terça-feira, 14 de junho de 2011

CRISE NO EXTERIOR E CÂMBIO MUDAM O FLUXO DE TURISTAS

A crise econômica nos países desenvolvidos e os preços caros no Brasil vêm causando uma queda no fluxo de turistas europeus e estadunidenses para o país. Ao mesmo tempo, com euro e dólar enfraquecidos em relação ao real, os brasileiros passam mais férias na Europa e Estados Unidos.
Mais turistas europeus, afetados pela desaceleração econômica em seus países, desistem de passear longe de casa e optam pelas praias mais próximas e mais baratas na Itália, Espanha e Grécia, conforme pesquisa feita pela Comissão Europeia. Isso acontece mesmo com os mais fiéis ao Brasil, como os portugueses, italianos e espanhóis.
Globalmente, o número de turistas que escolheram o Brasil caiu 10,3% entre 2005-2009. O fluxo de europeus declinou 21,8%, de estadunidenses 23,9% e dos sul-americanos ficou estável nesse período, segundo dados da Organização Mundial de Turismo. Se for considerado o período de 2006 a 2010, o volume de turistas estrangeiros no Brasil cresceu apenas 2,85%, para pouco mais de 5,16 milhões de visitantes, segundo dados do Ministério de Turismo do Brasil.
No caso dos latino-americanos, foi observado um salto de 17,4%, com pouco mais de 2,4 milhões de turistas, sendo 1,4 milhão desse total de argentinos, segundo o Ministério do Turismo do Brasil. O número de bolivianos que chegam ao Brasil cresceu 80% no mesmo período, seguidos por colombianos (71%), argentinos (50%) e, um pouco mais abaixo, peruanos (26,6%) e chilenos (13,8%).
O câmbio explica, em parte, esse movimento. Em 2010, o real desvalorizou-se em 3,15% em relação ao peso chileno e 1,5% em comparação ao peso colombiano. Em relação ao sol peruano, subiu apenas 2,02%, mas em relação ao euro, o real ficou 12,5% mais forte. Em comparação ao peso argentino, o ganho ficou menor, em 9,81%.
A fatia dos latinos no total de turistas estrangeiros passou de 37% para 46,6% entre 2006 e 2010. Consequentemente, a fatia dos europeus recuou de 28% para 21,5%. Já o peso dos americanos caiu de 14,4% para 12,4%.
Com o real forte, quem veio ao Brasil pagou uma fatura maior. De forma que, se o número de turistas diminuiu, o faturamento no setor deu um salto de 53%, de US$ 3,8 bilhões para US$ 5,9 bilhões entre 2005-2010, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT).
Nos países da "periferia" europeia - Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia (os PIGs), que passam por séria crise -, o fluxo de pessoas que partem de férias ao Brasil tende a cair ainda mais agora. Entre 2005 e 2009, o numero de turistas portugueses declinou 17,5%, de espanhóis 13,8%, de irlandeses 20% e de gregos 27,1%. Mesmo os alemães, considerados os ricos da Europa, baixaram o fluxo em 15,1%.
A quebra tem sido dramática no caso dos turistas portugueses ao Nordeste. Portugal é o país europeu com maior oferta de conexão aérea ao Brasil (70 frequências semanais, com voos diretos para Recife, Salvador, Fortaleza, Natal). O pico do turismo português no Nordeste foi em 2005. Desde então, o número de voos só caiu, até 2009, segundo a Associação Portuguesa de Agências de Viagem e Turismo (APAVT).
Em 2010, o Ceará e a Bahia foram os dois Estados mais procurados, com pequeno crescimento, mas insuficiente para compensar a persistente baixa no fluxo para Pernambuco e Rio Grande do Norte. No conjunto, a queda em 2010 nos quatro Estados é estimada em 2%.
"Essa quebra ocorre para o Nordeste, e que não é de forma igual, porque no total do Brasil há um ligeiro crescimento, alavancado pelas rotas do Sul", ressalva Paulo Brehm, porta-voz da APAVT. Boa parte dessas viagens é mais de negócios do que de turismo. Para 2011, ainda não é possível medir a quebra porque não estão fechadas as vendas para o principal período de férias dos portugueses, entre julho e agosto, Mas a expectativa é de uma "ligeira queda".
Os portugueses, com as bolsas esvaziadas, são empurrados a fazer férias mesmo em casa, ou preferencialmente na vizinha Espanha. Os que têm mais recursos hesitam entre o Brasil e o Caribe, principalmente. "O problema é que o real está caro demais, enquanto no mesmo periodo o Caribe surge como destino fortemente concorrente na relação preço/qualidade mais favorável, o que desviou parte do tráfego", diz Brehm.
Outra dificuldade, segundo ele, é que a promoção do turismo brasileiro, e especialmente nordestino, diminuiu muito em Portugal. Representantes da Embratur em Lisboa e Madrid foram procurados pelo Valor, mas não retornaram ligações telefônicas.
A APAVT considera em todo caso que o Nordeste permanece como um destino com fortes atrativos e potencial de desenvolvimento no mercado português. Por isso, vai realizar seu congresso anual em Fortaleza, em fins de novembro, onde conta levar centenas de agentes de viagens e operadores turísticos.
Os portugueses estão de olho hoje cada vez mais é nos turistas brasileiros. O Brasil foi em 2010 o sétimo mercado em termos de receita turística de Portugal, com ? 309 milhoes e é considerado um dos mais promissores para os negócios portugueses.
Entre os espanhóis, um dos destinos preferidos no momento é Portugal. Entre os que vão para a América do Sul, 9% preferem o Brasil. A preferência maior é mesmo o México e o Caribe. Os irlandeses que conseguem tirar férias no estrangeiro tomam o rumo de Portugal e Espanha. Os gregos estão resignados a ficar em casa, trabalhando para pagar as contas.

(Fonte : Jornal Valor Econômico / imagem divulgação)

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