*Por Sérgio E. Moreira Lima
Em 12 de novembro será inaugurada, em Brasília, a Comissão Mista Brasil-Hungria, que buscará expandir o intercâmbio comercial de bens e serviços, projetos cooperativos de interesse para o desenvolvimento e a competitividade dos dois países. Pretende também tornar-se catalisadora de programas voltados para a economia do conhecimento, novo paradigma no relacionamento com a Hungria e a Europa Centro-Oriental.
No dia seguinte, autoridades e empresários húngaros participarão, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), do Foro Empresarial Brasil-Hungria. O encontro busca promover contatos e condições para ampliar a corrente de comércio e os investimentos entre os dois países. Para alcançar esse objetivo, a Fiesp conta com o fato de São Paulo reunir a maior comunidade húngara na América Latina, estimada em 100 mil pessoas.
A cooperação Brasil-Hungria não está sendo inaugurada agora. Nos anos 1970 e 1980, dezenas de técnicos húngaros viveram no Brasil e ajudaram a desenvolver, entre outros, a vitivinicultura no semiárido, a aquicultura e a saúde animal. Atualmente, os dois países trocam informações no campo da agricultura orgânica e negociam instrumentos de cooperação em desenvolvimento rural, segurança alimentar, educação e intercâmbio estudantil, turismo, promoção de comércio e investimentos, bem como em atividades desportivas.
Desde a queda do Muro de Berlim e a expansão da União Europeia, os países da Europa Centro-Oriental transitaram em direção à democracia e à economia de mercado. Essa transformação política e econômica abriu oportunidades de cooperação e de negócios. Assim, importantes empresas brasileiras acham-se representadas na Europa Centro-Oriental. Na Hungria, a Brazil Foods e a Fibria mantêm escritórios comerciais e examinam possibilidades de expansão.
A Hungria é um dos países europeus com mais antiga tradição em educação, ciência e inovação, com expressivo número de laureados com o Prêmio Nobel. A aproximação entre estudantes brasileiros e universidades húngaras, no contexto do programa Ciência sem Fronteiras, poderá gerar benefícios que transcenderão as ciências exatas e repercutirão no processo de consolidação democrática e na redução de desigualdades de renda no Brasil e na Hungria. O papel da Hungria no processo de redemocratização da Europa Centro-Oriental (Revolução de 1956 e abertura da fronteira com a Áustria em 1989) marcou a história europeia e enalteceu o compromisso do país magiar com o multilateralismo e a cooperação internacional.
No campo científico, destaca-se a colaboração entre as academias de ciências brasileira e húngara para a realização no Rio de Janeiro, em novembro de 2013, do VI Foro Mundial de Ciências. Trata-se do maior evento internacional do gênero, que reúne as mais importantes instituições científicas do mundo, com o apoio da Unesco. O Foro é realizado bianualmente em Budapeste e, pela primeira vez, não terá lugar na capital húngara.
A mudança temporária de local visa elevar o perfil internacional da conferência e do papel da ciência na promoção do desenvolvimento. A escolha do Brasil traduz o reconhecimento dos avanços tecnológicos que o país vem logrando em áreas como energia, segurança alimentar, saúde e meio ambiente. Brasil e Hungria decidiram estreitar o relacionamento diplomático, elevar o nível dos contatos governamentais, parlamentares e empresariais, bem como colocar ciência e inovação no centro da cooperação bilateral.
O futuro de um país depende da educação de seu povo, de sua capacidade de inovar e manter-se competitivo. A parceria entre o Brasil e a Hungria remonta a um paradigma de política externa identificado com o imperativo de promover e preservar condições de acesso ao conhecimento. A reunião da Comissão Mista Brasil-Hungria na próxima segunda-feira deverá reforçar essa parceria entre os dois países, projetando-a em suas regiões para o bem-estar de seus povos.
*Sérgio E. Moreira Lima - Embaixador do Brasil em Budapeste
(Fonte : Jornal Correio Braziliense)
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