quinta-feira, 27 de setembro de 2012

BRASILEIRO AMPLIA O CONSUMO DE SERVIÇOS


Com o crescimento da renda e a ascensão da classe C, o consumo do brasileiro diversificou-se, o que permitiu a ampliação do acesso a serviços como restaurantes, hotéis, viagens, cursos e reparação de veículos e artigos de informática -comprados na esteira do crédito farto.
Três ramos de serviços se beneficiaram especialmente desse cenário: os prestados às famílias (alimentação, cultura, hotelaria, cursos privados e outros), as atividades imobiliárias (compra, venda e locação) e a reparação e a manutenção (consertos).
O faturamento dessas atividades cresceu 44,9%, 59,8% e 63%, respectivamente, no acumulado 2007-2010, segundo a Pesquisa Anual de Serviços (Pas) do IBGE. Os percentuais superaram a expansão média, de 31,6%.
Os fatores "decisivos" para a inclusão de novas classes no consumo de serviços foram o aumento da renda, do emprego formal e do crédito, segundo Ana Carla Magni, economista do IBGE.
"Nos últimos anos, o brasileiro passou a comer mais fora de casa, ir mais vezes ao cabeleireiro e frequentar curso de inglês. Essa nova dinâmica se refletiu no faturamento das empresas."
Com o consumo em alta, o faturamento do setor de serviços cresceu, em média, 8% ao ano de 2007 a 2010, acima do PIB no período. Mesmo na crise de 2009, houve expansão: 6,4%; em 2010, a cifra subiu para 11%.
Segundo Gilberto Braga, professor do Ibmec, a renda mais elevada e a "inclusão social" levaram as famílias a saírem de casa para consumir serviços, como ir ao cinema.
Já o crédito, diz, dinamizou os mercados de imóveis e veículos, ampliando o acesso aos serviços relacionados a esses setores.
Esses fatores foram mais marcantes no Nordeste, onde os reajustes do salário mínimo e as transferências de renda têm peso maior e alavancaram mais o consumo.
Na região, o faturamento dos serviços subiu 36,1% no acumulado de 2007 a 2010, acima da média nacional.
Para Braga, a continuidade do aumento do mínimo acima da inflação, do crescimento do emprego e do crédito resultaram em novas expansões dos serviços em 2011 e 2012. "Houve uma mudança de hábito importante nesses últimos anos, que não acabou. Em todos os países onde a renda cresce, aumenta o consumo de serviços. É um processo histórico."
Um sinal dessa transformação é o crescimento da receita de alimentação (50,4%), a maior dentre o grupo de serviços destinados às famílias.
Composto por firmas de pequeno porte e muito pulverizado, o grupo de serviços destinados às famílias liderava em número de empresas e era o segundo a mais empregar, mas representava apenas 9,9% do faturamento total.

SALÁRIOS

A demanda aquecida e a restrição de mão de obra obrigaram as prestadoras a pagar melhores salários para atrair e reter profissionais. O aumento acumulado de 2007 a 2010 foi de 38%.
Os maiores reajustes vieram de serviços de reparação e serviços de informação (telecomunicações e informática) -de 45%. Ambos sofrem mais com a falta de mão de obra.
Os serviços pagavam, porém, salários relativamente baixos -de 2,4 salários mínimos na média de 2010. As maiores remunerações eram de serviços de informação (5,8 salários).
O ramo, que vive de inovação e de lançamentos de novos serviços, teve, porém, um desempenho mais fraco em faturamento por conta da forte concorrência entre as empresas. Sua receita subiu 21,8% no acumulado de 2007 a 2010, abaixo da média do total dos serviços.

ANÁLISE

SETOR MANTEVE EXPANSÃO NA CRISE E PODE CRESCER MAIS

Ricardo Franco Teixeira

A análise da taxa de crescimento do setor de serviços é alentadora, superando com folga a do PIB.
Mesmo no biênio 2008/2009, anos em que a economia mundial experimentou momentos dramáticos, o setor de serviços manteve uma taxa de crescimento que superou os índices inflacionários e de crescimento da economia nacional, o que faz com que esse setor mereça atenção especial.
Os dados indicam que a região Nordeste -e dentro dela o Piauí, seguido pelo Maranhão- teve taxa de crescimento bem acima da média nacional.
Isso pode ser explicado pelo impacto da redução do índice de desemprego e pelo aumento da renda decorrente do crescimento da economia e de programas sociais.
Por serem as unidades nordestinas com as menores rendas per capita, qualquer variação nesse quesito tem reflexos impactantes.
No cenário nacional, a Pas 2010 indica que um pequeno percentual de empresas concentra parcela preponderante da receita total, do valor adicionado, da geração de empregos e da massa salarial.
Geograficamente, essa concentração, do ponto de vista percentual, privilegia a região Sudeste e pode ser explicada por ser essa a região mais rica do país, com o maior contingente populacional dispondo de bom poder aquisitivo e sede de um expressivo número de empresas industriais e comerciais.
Considerando-se o faturamento das empresas, constata-se que transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio foi o segmento responsável pela maior parcela da receita gerada.
Esse setor é sempre destaque, dada a extensão territorial brasileira, que gera demanda por deslocamento de cargas e de passageiros.
Com a redução do índice de desemprego e o aumento da renda, individual e familiar, algumas atividades experimentaram taxas de crescimento muito expressivas, bem superiores à do setor de serviços como um todo.
Entre elas estão serviços de manutenção e reparação e serviços às famílias.
No tocante aos serviços de manutenção e reparação, merece destaque a manutenção de veículos automotores, cuja indústria experimenta crescimento expressivo há algum tempo, fruto da política de incentivos do governo federal.
O consumo das famílias tem sido um dos pilares do crescimento econômico. Qualquer aumento de renda, por mais tímido que possa parecer, pode ser facilmente canalizado para a aquisição de serviços antes inacessíveis.
As refeições fora de casa, por exemplo, experimentaram forte crescimento de demanda no período analisado. E oferecem boas perspectivas, visto que podem se tornar cotidianas.
Condições existem para que o setor de serviços continue crescendo e ajudando a reduzir as desigualdades regionais.

Ricardo Franco Teixeira é professor e coordenador acadêmico de cursos do programa FGV Management, da Fundação Getulio Vargas

(Fonte : Jornal Folha de São Paulo)

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