segunda-feira, 6 de agosto de 2012

RUSH TORNA PONTE AÉREA ATÉ 25MIN MAIS LENTA



Na hora do rush, um voo da ponte aérea Rio-São Paulo, entre os aeroportos de Santos Dumont e Congonhas, a rota mais movimentada do Brasil, chega a levar 25 minutos a mais que a mesma viagem, pela mesma companhia, fora do horário de pico.
O tempo extra é significativo, já que os voos mais rápidos entre as duas cidades levam menos de 45 minutos.
Os principais motivos, segundo a Aeronáutica, as companhias aéreas e especialistas, são a concorrência pela utilização da pista, o tráfego aéreo intenso e a falta de controle mais eficaz dos voos.
A comparação entre os diferentes horários foi feita pela Folha com base na duração dos voos da TAM, Gol e Avianca, as três companhias que atuam na ponte aérea durante a semana, tanto nas viagens já feitas (janeiro a junho), quanto naquelas que ainda estão programadas.
Os dados estão disponíveis nos sites das companhias aéreas e da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Voar pela manhã, na maioria dos casos, é pior do que à noite. Avianca e Gol têm as maiores discrepâncias.
Na primeira, o voo mais demorado é o que sai de Congonhas às 7h28 de segunda à sexta, no qual o passageiro enfrenta uma hora e 23 minutos de viagem. O mais curto é o que parte de São Paulo às 19h02 -duração de 58 minutos, ou 30% mais rápido.
Na Gol, os mesmos 25 minutos de diferença aparecem ao comparar dois voos que partem do Rio. O pior, das 9h10, leva uma hora e oito minutos; o mais rápido, às 17h10, dura 43 minutos.
Os voos da TAM variam menos: 17 minutos em Congonhas e 22 minutos no Rio.

FILA DE AVIÕES

"Varia bastante, é perceptível. Eu sempre me programo para chegar a São Paulo com antecedência", diz o advogado José Carlos Rosa, 34, que mora no Rio e vem a São Paulo uma vez por semana. Sexta-feira, afirma, costuma ser o dia mais complicado.
Segundo a Aeronáutica, o tráfego aéreo entre as metrópoles lhe obriga a organizar os aviões que chegam e que saem dos aeroportos -o que influencia o tempo de voo.
Entre as medidas está o sequenciamento, que é estabelecer uma fila de aviões que vão para o mesmo destino. Assim, as aeronaves recebem ordens para reduzir a velocidade ou fazer desvios.
O clima e fatores operacionais -uma aeronave ou aeroporto com restrições, por exemplo- também influenciam, segundo o órgão.
Um estudo de 2010 encomendado pelo BNDES identificou que os tempos de voo dos aviões na ponte aérea haviam aumentado em dez minutos entre Congonhas e Santos Dumont e sete minutos no sentido inverso, entre 2005 e 2009, em decorrência de restrições de infraestrutura aeroportuária e aeronáutica.

TRÁFEGO INFLUENCIA A DURAÇÃO, DIZEM EMPRESAS

As companhias aéreas afirmam que levam em consideração o volume de tráfego ao calcular a duração dos voos da ponte aérea Rio-São Paulo -daí as grandes diferenças entres horários. O tempo de cada voo é informado com antecedência ao passageiro.
"Os voos não têm a mesma duração por diversos fatores. Um deles é o período em que a operação acontece. Durante a manhã e no final da tarde, por exemplo, precisamos de um tempo maior em razão da intensidade do tráfego aéreo", informou a Gol.
Outro fator, diz a empresa, é a necessidade, em horários de pico, de maior tempo para taxiamento; há mais aviões prestes a decolar ou pousar e, nessas situações, a espera costuma ser maior.
A TAM igualmente mencionou o tráfego aéreo. Disse ainda haver influência do vento nas rotas. A Avianca não quis se pronunciar.
Segundo Mário Celso Rodrigues, ex-controlador de tráfego aéreo em São Paulo, as variações no tempo de voo, pelo horário, são produto da concorrência pela utilização da pista de pouso e da infraestrutura dos aeroportos.
"A ponte aérea concorre com voos domésticos de todo o Brasil. Não é questão de espaço aéreo e sim de espaço terrestre, aeroportuário."
A estatal Infraero disse que a infraestrutura de Congonhas, administrado por ela, não impacta a ponte aérea.

CONTROLE

Segundo Rodrigues, a Aeronáutica hoje tenta administrar o fluxo de tráfego com base em previsões de demanda, mas nem sempre isso ocorre dentro do esperado. O ideal, disse, seria criar uma ferramenta para controlar os voos "vivos", que já estejam no ar.
"Isso daria maior precisão na hora de embarque, e o atraso poderia ser facilmente administrado com aeronave no solo, diminuindo custo operacional e minimizando a insegurança aérea",diz.
Ele também propõe manter aeroportos para operação apenas da ponte aérea -ele citou São José dos Campos.
A Secretaria Nacional de Aviação Civil disse estar acompanhando novos sistemas de comunicação, navegação e vigilância que estão em implantação pela Aeronáutica para modernizar a infraestrutura do sistema.
Além disso, diz desenvolver um projeto para o setor, "que será um plano integrado com o crescimento da infraestrutura aeroportuária."

ANÁLISE

SISTEMA EFICIENTE DEPENDE DA INTEGRAÇÃO DE VÁRIOS ATORES

Respício Antônio do Espirito Santo Junior

Especial para a Folha

Diferenças de tempos de voos entre duas cidades são comuns na aviação. Condições meteorológicas e aerovias distintas para ida e para a volta, além da variação dos ventos em rota, são fatores que fazem isso acontecer.
Também são fatores influentes o gerenciamento do volume e dos fluxos de tráfego aéreo nas áreas terminais e nas aerovias, bem como o número de voos chegando e partindo nos aeroportos.
E chegado ao aeroporto, não apenas o seu administrador/operador tem papel chave no tempo de solo, mas as empresas aéreas e suas prestadoras de serviços devem buscar a máxima eficiência e sinergia nas operações para que os voos que chegam não atrasem os que partem.
No mundo real de trocas constantes de portões de embarque, de atrasos e de constantes conflitos sobre responsabilidades, fica evidente que temos muito a melhorar.
Não basta cada ente ser de excelência se o sistema como um todo não o for. Da mesma forma, não adianta haver apenas algumas colaborações pontuais entre os atores aqui citados; é imprescindível haver visão de negócios e de propósitos comuns, dinâmicas que unam todos de forma inseparável e igualitária.
Parcerias contínuas, comprometimento e visão sistêmica são a base para tudo.
Se a nossa realidade já fosse assim, parte da missão de cada ator aqui citado seria de auxiliar os demais a serem cada vez melhor no que fazem.
O objetivo comum a todos seria o de buscar o melhor e mais seguro sistema de transporte aéreo para a sociedade brasileira. Quando isso de fato acontecer, perceberemos instantaneamente.

RESPICIO A. ESPIRITO SANTO JR. é professor do departamento de transportes da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo / imagem divulgação)

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