
Levantamento feito pela Folha com dez das maiores agências
de turismo receptivo do país mostrou que sete delas registraram ao menos dois
ou três cancelamentos de grandes grupos cada uma, desde o início do ano,
totalizando 579 estrangeiros que deixarão de visitar o país entre fevereiro e
maio.
São turistas que já tinham reservado passagens aéreas e hotéis em
cidades como Rio, São Paulo, Recife, Foz do Iguaçu e Manaus, mas voltaram atrás
depois que imagens de bebês com microcefalia, doença que se suspeita estar
relacionada com o vírus, inundaram o noticiário estrangeiro.
Integrantes do setor ressaltam que o número de cancelamentos é baixo
diante do total de visitantes estrangeiros –6,4 milhões deles viajaram ao
Brasil em 2014 (último dado disponível). As más notícias vieram em momento de
dólar valorizado, o que torna o país mais barato para quem vem de fora.
Operadores já afirmam que os turistas estão começando a desconsiderar o
Brasil como destino para a próxima alta temporada no hemisfério sul. Embora
declarem que o impacto é pontual, temem que o movimento indique uma tendência a
médio prazo.
Um grupo de 90 portugueses, por exemplo, cancelou a viagem que faria, em
março, para o Recife, com o intermédio da agência Rentamar. Três grupos de 40
americanos desistiram de visitar Rio, Manaus e Foz do Iguaçu, no Paraná, em
maio, com a Sat Tours. Sessenta iranianos cancelaram a ida a Foz, o segundo
maior destino turístico do Brasil. O mesmo fizeram 18 malaios da BluMar.
"A mídia lá fora está bombardeando o Brasil com notícias negativas
e isso tem impacto, ainda que pontual, no turismo", diz a gerente operacional
da Sat Tours, Patrícia Pontes. "Os americanos costumam ser os mais
reativos".
Um casal de espanhóis desistiu de Porto de Galinhas (PE). Um de
portugueses cancelou a ida ao Rio. Grávidas, as mulheres seguiram orientações
da Organização Mundial de Saúde, que desaconselhou visitas de gestantes a 23
países por causa do vírus.
A Matueté, agência paulista de turismo de luxo, esperava uma demanda por
viagens 50% maior para esta época do ano, segundo o agente Bruno-Mathieu Roy.
OLIMPÍADA
Segundo as agências, não é possível dizer que haverá impacto para os Jogos Olímpicos,
em agosto, no Rio. O motivo é que a agência parceira do COI (Comitê Olímpico
Internacional), a Tam Viagens, tem prioridade na comercialização de pacotes com
hospedagem no país. Procurada, a TAM afirmou que ainda não registrou
desistências devido à zika.
O presidente da Brazilian Incoming Travel Organization (Organização de
Turismo Receptivo do Brasil), Salvador Saladino, expressou, contudo,
preocupação com o cenário para os Jogos.
"Existem condições para uma redução no número de turistas [na
Olimpíada]. Se a OMS [Organização Mundial de Saúde] diz que há uma epidemia,
grávidas, por exemplo, com certeza não virão", afirma Saladino.
Algumas empresas já mudam seus procedimentos para se adaptar ao novo
cenário. A Rentamar, por exemplo, assegurou-se de que cada um dos 140
funcionários mexicanos de uma multinacional que visitaram o Rio em fevereiro
tivesse um tubo próprio de repelente.
De acordo com a diretora executiva da Havas, Rachel Havas, nas reuniões
do Global DMC Partners, espécie de associação internacional de turismo
receptivo, o interesse pelo Brasil como opção de destino para o próximo verão
diminuiu.
A entidade costuma ser consultada por grandes multinacionais quando elas
querem enviar seus executivos em viagens de bonificação ao exterior.
(Fonte
: Folha Online / Imagem divulgação)
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