*Por
Silvio Cioffi
O primeiro dia deste
ano amanheceu sombrio para os operadores de turismo –e trouxe
uma triste e inesperada notícia: uma normativa, depois ratificada no
Diário Oficial da União, “brindava” os brasileiros com uma alíquota
de 25% no imposto de renda (IRFF) sobre remessas para pagar
serviços de viagens contratados no exterior.
Desde então, o atual ministro
Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB), vem “garantindo” às entidades
representativas do setor e aos operadores –entre eles, a Braztoa, a
Abav-Nacional e a Clia-Abremar, além de dirigentes da CVC– que haveria uma
reformulação e que a nova alíquota seria de “só” 6% (ou seriam 6,38%?).
Chegamos a fevereiro, o imbróglio continua, e
a despeito da romaria que os operadores têm feito a Brasília, das fotos
que têm tirado ao lado do ministro Henrique Alves, a alíquota de 25% continua
em vigor, consoante que está com a sanha arrecadatória do governo federal e com
a estratégia de dificultar a saída de divisas.
Após sucessivas promessas não cumpridas,
a modificação, que deveria ter sido publicada na última sexta (29), ficou
para 1 de fevereiro. Mas será mesmo que a palavra do ministro do
Turismo vai ser cumprida?
Político experimentado, deputado federal por
11 legislaturas, não foi por acaso que Henrique Alves virou ministro do
Turismo.
Se você pensou que ele entendia do assunto,
que empreendeu ou se interessou pela indústria de viagens, a resposta é não:
ele não tinha –e aparentemente continua a não ter—nenhuma afinidade com a
pasta.
A favor dele, pesou o fato de ser um
quadro diretivo do velho PMDB.
Logo que assumiu, é verdade, Henrique Alves
mostrou força política ao conseguir a aprovação no Congresso para a
dispensa de visto, por três meses, de estrangeiros que virão ao
Brasil na época dos Jogos Olímpicos Rio-2016.
Foi uma bola dentro, tentar atrair mais
visitantes do estrangeiro para o país é positivo e necessário, mas, neste
momento, com a delonga em resolver a questão do novo imposto que na
prática encarece bastante as viagens de brasileiros ao exterior, a
lua-de-mel do ministro do Turismo com o setor de turismo está azedando.
2015 já foi um ano particularmente duro para
os operadores, o dólar subiu 50% no ano, operadores tradicionais, entre
eles a tradicional Nascimento Turismo, fecharam as portas.
Se nada ficar resolvido, ficará claro
que o governo federal não dá a mínima para o setor de turismo, que o
pano de fundo é tornar as viagens para o exterior proibitivas e arrecadar,
arrecadar, arrecadar…
NÚMEROS PÍFIOS
Na contramão dos países que levam a
indústria do turismo a sério, nesses últimos anos,
o Brasil permaneceu, em relação ao receptivo, empacado na
marca de 5,5 milhões de turistas estrangeiros/ano.
Em 2014, é verdade, o número melhorou um
pouco: no ano da Copa do Mundo, cerca 6,7 milhões de viajantes
internacionais para cá vieram.
Mas, também em 2014, a título de
comparação, os números totalizados por órgãos oficiais dos
maiores países receptivos e por organizações como Organização Mundial
do Turismo (OMT), registram que França recebeu mais de 85
milhões de viajantes estrangeiros; os EUA, 75 milhões; a Espanha, 65 milhões; a
China, 56 milhões, e a Itália, algo em torno de 48 milhões de turistas
estrangeiros.
Há inclusive metrópoles e cidades-Estado que
ganham de longe do Brasil no quesito atrair visitantes estrangeiros, caso de
Hong Kong, hoje reincorporada à China, que recebeu quase 28 milhões de
turistas em 2014.
De acordo a Euromonitor International e seu
estudo Top 100 City Destinations, Hong Kong recebeu precisamente 27,7 milhões
de estrangeiros no período, com mais de dez milhões de pessoas a mais
em comparação com o segundo colocado, que foi Londres.
A Europa, por sua vez, permanece como
um sonho de consumo mundial e sobretudo aos que se iniciam no mundo
das viagens.
Já o Brasil, basta a ver pela lista abaixo,
vai continuar na periferia da periferia da periferia:
Confira os números de visitantes estrangeiro
sem 2014, de acordo com a pesquisa Top 100 City Destinations:
1- Hong Kong (China) – 27,7 milhões de turistas 2- Londres (Reino Unido) – 17,3 milhões 3- Cingapura – 17 milhões 4- Bangcoc (Tailândia) – 16,2 milhões 5- Paris – 14,9 milhões 6- Macau – 14,9 milhões 7- Shenzhen (China) – 13,6 milhões 8- Nova York – 12,2 milhões 9- Istambul (Turquia) – 11,8 milhões 10- Kuala Lumpur (Malásia) – 11,6 milhões
1- Hong Kong (China) – 27,7 milhões de turistas 2- Londres (Reino Unido) – 17,3 milhões 3- Cingapura – 17 milhões 4- Bangcoc (Tailândia) – 16,2 milhões 5- Paris – 14,9 milhões 6- Macau – 14,9 milhões 7- Shenzhen (China) – 13,6 milhões 8- Nova York – 12,2 milhões 9- Istambul (Turquia) – 11,8 milhões 10- Kuala Lumpur (Malásia) – 11,6 milhões
(Fonte : J. Folha
de SP – 01-02-2016 / Silvio Cioffi é repórter especial.
É graduado pela Faculdade de Direito da USP, universidade onde também estudou
ciências sociais. Foi coordenador de Artigos e Eventos (1984-1991) e, a
seguir, editor de Turismo (1991-2013) do jornal. Em 2013, participou do
programa Knight Wallace Fellows da Universidade de Michigan-EUA)
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