credibilidade (nas safras em que conquistaram o reconhecimento): Ribera del Lago Laberinto Sauvignon Blanc 2007, Colbún, Maule, representado pela Casa do Porto (Descorchados 2010: o melhor Sauvignon Blanc do Chile; Descorchados América do Sul 2010 - 34º no Desafio 100 melhores Chile e Argentina); Morandé Edición Limitada Carignan 2006, Loncomilla, Maule, importado pela Carvalhido (Descorchados Chile 2010: o melhor "otras cepas tintas"; Descorchados América do Sul 2009 - 45º no Desafio 100 melhores Chile e Argentina); Maycas de Limarí: Reserva Especial Syrah 2007, Limarí, Enoteca Fasano (Descorchados América do Sul 2010 - 3º no Desafio 100 melhores Chile e Argentina; Descorchados 2010: o melhor syrah do Chile); Kingston: Bayo Oscuro Syrah 2006, Casablanca, Mercovino (Descorchados America do Sul 2009 - O melhor vinho no Desafio 100 melhores Chile e Argentina); Casa Silva: Microterroir De Los Lingues 2006 Carmenère, Colchagua, Vinhos do Mundo (Medalha de Ouro no último Wines of Chile Awards; Descorchados Chile 2011 - O melhor Carmenère do Chile); Aquitania: Lazuli 2005, Alto Maipo, Zahil (Descorchados 2010: o 2º melhor cabernet sauvignon do Chile; Descorchados América do Sul 2010 - 11º no Desafio 100 melhores Chile e Argentina); Calyptra Zahir Cabernet Sauvignon 2007, Cachapoal (Descorchados Chile 2011 - O melhor cabernet sauvignon do Chile); Seña 2007, Aconcagua, Expand (Descorchados Chile 2011 - 3º melhor em pontuação entre "mezclas tintas"); Concha y Toro: Don Melchor 2006, VCT; e Almaviva 2008, Alto Maipo. Impossível destacar algum em particular.

(Fonte : Jornal Valor Econômico / imagem divulgaçao)

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