segunda-feira, 26 de novembro de 2012

ESPECIALISTAS DEFENDEM NOVA CADEIA TURÍSTICA PARA A ACESSIBILIDADE


“Hoje no Brasil, cerca de 45 milhões de pessoas possuem total ou parcialmente algum tipo de deficiência.” Foi com esse dado que o coordenador-geral de Segmentação do Ministério do Turismo, Wilken Souto, iniciou no dia 24 sua palestra sobre acessibilidade, em Gramado (RS). O evento, que contou com a presença de especialistas da cadeia turística, faz parte da programação do Festival de Turismo de Gramado, que terminou neste sábado.
De acordo com Souto, esse número engloba também as pessoas com mobilidade reduzida, como idosos, gestantes, crianças, pessoas obesas ou com baixa estatura, entre outras. “Todas elas necessitam de algum tipo de facilidade ou adaptações específicas para se locomover com autonomia”, lembrou.
Atento a essa causa, o Ministério do Turismo, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a Embratur, lançou oficialmente o Programa de Turismo Acessível. Segundo o representante do MTur, uma das linhas de atuação do programa envolve a realização de estudos e pesquisas para entender melhor esse público. O MTur também vai atuar com gestores públicos e privados para a realização de cursos e seminários. “Nosso objetivo é capacitar e sensibilizar cerca de oito mil gestores até 2014, além de premiar as ações de empreendedores voltadas à acessibilidade”, afirmou Wilken Souto.
Por meio do Programa de Turismo Acessível, o objetivo do governo federal é adequar a infraestrutura turística nos atrativos, principalmente, das 12 cidades-sede da Copa do Mundo da FIFA 2014. Outras ações serão organizadas junto aos empresários da cadeia produtiva do setor para ampliar oportunidades no mercado de trabalho para esse público.
Um dos principais desafios, segundo o coordenador, é a qualificação dos serviços turísticos. O governo estuda a implantação de um sistema online com informações acerca da acessibilidade de empreendimentos e atrativos turísticos de destinos brasileiros. Além disso, o programa pretende aumentar para 5% o número de unidades habitacionais acessíveis nas cidades-sede da Copa 2014. “Não se trata, no entanto, de um esforço apenas do governo. Precisamos do apoio da iniciativa privada e da sociedade, esta atuando como fiscalizadora dessas ações”, pontuou.
Algumas cidades já incorporaram a importância de se adaptar a esse público. Socorro (SP), por exemplo, é referência quando o assunto é acessibilidade, principalmente no segmento de turismo de aventura. Isso fez a cidade ser considerada pelo MTur um dos dez destinos referência em turismo adaptado. “Buscamos primeiro conhecer o perfil do nosso consumidor e, acima de tudo, trabalhar com a qualidade de nosso destino”, explicou Carlos Toledo, diretor do Departamento de Turismo e Cultura do município, que tem hoje 37 mil habitantes.

REFERÊNCIAS INTERNACIONAIS

Não é apenas o Brasil que tem buscado se tornar exemplo na área do turismo acessível. A Itália também está trabalhando para ganhar espaço junto a este público. “O nosso grande desafio é de transformar a Itália acessível a todos”, disse o diretor para a América Latina da Agência Nacional Italiana do Turismo, Salvatore Costanzo. Ele explica que o país tem desenvolvido estruturas para acesso a monumentos históricos e cita Veneza, uma cidade sob as águas, como exemplo. Costanzo adiante que a capital Roma tem seguido estes passos, com a ajuda de empresas italianas que estão focadas no assunto.
Apesar dos visíveis avanços, o diretor da empresa Turismo Adaptado, Ricardo Shimosakai, acredita que ainda falta muito para o Brasil evoluir quando o assunto é acessibilidade. Cadeirante, ele falou com propriedade das dificuldades enfrentadas no dia a dia por um deficiente. Segundo ele, a adaptação nos sistemas de transporte (aéreo, metroviário, urbano, etc) pode ser uma das formas de reverter esse quadro. “Muitos serviços, produtos e hotéis dizem que são acessíveis, que têm banheiros adaptados, mas só quando chegamos no local é que descobrimos que não são, e isso acaba tornando a viagem uma grande frustração”, afirmou.
A capacitação de profissionais para atender os deficientes e manusear os equipamentos de forma adequada é imprescindível. A mão de obra entre as pessoas com deficiência ou alguma mobilidade reduzida também pode ser muito bem aproveitada no turismo. É o que explica Guilherme Paullus, presidente do Conselho de Administração CVC Turismo e presidente do Grupo GJP Hotéis. “Para isso, precisamos exigir o cumprimento das leis e cobrar apoio das autoridades para projetos em empreendimentos”, sugeriu.
Orientações para a adaptação de estabelecimentos turísticos estão previstas na norma técnica NBR 9050, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), sobre Acessibilidade a Meios, Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos. O engenheiro Frederico Viebig, diretor da Arco Sinalização Ambiental, presente na palestra, apontou a sinalização como avanço indispensável para que o país se desenvolva no quesito acessibilidade.
Ele explicou que os estabelecimentos devem oferecer quartos com alarmes; sanitários adaptados; placas de rotas de fuga e portas de quartos acessíveis, entre outros. “Atualmente, 70% das mortes de pessoas com mais de 75 anos é devido à queda, e o nosso principal turista hoje é formado por idosos. Por isso, precisamos desenvolver um desenho universal com projetos que tenham em mente esta realidade”, disse o engenheiro.

(Fonte : MTur)

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