terça-feira, 4 de dezembro de 2012

HOTÉIS IGNORAM DEFICIENTES


No primeiro dia da 3ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o sentimento de dezenas de pessoas que vieram de São Paulo para participar do evento em Brasília foi de decepção e de indignação. Cadeirantes e acompanhantes afirmam ter passado por constrangimentos em série depois de rodar por quatro hotéis da cidade, sem conseguir acomodação adaptada, mesmo tendo reservas em mãos. Muita gente nem sequer conseguiu tomar banho por falta de estrutura adequada. A filha de uma das participantes registrou queixa na polícia contra um dos hotéis.
Pelo menos 30 participantes, incluindo integrantes de delegações estaduais, chegaram a Brasília por volta de 13h de domingo e seguiram, de ônibus, para o hotel St. Peter. Na recepção, descobriram que não havia quartos suficientes nem a confirmação de reserva de todos os hóspedes. A presidente da Associação de Valorização e Promoção de Pessoas com Deficiência (Avape), Priscila Boveto, estava entre os hóspedes. Ela conta que conseguiu fazer o registro, mas quando entrou no quarto, viu que o espaço não era adaptado às suas necessidades de cadeirante. “O banheiro parecia um corredor. Não tinha como entrar com a cadeira por causa das portas estreitas. Todas essas especificações estão na minha ficha de cadastro para o evento”, reclamou.
A gerente-geral do St. Peter, Valéria Linhares, explicou que o hotel dispõe de 16 habitações adaptadas e que isso foi informado à organização da conferência, responsável pela logística e hospedagem dos delegados estaduais, como Priscila. “Mandaram mais pessoas com necessidades especiais do que a quantidade de quartos disponíveis. Conseguimos acomodar algumas nos quartos especiais, mas as demais tiveram de ser levadas para apartamentos normais”, disse.
A advogada Marisa Trupel, integrante da delegação de São Paulo, reclamou do tratamento que recebeu dos funcionários. “Disseram para nós resolvermos os nossos problemas porque eles já estavam com os deles. Quer dizer, as pessoas com deficiência estão sendo constrangidas na própria conferência para qual elas vieram”, criticou. O delegado do Ceará, Xyco Teophilo, foi ainda mais duro. “Esse é o país que vai sediar uma Olimpíada, uma Paralimpíada e uma Copa do Mundo, em que o deficiente estará excluído. Uma vergonha.”

DESCASO

Muitos decidiram fazer o check-out no St. Peter e procurar outros estabelecimentos credenciados para receber participantes. No Hotel Esplanada, o grupo nem sequer desceu da van porque não havia vagas. Já no Hotel Planalto, os cadeirantes haviam recebido a informação de que haveria a possibilidade de encontrar quartos adaptados. “Ficamos lá até a 0h esperando uma resposta e nada. Foi quando decidi ir à polícia. É muita falta de respeito”, conta Débora Boveto, 18 anos, filha de Priscila. As hóspedes acusam os funcionários de terem se recusado a recebê-las e o caso está sendo investigado pela 5ª DP (Área Central de Brasília). O hotel informou que já estava lotado, inclusive com delegações de outras unidades da Federação, por isso não foi possível abrigar mais pessoas.
O estresse ao qual foram submetidos custou muito caro aos viajantes. Marly dos Santos, 50 anos, ficou 48 horas sem conseguir tomar banho. “Estou me sentindo humilhada. Na capital do país, é vergonhoso a gente ter que passar por esse tipo de constrangimento”, disse, emocionada. Márcia Pereira da Silva, 52 anos, diretora da União de Deficientes Físicos de Araraquara (SP), tomou banho no banheiro do restaurante de um dos hotéis.
Por fim, os cadeirantes conseguiram se hospedar no Phenícia. Apesar de os quartos não serem adaptados para receber pessoas com necessidades especiais, os ambientes são um pouco maiores. “Arranjaram um fisioterapeuta para nos ajudar a entrar no banheiro e tomar banho. Mas a experiência de Brasília foi horrível. Conversei com pessoas do Conade (Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência) e disse a eles que tudo o que nós estamos discutindo sobre acessibilidade e inclusão é uma mentira aqui. Teria sido melhor ficar em casa”, lamentou Priscila.

Deliberação

O Conade é um órgão superior de deliberação colegiada. Foi criado para acompanhar e avaliar o desenvolvimento de uma política nacional para inclusão da pessoa com deficiência e das políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, esporte, lazer e política urbana dirigidos a esse grupo.

(Fonte : Correio Braziliense)

Nenhum comentário:

Postar um comentário