quarta-feira, 1 de agosto de 2012

UM BOM LEGADO


Salvador, quem diria, vive hoje em ritmo acelerado. Motivo: a preparação para a Copa do Mundo de Futebol de 2014. Até dezembro, deve ficar pronta a Arena Fonte Nova, um estádio monumental com capacidade para cerca de 55 mil espectadores, localizado na região central da cidade, cuja construção envolve diretamente mais de três mil trabalhadores, e que deve consumir perto de R$ 600 milhões. O novo estádio vai subindo a todo vapor, nas proximidades do histórico Dique do Tororó, construído pelos holandeses no século XVIII, com um espelho d'água de cerca de 110 mil m2.
Mas a grande preocupação dos agentes envolvidos na realização do evento (governo, empresários, urbanistas, arquitetos e representantes de entidades de classe e associações comunitárias) é assegurar que o legado de programas e megaprojetos seja permanente, favorecendo uma população de mais de 2,6 milhões de pessoas das quais 30,7% ainda vivem abaixo do nível de pobreza. A ideia é que os jogos estimulem desenvolvimento, com inclusão social, na infraestrutura e mobilidade urbana, valorização cultural e na qualificação profissional.
"Temos duas copas em disputa - a do espetáculo e a do legado. A copa do espetáculo exige prover tudo o que a Fifa nos impõe para que sejamos cidade-sede. A copa do legado, o Estado tem que liderar e protagonizar. Ganhar a copa do espetáculo não depende da gente, mas da Seleção Brasileira de Futebol. Ganhar a copa do legado é obrigação do Estado. Precisamos deixar internalizadas para a população obras que permaneçam", afirma Ney Campello, secretário estadual de assuntos para a Copa do Mundo da Fifa.
Trata-se de uma oportunidade única para a Bahia. Afinal, a expectativa é que o Programa Copa 2014 na Bahia represente um investimento total, público e privado, em torno de R$ 5 bilhões. Segundo José Sérgio Gabrielli, secretário estadual do Planejamento, somente na área de responsabilidade do governo da Bahia, o valor dos projetos relacionados a mobilidade urbana e acessibilidade, requalificação do turismo, fortalecimento da cultura local e obras de infraestrutura está estimado em R$ 1,9 bilhão.
Muitas iniciativas visam a requalificação dos espaços públicos e ligação do centro histórico à Fonte Nova, intervenções nas áreas de saúde, segurança e modernização da infraestrutura de telecomunicações e utilização de redes para instalação de câmaras de monitoramento para segurança e trânsito
O principal investimento, porém, é no estádio de futebol, estimado em R$ 591 milhões. É uma Parceria Público-Privada (PPP) entre o Governo do Estado da Bahia e a Fonte Nova Negócios e Participações (FNP), concessionária formada pelas empresas Odebrecht Participações e Investimentos e OAS. O projeto arquitetônico foi inspirado na AWD-Arena, de Hannover, um dos estádios da Copa de 2006 na Alemanha, mas o desenho preserva o formato clássico do velho estádio: a ferradura com abertura para o Dique do Tororó. A gestão é inspirada no modelo multiuso de sucesso na Europa, desenvolvido pela Amsterdam Arena, consultora do projeto da Arena Fonte Nova.
Mais do que um estádio de futebol, a arena deverá sediar grandes shows nacionais e internacionais, além de operar como um espaço cultural, de negócios, entretenimento e gastronomia. Terá dois restaurantes panorâmicos, museu, elevadores inteligentes, quiosques e assentos cobertos.
Até junho, foram gerados mais de 3,3 mil empregos na construção e o nível de execução da obra está acima de 64%, assegurando o término do empreendimento no prazo, em dezembro. Ou seja, estará disponível para a realização dos jogos da Copa das Confederações, em junho de 2013.
Há outros projetos prioritários. É o caso do Aeroporto Luis Eduardo Magalhães, responsável por um movimento de 8,4 milhões de pessoas em 2011. Serão investidos cerca de R$ 100 milhões na reforma e adequação do terminal de passageiros, ampliação do pátio de aeronaves e construção da torre de controle.
As obras já foram iniciadas e a previsão da Infraero é que tudo esteja concluído entre setembro e dezembro de 2013. Faz parte também das prioridades a construção do novo terminal marítimo de cruzeiros turísticos de Salvador. O investimento é de R$ 30 milhões, recursos sob a responsabilidade da Companhia de Docas do Estado da Bahia (Codeba) e Secretaria Especial de Portos. Prevê a construção de nova área de embarque e desembarque, centro gastronômico, área de convivência e 5,6 mil m2 de área de estacionamento. As obras foram iniciadas em junho e deverão estar concluídas em meados do ano que vem.
O aspecto socioambiental permeia todas as atividades relacionadas com as obras. Isso vai desde os programas de inclusão social desenvolvidos para incorporar ex-moradores de rua e ex-presidiários à mão de obra encarregada de construir a arena, aos critérios de construção de um "estádio verde". "Fizemos roupas e sacolas com as roupas utilizadas pelos operários, e mais de dois mil suvenires com os resíduos dos escombros do estádio demolido, que estão sendo doados às obras sociais da Irmã Dulce", relata Campello. "Além disso, temos projetos para revitalizar o entorno e as encostas da Fonte Nova para beneficiar a população local. E estamos trabalhando com grande preocupação com a sustentabilidade, no reaproveitamento de água, melhor uso da energia e do material demolido na própria obra", informa.
Dificuldades e obstáculos, sem dúvida, existem. O maior deles, aponta Campello, é a questão da mobilidade urbana. Razões para essa preocupação: o principal investimento nesse setor não ficará pronto operacionalmente para a Copa. É a alternativa metroviária, o Sistema Salvador-Lauro de Freitas, que será executado no modelo de PPP, com investimentos estimados em R$ 3,6 bilhões, recursos do Orçamento Geral da União e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC Mobilidade).
A etapa 1, Acesso Norte-Pirajá, com 5,6 quilômetros de extensão, com três estações, está praticamente pronta. O trabalho agora é de implementação da linha 2, Salvador-Lauro de Freitas, com 24,2 quilômetros e 13 estações, previsto para 36 meses, mas que ainda assim não deve aliviar totalmente os constantes engarrafamentos em Salvador.
Outro grande desafio é o da qualificação profissional. A previsão é que durante todo o período da Copa as diversas frentes de atividades abram um total de 50 mil empregos. "Todos estão preocupados e o tempo para qualificar é muito curto", indica Nilton Vasconcelos, secretário estadual do Trabalho. A situação é dramática, segundo ele. "Temos a segunda obra mais avançada de construção do estádio no Brasil, mas pouca gente qualificada. Não é apenas uma questão de qualificação técnica, envolve paradigmas culturais, dificuldade entre hospitalidade e eficiência, o que, em Salvador, se confunde muito. É preciso que toda a sociedade participe no sentido de mudar esse panorama", afirma.

(Fonte : Jornal Valor / imagem divulgação)

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