quinta-feira, 18 de outubro de 2012

NAS CONTAS EXTERNAS, PAÍS TEM PREOCUPAÇÕES DE “NOVO RICO”


Quando o assunto é contas externas, o Brasil não tem problemas de país rico, mas de "novo rico". Gasta mais do que recebe. Importa muito, paga mais por serviços e ainda remete mais lucro ao exterior. Além disso, o brasileiro descobriu um novo hobby: conhecer o mundo. Despesas com viagens, que não tinham muita importância, começam a pesar e a mudar o cenário da contabilidade nacional, dos aeroportos e das agências de viagem. Não é para menos. Os gastos aumentaram nove vezes na última década. Dinheiro valioso em tempos globais de vacas magras.
Em 2002, a despesa estava na casa dos US$ 200 milhões por mês. De lá pra cá, saltou para US$ 1,8 bilhão. Juliana Sarquis engordou esse gasto. Sem nunca ter colocado os pés fora do Brasil, arrumou as malas em 2009 com apenas 23 anos se aventurou a morar em Paris. Pagou só a passagem. Inscreveu-se em um programa do governo francês, virou babá e foi morar com uma família parisiense. Com os ¬ 300 que ganhava por mês, passeou por Holanda, Inglaterra, Espanha e Itália. Além de carimbos no passaporte, trouxe na bagagem um amor francês.
Para ficar perto do namorado, voltou a Paris neste ano e fez um estágio em veterinária - graduação que acaba de concluir. E, há duas semanas, com longos abraços encharcados por lágrimas, se despediu dele no aeroporto de Brasília.
- Vou tentar fazer mestrado em Paris, mas as aulas só começam no ano que vem. Antes disso, vou ver o namorado - promete, pronta para aumentar o déficit brasileiro nas contas externas.
No mesmo avião em que viajou o namorado de Juliana, a jornalista Cleymenne Cerqueira estreou em voos internacionais. Chorou ao se despedir da família inteira que a levou até o portão de embarque, mesmo para passar apenas uma semana fora em um congresso.
- Eu que estou bancando tudo. Se não fosse, eu ficaria mais tempo.
- Novo rico é assim: sai, viaja, compra caro. Havia uma demanda reprimida - observou Sidney Nehme, especialista em câmbio.

Enxoval em Miami

Na visão do economista, as contas externas ainda refletem traços de subdesenvolvimento. O governo prevê que, em 2012, o Brasil terá o maior rombo nas contas externas da História: US$ 53 bilhões. Se, por um lado, gastos grandes significam economia em crescimento, por outro, mostram problemas na indústria nacional. Para Nehme, isso impede o Brasil de se tornar um país verdadeiramente rico e o faz continuar dependente das commodities .
- Quando as commodities perderem a graça, nós perderemos a graça.
Nos últimos anos, o dólar baixo corroeu a indústria. Especialistas já falam em desindustrialização. Os importados roubam cada vez mais espaço do produto nacional. Um dos dados que têm chamado a atenção de técnicos da equipe econômica é o número de turistas grávidas que fazem maratona em outlets em Miami para fazer o enxoval do bebê.
- A gente está pecando porque incentivar a indústria a exportar equilibraria as contas externas - afirmou o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Júlio Gomes de Almeida.

(Fonte : Jornal O Globo)

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