quinta-feira, 17 de março de 2011

ZONA OESTE ABRE NOVA FRONTEIRA GASTRONÔMICA


A gastronomia no Baixo Pinheiros (SP) começa a ferver. O número de restaurantes na região, delimitada entre as Avenidas Faria Lima e Professor Frederico Herman Júnior, na zona oeste de São Paulo, cresce a cada ano. Como a área é plana, na hora do almoço, as calçadas ficam cheias de gente e é um inferno encontrar uma vaga para estacionar. À noite, o panorama é outro: com ruas tranqüilas e residenciais, o bairro se torna um destino alternativo à barulhenta Vila Madalena.
O primeiro a chegar foi Hamilton Mello Jr., o Mellão, que no início da década de 80 abriu a Rosticceria I Vitelloni, que daria origem à pizzaria com o mesmo nome, que existe até hoje. Em 1995 ele tentaria uma incursão na alta gastronomia, com o Mellão Cucina d'Autore, que durou apenas cinco anos. Talvez o restaurante fosse caro demais ou ainda fosse cedo para uma proposta no gênero.
O perfil do bairro começou a se modificar verdadeiramente a partir de 1998 com a inauguração do Pirajá e da Pizzaria Bráz, da Cia Tradicional de Comércio, que atraíram clientes no horário que se estende a partir do "happy hour". Demorou alguns anos para que outras casas mais cuidadas abrissem ali, nas ruas ocupadas até então por um ou outro restaurante popular.
"Quando cheguei, no fim de 2008, já havia também o japonês Dô. Escolhi o bairro por achar que tinha potencial e porque não havia nenhum produto semelhante ao nosso", diz Paulo de Souza, um dos sócios do Nou, o lugar mais "bombado" da região. Com fila de espera no almoço e jantar, o Nou tem comida variada, com influência de diversas cozinhas. O visual é inspirado nas casas novaiorquinas do Soho e segue a onda da bistronomia (lugar pequeno e aconchegante, preços razoáveis e serviço descontraído).
O Baixo Pinheiros, como passou a ser conhecido, concentra seu movimento em quatro ruas principais: Vupabuçu, Costa Carvalho, Padre Carvalho e Ferreira de Araújo. No passado ali havia um comércio sem charme e pequenos sobrados de classe média, com moradores bem menos abastados dos que viviam do outro lado da Igreja da Cruz Torta, nas casas de alto padrão do Alto de Pinheiros. A localização era boa e os aluguéis relativamente baratos. O modismo, como era de se esperar, trouxe a especulação imobiliária.
"O perfil dos freqüentadores está mudando muito", observa Marisa Revoredo, do Nicota, que está lá há dois anos e faz uma cozinha elaborada, com ingredientes brasileiros. "Para cá estão migrando escritórios de design, produtoras, profissionais jovens e mais modernos. Não há peruagem nem aquela coisa frenética da Vila Madalena. Eu acho que somos uma antiga Vila Madalena, menos hippie". Em sua opinião, todos os restaurantes novos são bem-vindos, pois vão trazer diversidade e mais movimento à região, de modo a deixá-la com um perfil mais definido.
A ideia de que o bairro tem potencial não é apenas intuitiva, mas confirmada por pesquisas. Foi o resultado de uma consultoria que convenceu o catarinense João Souza e seus sócios a abrirem a Galetterie Sarrasin no final do ano passado. A casa é similar à carioca Le Blé Noir, onde João trabalhou por muito tempo. No cardápio há crepes salgados à moda francesa, feitos com trigo sarraceno (o "blé noir", sem glúten) e para acompanhar, apenas saladas. Na sobremesa, crepes doces, de farinha branca.
Quando se empenha em listar os locais das redondezas, Silvia Guimarães Couto, dona do Da Silvinha, perde a conta várias vezes. Cita o Le Petit Trou, Vila das Meninas, Empório Alto de Pinheiros, o vegetariano Horta e Café. Seu restaurante é bem simples e serve só almoços. Fica num sobradinho de esquina, tem toalhas de tecido estampado e cardápio escrito numa lousa. Todo o dia há uma opção de peixe, carne e frango. O acompanhamento são arroz, feijão, couve e farofa de banana. "Faço uma comida caseira, para as pessoas pensarem que foram almoçar em casa. Aqui não tem frescura, não tem chef, nada disso. Quem assina é Dona Benta e Tia Anastácia", diz.
No restaurante, Silvinha tem a ajuda da filha Inês, que cuida da administração e também serve as mesas, quando preciso. Sua história na cozinha é puramente acidental. Começou a fazer empadinhas para vender na praia de Camburi, quando o marido ficou desempregado. Depois, montou um catering para atender produções de moda e comerciais, que funcionava na cozinha do apartamento. Incentivada pelos clientes, mudou de casa e montou o Da Silvinha, no andar de baixo do sobrado onde mora.
Num quadrilátero tão movimentado em termos gastronômicos não poderia faltar brigadeiro, o doce da moda que agora faz sucesso até em Nova York. Montado por Bia Forte, uma cozinheira que estava no bairro desde os tempos dos self-services populares, a Brigadeiro Doceria & Café oferece o docinho tal como sempre foi servido nas festas e não excessivamente gourmet, como prega a nova onda.
A pâtisserie sofisticada do Baixo Pinheiros é a de Nina Veloso, conhecida por seus macarrons de vários sabores, que tem um pequeno terraço com mesinhas, frequentado por gente que almoça em lugares diferentes e vai ali tomar um café. Afinal, o que não falta nas imediações são restaurantes. E virão mais, pode ter certeza.

(Fonte : Jornal Valor Econômico)

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