quinta-feira, 2 de junho de 2011

CENÁRIO EXTERNO AJUDA BC NA TAREFA DE MANTER REAL ESTÁVEL


O Banco Central tem observado de perto o cenário externo e balizado suas intervenções no mercado de câmbio de acordo com essas expectativas. Tem mantido uma atuação oportunista, segundo operadores e analistas de mercado. Dessa forma, tem mantido o dólar a R$ 1,60, apesar do fluxo forte de recursos externos brutos dos exportadores ao país, que foi ao recorde de US$ 21,855 bilhões no mês passado até o dia 27. Quando a aversão ao risco aumenta, o BC acaba comprando menos dólares nos mercados à vista ou futuro, pois o real tende a se depreciar. Quando a aversão ao risco cresce, o BC compra mais dólares.
No mês passado, até mesmo os ingressos líquidos para a bolsa de valores de São Paulo foram positivos, em torno de US$ 1 bilhão, segundo o BC, revertendo tendência de retirada de recursos dos meses anteriores. Para a renda fixa, houve ingressos de US$ 500 milhões.
Na semana passada, no entanto, uma retirada de recursos provavelmente para lucros e dividendos no segmento financeiro, segundo estima o mercado, tornou o fluxo total líquido negativo em US$ 2,6 bilhões. O BC comprou US$ 495 milhões no mercado à vista, mas deixou vencer cerca de US$ 1,7 bilhão em swaps cambiais reversos, o que significa na prática venda líquida de dólares no mercado futuro.
Os exportadores tomaram no mês passado até o dia 27 um volume recorde de pré-pagamento à exportação, linhas de crédito externo de prazo superior a um ano, de valor de US$ 5,9 bilhões, na comparação com os US$ 4,9 bilhões de abril. É uma forma de escapar do Imposto sobre Operações Financeiras de 6% nas linhas externas de capital de giro de prazo inferior a dois anos. O cupom cambial (juros para investimentos em dólares no país) continua estimulando os ingressos dos exportadores. Longe do recorde de abril, o cupom para vencimento em janeiro de 2012 ainda está elevado, em 4% ao ano no final de maio, o que dava ganhos financeiros expressivos para uma empresa de primeira linha que capta linhas externas de mesmo prazo a cerca de 1% ao ano.
Os exportadores mantiveram forte ainda a contratação de Adiantamentos de Contratos de Câmbio, financiamento de prazo inferior a um ano. Fecharam um total de US$ 4,6 bilhões até o dia 27, segundo maior valor da história, que só perde para os US$ 5,3 bilhões de abril. No total, a diferença entre as entradas e saídas no câmbio comercial foi a US$ 6 bilhões positivos em maio, outro recorde.
No ano, o acumulado de entrada de recursos vai a US$ 42,76 bilhões, só inferior aos US$ 87,45 bilhões de ingressos verificados em todo o ano de 2007, quando houve ampla liquidez internacional.
Ontem, depois de cair quatro dias consecutivos em relação ao real, em um ajuste de 3%, o dólar voltou a subir com força frente às principais moedas no mundo. A moeda americana reagiu aos sinais de fraqueza da economia global, em especial da americana e da chinesa, e também ao rebaixamento da nota de crédito da Grécia pela Moody's.
Ainda que pareça uma incoerência, investidores buscam refúgio no dólar em momentos em que cresce a percepção de fragilidade do processo de recuperação da atividade dos Estados Unidos. Ao contrário, nos momentos de apetite por risco, o fluxo global migra para moedas onde há maior potencial de ganho, como é o real. Ontem, o anúncio de que foram criados nos Estados Unidos apenas 38 mil postos de trabalho no setor privado em maio, bem abaixo da previsão de analistas de abertura de 175 mil vagas, e de que o índice do setor manufatureiro caiu ao menor nível desde setembro de 2009, estimulou uma corrida para os títulos do Tesouro americano, cuja taxa de retorno caiu abaixo de 3% ao ano nos papéis de 10 anos, menor nível desde dezembro de 2010. Como resultado, o dólar se fortaleceu frente às principais moedas. Em relação ao real, a alta foi de 1,01%, para R$ 1,596.
Quando se olha para o desempenho de outras moedas, é possível dizer que o efeito da instabilidade externa sobre o real é modesto. Desta vez, o mercado não vê na atuação mais branda do BC uma mudança de foco, como ocorreu no final do primeiro trimestre, quando a preocupação com a inflação teria levado a autoridade monetária a permitir que a cotação do dólar escorregasse. Agora, dizem, as perspectivas para os índices de preço são de alívio nos próximos três meses, por razões sazonais e por causa da atividade mais fraca, confirmada pelo dado de produção industrial desta semana. Já o ambiente internacional pode continuar em deterioração nas próximas semanas, o que poderia conferir uma dose de pressão sobre o dólar. O BC pode contar com mais contribuição do exterior na gestão da taxa de câmbio.

(Fonte : Jornal Valor Econômico)

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