sexta-feira, 23 de novembro de 2012

NA TEMPORADA DE CRUZEIROS, BRASIL PERDE PARA VIZINHOS


O Brasil perde mercado para vizinhos na temporada de cruzeiros marítimos 2012/2013, após crescer nos últimos dez anos a uma média de 30% de forma orgânica e alcançar o 5º lugar no segmento em âmbito mundial. "Temos uma queda de 15% no movimento, ao mesmo tempo, Buenos Aires teve crescimento de 15% contando apenas as empresa associadas à Abremar [Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos], e 27% ao todo", diz Ricardo Amaral, presidente da associação.
Os 15 navios que frequentarão regularmente a costa nacional até abril do ano que vem devem receber 762 mil turistas em 280 roteiros de viagens, ante 894 mil na temporada 2011/2012. Serão cinco meses (dois a menos do que a temporada anterior) e com cruzeiros mais longos, geralmente de sete dias. "Tivemos de aumentar o tempo dos cruzeiros para reduzir impactos de gastos", diz Amaral.
Segundo ele, a falta de infraestrutura e os altos custos portuários e tributários, como a incidência de PIS/Cofins no abastecimento do combustível, estão pesando no custo das empresas. Aos poucos, os armadores têm buscado outras rotas, como Argentina e Caribe.
A MSC Cruzeiros cita entre os altos custos o serviço de praticagem (auxílio aos comandantes nas manobras nos portos).
A empresa pagará US$ 100 mil à praticagem cada vez que o "MSC Fantasia" entrar e sair do porto de Salvador (BA), diz Adrian Ursilli, diretor de marketing e comercial para a MSC Cruzeiros no Brasil. O navio é o maior da temporada, com 140 mil toneladas. Em Santos, o serviço para a mesma embarcação custará US$ 35 mil, afirma ele. Em Gênova (Itália) são US$ 9 mil para entrar e sair com o transatlântico do porto, compara. "A tendência da companhia é diminuir os itinerários com destino a Salvador nos próximos anos", adianta.
O Conselho Nacional de Praticagem (Conapra) não confirma o número de Salvador. "Não há como se falar em valores até que a negociação esteja efetivamente encerrada", disse em nota.
A Praticagem de Santos também não sustenta o dado apresentado. Diz que os preços praticados com a MSC Cruzeiros foram estabelecidos por acordo comercial e, portanto, são sigilosos. Afirma, contudo, que, na média, o preço da praticagem é de cerca de R$ 10 por passageiro de transatlânticos no porto de Santos. "Menos do que se cobra, por exemplo, por uma lata de refrigerante a bordo (US$ 6), ou pelo transporte da bagagem (US$ 19) ou uma ida à enfermaria do navio (US$ 70)", afirma o assessor executivo da Praticagem de Santos, Marcos Matusevicius.
Segundo a MSC, mesmo com as dificuldades, o Brasil é estratégico. É o segundo principal mercado de transatlânticos da empresa, atrás da Itália, por isso o armador continuará apostando na região. A empresa está trazendo quatro embarcações para este verão e prevê transportar 260 mil hóspedes na América do Sul nas temporadas brasileira e argentina. Um aumento de 27,4% sobre a de 2011/2012. Mas nem todos irão começar e finalizar viagem no Brasil. O "MSC Musica", um dos quatro que integram a frota desta estação brasileira, terá como base Buenos Aires.
"Temos uma raiz muito forte no Brasil. Entendo que os desafios tributários e operacionais devem continuar sendo tratados e superados com o intuito de facilitar o crescimento futuro", afirma Ursilli.
A Pullmantur diminuiu de quatro para três o número de navios nesta temporada. A razão é comercial, já que um transatlântico foi vendido e a empresa ainda não colocou outro no lugar. Com uma embarcação a menos, a oferta de leitos cairá 15% nesta estação. Segundo o diretor do armador, Rodolfo Szabo, os altos custos, dificuldades legais e a falta de infraestrutura para operar no Brasil contribuem para a migração dos turistas. "Mas não somente para Argentina. Algumas ilhas do Caribe oferecem incentivos, pois o passageiro deixa divisas", exemplifica. "O Brasil é um bom mercado e vive um bom momento no turismo de cruzeiros marítimos, mas poderia crescer muito mais".
Para a Abremar, é necessário ampliar a infraestrutura portuária para transatlânticos. "Acredito que o crescimento tenha chegado num momento em que, para progredir, não consegue se basear somente nos fatores orgânicos", afirma Amaral.
Segundo ele, há datas em que os terminais de passageiros não comportam o volume. "As pessoas não querem mais passar por uma experiência desconfortável, querem entrar no navio. É o gargalo da infraestrutura do país, reflete-se no transporte de cargas assim como no de passageiros".
Com quatro navios nesta temporada, a Costa Cruzeiros terá uma capacidade de leitos 5% superior à oferecida em 2011/2012. A previsão é que 212 mil hóspedes viagem com o armador até o fim da estação. A gerente de vendas e marketing da Costa, Claudia Del Valle, afirma que os custos operacionais são o motivo que levaria qualquer companhia marítima a apostar em outros mercados. Para ela, é imprescindível a criação de uma legislação específica e de políticas públicas de incentivo para a melhoria da infraestrutura dos portos. "O mercado de cruzeiros está em ascensão. Caso essas questões não se resolvam, o Brasil pode gradualmente receber menos navios".
Manifestações de igual teor fez o consultor de marketing da Ibero Cruzeiros, Francisco Ancona. A empresa está empregando três navios nesta temporada, todos já estiveram em águas brasileiras anteriormente.
Com a expectativa de queda do setor, a perspectiva da Abremar é que o impacto de negócios desta temporada empate com o último número disponível: R$ 1,4 bilhão, referente à penúltima estação (2010/2011). O montante inclui despesas dos armadores com suprimentos, custos portuários, combustíveis, alimentos e bebidas, água e lixo, além de marketing e escritórios.

(Fonte : Jornal Valor Econômico / imagem divulgação)

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