Essa
proporção é a mais alta do passado recente e indica o reforço de uma estratégia
das companhias aéreas: o uso intensivo de Congonhas como um dos grandes centros
de distribuição de voos (hubs) do país, apesar de suas limitações operacionais.
Com
isso, o aeroporto se distancia do uso prioritário para voos "ponto a
ponto", como as ligações da ponte aérea São Paulo-Rio e São
Paulo-Brasília. A tendência também representa o inverso do plano adotado
temporariamente pelo governo em 2007, logo após a tragédia com o avião da TAM
que matou 199 pessoas, de proibir conexões no aeroporto. Antes do acidente,
cerca de 20% dos passageiros usavam Congonhas como parada intermediária.
A
aviação civil era coordenada à época pelo Ministério da Defesa, então sob
comando do ministro Nelson Jobim, que adotou outras duas medidas com o objetivo
fortalecer a utilização do aeroporto para voos "ponto a ponto": um
limite de 1.500 km para os destinos atendidos por Congonhas e a redução da
quantidade máxima de pousos ou decolagens permitidos por hora em suas pistas.
Hoje
o uso de Congonhas como "hub" não constitui nenhuma irregularidade,
mas chama a atenção o fato de que o índice de conexões já supera, com folga, a
proporção observada quando se tomou a medida restritiva. Para entender esse
movimento, a reportagem do Valor
entrou em contato com funcionários do governo, representantes de empresas
aéreas e estudiosos do setor.
De
acordo com um executivo de uma das líderes de mercado, que falou na condição de
anonimato, o prejuízo bilionário das companhias nos últimos anos detonou um
processo de reorganização e enxugamento das malhas aéreas. Houve redução de
frequências em rotas com índices de ocupação mais baixos, como ligações diretas
entre cidades fora da região metropolitana de São Paulo. Com isso, Congonhas
viu um reforço no papel de "juntar" passageiros de outras
localidades, a fim de prosseguir para o mesmo destino. Mas na prática, como
admite esse executivo, há menos opções de voos diretos.
"A
concentração de voos em hubs é uma tendência no setor aéreo e qualquer
companhia que possa vai querer pousar em São Paulo", afirma Jorge Leal
Medeiros, professor da Escola Politécnica da USP. "Captura-se uma receita
marginal com um custo marginal praticamente nulo."
Uma
fonte do governo complementa o raciocínio do professor e lembra que uma das
regras básicas em vigência no setor é a liberdade para que as empresas possam
usar, como quiserem, a infraestrutura aeroportuária disponível.
Em
um cenário de ajustes das companhias para buscar maior rentabilidade às suas
operações, não há nenhuma preocupação do governo em restringir as conexões em
Congonhas, segundo essa autoridade. "Se é o que tem sido economicamente
mais viável, para o passageiro e para as companhias, não vemos problema
nisso", afirma a fonte, que acompanha de perto o assunto.
No ano passado, a movimentação em Congonhas atingiu 17,1 milhões de passageiros, maior volume desde os 18,4 milhões verificados em 2006. No ano seguinte, as restrições diminuíram essa movimentação em quase 20% - para 15,2 milhões. Além de ter liberado as conexões, o governo trabalha agora na revisão do limite máximo de pousos e decolagens (slots), com a perspectiva de ampliá-los em até quatro movimentos por hora, incluindo a liberação de mais voos de jatos executivos na pista auxiliar.
No ano passado, a movimentação em Congonhas atingiu 17,1 milhões de passageiros, maior volume desde os 18,4 milhões verificados em 2006. No ano seguinte, as restrições diminuíram essa movimentação em quase 20% - para 15,2 milhões. Além de ter liberado as conexões, o governo trabalha agora na revisão do limite máximo de pousos e decolagens (slots), com a perspectiva de ampliá-los em até quatro movimentos por hora, incluindo a liberação de mais voos de jatos executivos na pista auxiliar.
O
assunto continua na pauta do governo e está praticamente definido, mas não deve
haver mudanças até a Copa do Mundo, que começa em junho. Para o megaevento
esportivo, caiu temporariamente - até julho - a resolução que impedia voos
saindo de Congonhas para distâncias acima de 1.500 km. Reservadamente, algumas
companhias têm a expectativa de que a limitação caia de vez após a Copa,
viabilizando voos diretos de Congonhas para capitais do Nordeste como Recife e
Fortaleza.
O
Valor apurou que, embora isso ainda
não seja objeto de discussões internas no governo, o aumento das distâncias
máximas é uma possibilidade a ser contemplada pelas autoridades caso a
experiência durante o torneio seja positiva. A única exigência da qual o
governo não abre mão, por razões de segurança, é um limite mais rígido para o
peso das aeronaves que pousam ou decolam de Congonhas.
(Fonte
: Jornal Valor Econômico / imagem divulgação)
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