quarta-feira, 7 de novembro de 2012

TURISMO NA CAPITAL CRESCE ALHEIO À CRISE


Embora a crise na Europa tenha afastado os turistas do Brasil, a expectativa é que o setor encerre este ano com um crescimento de 10% na capital federal, quase o dobro da estimativa nacional, conforme os dados preliminares da pesquisa anual do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). Até outubro, o número de pessoas que desembarcaram no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek aumentou 11,47%, enquanto em cidades do Nordeste houve uma queda expressiva: em Salvador, a taxa decresceu 21,76% no mesmo período e em Recife, 19,97%.
O resultado positivo de Brasília se deve aos visitantes dos países latinos e da América do Norte, menos impactados pela turbulência econômica global. Além do Distrito Federal, nos primeiros 10 meses deste ano, aumentou o número de viajantes estrangeiros em Porto Alegre (31,77%), no Rio de Janeiro (19,34%) e em São Paulo (2,01%). Essas regiões abrigam um perfil diferente de visitantes, semelhantes ao dos que desembarcam na capital do país.
As curvas criadas por Oscar Niemeyer são o principal atrativo da capital. O arquiteto norte-americano Jonathan Hickerson, 30 anos, foi um dos que trocaram as praias do Nordeste pela arquitetura brasiliense. "Tudo isso que estou vendo aqui estudei na faculdade, e é muito diferente do que já vi", disse o jovem. Ele desembarcou na cidade no início desta semana, e seguiu, ontem, para Curitiba. "Estive no Rio de Janeiro e também em São Paulo. O Brasil é famoso pelas praias, mas eu procurava algo diferente. Vim ao Brasil pela primeira vez, e talvez, em outra ocasião, eu volte para conhecer as belezas naturais", ressaltou.
O presidente da Embratur, Flávio Dino, explicou que o turismo no Nordeste é muito voltado a países da Europa, como França, Portugal e Itália e, por isso, apresentou queda neste ano. "Quando o orçamento aperta, a viagem de férias é o primeiro item a ser cortado. Com a crise na Europa, eles preferem visitar lugares mais próximos e mais baratos", salientou. Ele afirmou que Brasília tem um grande potencial turístico. "O que movimenta o setor no DF são, principalmente, viagens de negócios. Há ainda aquele que vem por lazer, mas tem um perfil diferente. Ele procura turismo de aventura em lugares próximos, como Chapada dos Veadeiros (GO), ou quer conhecer a arquitetura."

PARCERIAS

Segundo Dino, há um grande investimento no setor em Brasília, por conta das copas do Mundo de 2014 e das Confederações, no próximo ano. "Vamos aproveitar os eventos para expor a cidade e o que ela tem a oferecer. Há, por exemplo, uma ação conjunta com Pirenópolis (GO) para a elaboração de exposição de fotografias no edifício sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York . Levamos o Clube do Choro para Santiago, no Chile, tudo isso para incentivar o turismo na capital federal", disse o presidente da Embratur.
"Assim como outros destinos turísticos, o DF enfrenta influências sazonais. A cidade tem elementos singulares para atrair o visitante. Além de ser a capital do país, com pontos ligados aos Três Poderes, é um local planejado e tombado", comentou o professor do Centro de Excelência em Turismo (CET) da Universidade de Brasília (UnB) Luiz Carlos Penna. "Brasília também vive um bom momento gastronômico e cultural, com diversos festivais, que podem ser um atrativo", completou.
O comércio local sentiu necessidade de se adequar à crescente visitação de estrangeiros a pontos turísticos da cidade. O artesão Gilberto Castro, 41 anos, dos quais três na cidade, notou o aumento de visitantes. "Percebi que é preciso aprender outras línguas para atender a demanda de turistas. Muitos querem consumir nossos produtos, mas não conseguem se comunicar. Utilizo a calculadora para mostrar o preço e me viro com a mímica. Quando eles falam em espanhol fica mais fácil", disse. Ele comemora o aumento no setor. "Quem vem de fora acaba dando mais valor ao nosso trabalho e compra mais. Isto é muito bom."

REGISTROS

Somente a partir de 2008, o Embratur começou a contabilizar o número de visitantes de outros países em Brasília. Anteriormente, o índice era considerado irrisório e não entrava nas estatísticas. Nos últimos quatro anos, o total de turistas estrangeiros saiu de 29.485 para 63.384, um salto de 114%. Entre 2010 e 2011, quando as empresas aéreas apostaram de vez em voos diários, o aumento foi de 67,1%.

DEFICIÊNCIA NA INFRAESTRUTURA

Mesmo com a alta no turismo, Brasília ainda enfrenta alguns gargalos relativos à infraestrutura, o que acaba impondo dificuldades ao visitante. A falta de mobilidade e de comunicação são grandes problemas. Muitos visitantes reclamam do transporte público e das dificuldades para se comunicarem mesmo em pontos turísticos. "Melhorar o sistema de locomoção é o principal desafio para o governo, principalmente por conta dos eventos internacionais que receberemos. Se compararmos com São Paulo, o metrô fica muito atrás", comentou Flávio Dino, presidente da Embratur.
Quanto à comunicação, Dino explicou que o Executivo federal e o local não medem esforços para a qualificação de trabalhadores bilíngues até a Copa do Mundo. "Temos programas profissionalizantes que visam o ensino de outros idiomas para melhor atender os turistas" completou. O arquiteto norte-americano Jonathan Hickerson, 30 anos, sentiu dificuldades para se locomover. "A cidade é muito grande e os ônibus não chegam a todos os lugares. Não conseguia ler para onde ia ou de onde vinha, e as pessoas não sabiam me informar. Por isso, conheci apenas lugares próximos à Esplanada dos Ministérios", reclamou.
A violência também é um dos fatores que afasta o viajante da capital federal. "A segurança pública é um problema real. Ainda assim, não é um privilégio de Brasília. Todas as grandes cidades vivem essa situação e, no DF, chega a ser menos evidente que em outros lugares", disse o professor da Universidade de Brasília (UnB) Luiz Carlos Penna.

(Fonte : Jornal Correio Braziliense / imagem divulgação)

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