A crise tem levado muitos brasileiros a abrir pequenos negócios sem
nenhum planejamento. Esse fenômeno tem nome: é o empreendedorismo por
necessidade.
Ele ocorre quando uma pessoa perde o emprego e, sem fonte de renda,
decide empreender. Em 2016, 12,3 milhões de pessoas ficaram desempregadas no
país, segundo o IBGE.
A organização da Feira do Empreendedor, do Sebrae-SP, calcula que 80%
dos atendimentos realizados nessa edição têm como objetivo resolver problemas
de quem abriu um negócio às pressas.
A GEM (Global Entrepreneurship Monitor), pesquisa da London Business
School feita em dez países, detectou que o fenômeno segue o desdobramento da
crise brasileira: entre 2014 e 2015, o índice de empresas abertas por
necessidade no país cresceu de 29% para 43,5%. Foram entrevistados 2.000
empreendedores no Brasil.
O psicólogo Samuel Lana, 33, diz que se viu forçado a abrir um negócio
quando perdeu o emprego, em 2011. Amante de skate, não gastou muito tempo para
definir em qual ramo iria entrar. Ele criou com mais dois amigos uma fábrica do
produto em Jaguariúna (SP), em 2012.
"Não estudamos o mercado e tivemos transtornos com a importação das
peças. Nossos gastos acabavam superando o valor das vendas."
Após um ano e meio de operações e 650 skates produzidos, a fábrica
fechou em 2013 —e com dívida.
"Não tínhamos um plano de negócio e tudo o que a gente decidia
hoje, mudava no dia seguinte", pontua. Hoje, Lana segue à frente de outra
empresa, só que optou por um modelo já pronto: uma franquia do ramo imobiliário.
A administradora Valdirene Diniz, 36, de Suzano (Grande SP), ainda não
voltou aos trilhos após ter sido demitida, em 2012.
Desde 2015 ela tenta erguer a Sr. Brigadeiro e a Sra. Beijinho, que
produz doces com recheios como tequila e especiarias. "Quando perdi o meu
emprego, entrei em depressão. Não é fácil manter um negócio próprio, mas sinto
que ele pode crescer", afirma.
PLANEJAMENTO
Para Paulo Ribeiro,
gerente do Sebrae-SP, uma empresa só prospera se consumir, ao menos, seis meses
de planejamento. "Nesse intervalo, o empresário vai estudar se o produto
ou serviço que ele oferece tem demanda e quais são os custos e os
entraves."
Foi o que fez a
administradora Fabiana Nemer, 45. Ela e mais uma sócia criaram a Vilight,
empresa de São Paulo que desenvolve dietas para atletas e pessoas que passaram
por cirurgia bariátrica.
"Experimentamos
a comida da concorrência e selecionamos o que era bom e o que não era para a
nossa cozinha", diz a administradora.
Nemer diz que foi
impactada pela crise, mas a empresa segue firme. "Tive que demitir dez
funcionários porque os pedidos caíram 35%. Foi o planejamento que nos
salvou."
"A dica
universal é começar pequeno em um ramo que, de fato, já conhece", afirma
Igor Piquet, gestor de aceleração de negócios da Endeavor. Muita gente quebra,
diz ele, por investir mais que do que o lucro suporta.
Ribeiro, do Sebrae-SP, chama a atenção para outro detalhe: a caixinha dos imprevistos. "O empresário precisa guardar um recurso para cobrir gastos não planejados."
Ribeiro, do Sebrae-SP, chama a atenção para outro detalhe: a caixinha dos imprevistos. "O empresário precisa guardar um recurso para cobrir gastos não planejados."
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(Fonte : Jornal Folha de SP / Imagem divulgação)
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