segunda-feira, 30 de julho de 2012

VIAJANTES SÃO SURPREENDIDOS COM TAXA EXTRA PARA TROCAR MOEDA NO AEROPORTO



Antes de entrar no avião para passar as férias em Paris com suas duas filhas, Giselle Lima Pereira Galhardo, de 32 anos, resolveu comprar um pouco mais de euros. Ela estava no aeroporto de Cumbica, em São Paulo, e quis aproveitar que tinha uma folga até o horário do embarque para trocar o que ainda tinha de reais na carteira. No entanto, teve uma surpresa quando chegou aos guichês dos bancos e das casas de câmbio do aeroporto. A maioria das empresas estava cobrando taxas entre R$ 15 e R$ 250 para trocar a moeda. Apesar de ser legal, autorizada pelo Banco Central, a cobrança deixou Giselle furiosa. “Acho que isso um absurdo. É uma exploração de quem está saindo de viagem, geralmente com pressa, e precisa trocar o dinheiro aqui.”
Mas não somente a tarifa incomodou a viajante, ela também ficou insatisfeita com a forma como as empresas dão as informações sobre as taxas. Foi difícil entender com clareza o era a tarifa, o que era imposto sobre operações financeiras (IOF) e o preço da moeda estrangeira. “Fiquei um pouco confusa na hora da compra, pois as cotações e taxas variam muito, e acabei pesquisando em quatro lugares diferentes antes de fechar,” diz.
Quem não tem uma calculadora em mãos, paciência para perguntar e tempo para pesquisar, como fez Giselle, precisa ter muita sorte para fazer o melhor negócio. Isso porque entender as contas das empresas na hora de trocar moeda ficou ainda mais difícil com as novas taxas, que passaram a ser cobradas recentemente pela maioria das casas que operam no aeroporto. O Bradesco, por exemplo, começou a taxar o cliente em março deste ano, e a Confidence passou a cobrar sua tarifa em julho deste ano
Para conferir as dificuldades e surpresas enfrentadas pelos viajantes, a reportagem do iG passou pelas sete empresas de câmbio do Aeroporto de Cumbica (Bradesco, Banco do Brasil, Safra, Confidence, Cotação, Santander e Itaú Unibanco) perguntando informações sobre a compra de dólares. Apenas o Santander e o Itaú Unibanco não cobram taxas adicionais para fazer as operações cambiais. No caso do Itaú, a troca de dinheiro só é feita para os correntistas do banco.
Segundo o levantamento do iG, com o efeito da tarifa adicional, a diferença no bolso do cliente pode superar R$ 70 na hora de trocar R$ 1 mil em dólares, dependendo da instituição escolhida. No Bradesco, onde a taxa é de R$ 60, o viajante levava US$ 429 na última quarta-feira, sendo que o banco cobrava R$ 2,18 pela moeda. Enquanto isso, quem era cliente do Itaú Unibanco conseguia US$ 462. No Santander, o correntista do banco teria US$ 461, enquanto o comprador sem conta na instituição teria US$ 454.
Além do inconveniente da taxa, considerando que quem troca a moeda no aeroporto muitas vezes está apressado e não tem outra opção, nenhuma das empresas informou o valor da moeda, do IOF e da taxa, separadamente, antes da reportagem do iG perguntar. No Banco do Brasil, o atendente só disse o preço do dólar antes do imposto e da taxa (que neste estabelecimento variava de R$ 75 a R$ 250), após a insistência do repórter. Na Confidence, o atendente informou a taxa prontamente, mas só passou o preço do dólar sem o IOF quando questionado.
O maior problema de não saber quanto está pagando em cada um dos itens é uma surpresa desagradável no final da compra. Se o cliente olhar apenas a cotação da outra moeda estrangeira, pode se dar mal. Isso porque as empresas podem se aproveitar da confusão dos clientes sem tempo para ficar fazendo contas para ganhar vantagem. Uma casa pode oferecer o dólar a R$ 2,10, por exemplo, mas depois somar uma taxa de R$ 75, como é o caso do Banco do Brasil. Enquanto isso, outra pode vender a moeda a R$ 2,19, sem taxa, como é o caso do Santander. Se olhar apenas o preço do dólar, o cliente leva US$ 25 a menos em uma compra de R$ 1000 neste exemplo. Se estivesse comprando R$ 10 mil, a perda seria de pelo menos US$ 250, correspondentes a aproximadamente R$ 540.
Segundo o Banco Central, todas as instituições são obrigadas a informar, com clareza, todos os itens que compões o chamado Valor Efetivo Total (VET) da operação, distinguindo o que é o preço da moeda, o IOF e a taxa, quando existente. Como a maioria não se prontifica a informar, a sugestão do BC é que o viajante pesquise com calma, pergunte todas as taxas e faça contas antes de fechar a compra. Assim, não se torna uma vítima de eventuais jogos de números das instituições.
Em geral, as empresas também não têm painéis ou banners presos nos guichês, à vista do cliente, informando sobre a taxa. O Banco do Brasil tem uma folha sulfite presa no vidro que separa o atendente do cliente, mas o comunicado não diz que a taxa mínima é de R$ 75 e a máxima é de R$ 250, variando proporcionalmente com o valor de moeda estrangeira que está sendo transacionado.

PARA QUE SERVE A TAXA?

Procuradas pelo iG, Cotação e Confidence explicaram que aplicam as taxas por causa do custo de manter as lojas abertas durante 24 horas. A Cotação, que está cobrando R$ 15 por operação, disse que a taxa é usada para compensar o ticket médio do aeroporto, que é inferior ao padrão da empresa. “Portanto, o objetivo desta cobrança é garantir uma rentabilidade mínima na operação,” informou a casa de câmbio por meio de sua assessoria de imprensa.
Justificativa parecida foi usada pela Confidence, que também tem uma taxa de R$ 15. “Os custos envolvidos em uma operação aeroportuária são bem maiores que nos espaços comerciais em shoppings centers ou áreas urbanas. E as lojas também ficam abertas 24 horas, gerando um custo maior,” afirmou Paulo Volpe, vice-presidente de Marketing do Grupo Confidence. Ele acrescentou que a taxa é uma “prática de mercado.”
Mas a explicação do Bradesco foi bem diferente. O banco informou que cobra R$ 60 para o câmbio não apenas no aeroporto, mas também em todos os locais em que faz operações de câmbio em papel moeda. No entanto, o banco não detalhou a razão e informou que vem taxando os clientes desde março de 2012 e que o valor consta na tabela de tarifas do banco.
O Banco do Brasil, por sua vez, disse que a taxa é uma “remuneração pela prestação de serviços prioritários a pessoas naturais, conceituada como tarifa, conforme autorizado pelo Banco Central (Resolução Bacen nº 3.919)”. A instituição estatal explicou que cobra, na venda de moeda estrangeira, 3% do valor total da operação, sendo R$ 75,00 o valor mínimo e R$ 250,00 o valor máximo, desde quando começou a prestar o serviço de câmbio.
O Banco Central (BC) explica que as taxas cobradas no aeroporto são amparadas pela resolução 3919, do Conselho Monetário Nacional, que dita as regras gerais de taxas e tarifas que podem ser cobradas ou isentadas por todas as instituições autorizadas a operar no País. Segundo o BC, não há a determinação de um limite de valor para as empresas taxarem os clientes que compram moedas estrangeiras.

MENOS INFORMAÇÃO, MAIS CONFUSÃO

Sobre as confusões na hora de informar preço das moedas, IOF e taxas, as empresas afirmaram que seus funcionários são instruídos a serem transparentes e claros, e que não têm o objetivo de enganar os clientes apressados do aeroporto.
A reportagem do iG também enfrentou outros problemas na hora de levantar os custos das operações cambiais. Além de não destrinchar os valores da operação antes de ser questionado, o atendente do Banco do Brasil (BB) disse à reportagem que a taxa era de R$ 75, no máximo, quando o valor da operação é até US$ 1 mil ou 1 mil euros. Para montantes superiores, segundo o atendente, não haveria cobrança de taxas. Após o iG ter verificado que as contas não batiam, o funcionário disse que existe uma taxa de 3% do valor da operação, sem dizer que o máximo era R$ 250. O atendente chegou a dizer que a partir de US$ 1 mil “seria como se não tivesse taxa, pois o preço do dólar ficaria mais baixo.” Por meio de sua assessoria de imprensa, o BB disse que qualquer problema de informação pode ter acontecido por conta de alguma "confusão no momento" e que todas as informações sobre tarifas estão disponíveis no portal do banco.
Os atendentes das centrais telefônicas da Cotação e da Confidence também geraram confusões, passando informações diferentes das prestadas no aeroporto. O funcionário da Cotação não informou que a compra no aeroporto teria taxa, e a empresa disse ao iG que está verificando o ocorrido. Também por telefone, a informação passada pelo funcionário da Confidence foi de que a taxa de R$ 15 era uma “tarifa do aeroporto.” A empresa se desculpou e esclareceu que a taxa é da instituição e é cobrada exclusivamente no aeroporto.
Também no aeroporto, o funcionário do Bradesco só explicou que os US$ 429 comprados com R$ 1.000 já estavam com o desconto da taxa de R$ 60 e do IOF embutidos depois de a reportagem ter perguntado. Por meio da assessoria de imprensa, o banco afirmou que seus funcionários “são instruídos e orientados para fornecer todas as informações referente a taxa de câmbio, a tarifa cobrada pelo produto e IOF.”

(Fonte & imagem : Portal iG de Notícias)

Nenhum comentário:

Postar um comentário