quarta-feira, 4 de julho de 2012

CRISE DEFLAGRA TERCEIRA ONDA ESPANHOLA NO BRASIL


A crise econômica que se aprofunda desde 2008 na Europa criou a terceira onda de capitais espanhóis no Brasil.
Levantamento da Câmara Oficial Espanhola de Comércio, instituição que monitora há 50 anos a relação bilateral, indica que empresas espanholas programam investimentos de R$ 44 bilhões no Brasil até 2015.
Os setores vão de infraestrutura a software, de trens e vagões a imóveis.
As duas ondas anteriores - a da privatização e a dos anos 2000- aplicaram no Brasil, segundo informação da Câmara, R$ 164,7 bilhões.

DECISÃO LUCRATIVA

O investimento tem retorno, mostram as remessas de lucros de empresas espanholas compiladas pelo Banco Central a partir de 2005 -quando o confronto entre investimentos e remessas de lucros passou a ser registrado.
No caso das remessas, saíram do Brasil rumo à Espanha US$ 19,122 bilhões entre 2005 e 2011. Os investimentos no mesmo período foram de US$ 18,002 bilhões. O número inclui a megaoperação de compra da Vivo pela Telefônica. Somente esse negócio representou investimento de US$ 9 bilhões.
Só no ano passado, as espanholas remeteram para suas matrizes US$ 4,7 bilhões, cifra superior ao que foi enviado em 2008, quando explodiu a crise financeira global. Naquele ano, as empresas espanholas remeteram US$ 4,4 bilhões.
Segundo Maria Luisa Castelo Marin, diretora-executiva da Câmara Brasil-Espanha, as remessas "ajudam as empresas na Espanha, mas também faze com que muita empresa veja no Brasil oportunidades que não consegue ver na Espanha neste momento", diz Maria Luisa.
O bom desempenho tem atraído, além de empresários, profissionais. A Câmara recebe por mês cerca de cem currículos de espanhóis de nível técnico interessados em trabalhar no Brasil.

BUROCRACIA E TRIBUTOS

Só no primeiro semestre deste ano, a Câmara recebeu consultas de mais de 150 empresas. Queriam saber como podem investir no Brasil. O principal problema não é a língua ou a distância.
"Burocracia e tributos são os grandes problemas que os espanhóis enfrentam aqui. Por isso temos orientado o investidor espanhol a se associar a um empresário local. Isso facilita muito as coisas", afirma Maria Luisa.
Empresas-símbolo do capital espanhol no Brasil, os grupos Santander e Telefônica são exemplos de êxito no Brasil. Hoje, 27% do lucro auferido pelo Santander, instituição que adquiriu o ex-banco estatal Banespa, vem da operação brasileira.
É mais do que o dobro da contribuição do Santander Espanha, que é de 12%. "O Brasil é a unidade mais importante do mundo", afirma Juan Hoyos, vice-presidente do banco.
Tamanha relevância é o que tem embasado uma frase repetida à exaustão pelos executivos do banco: "O Santander não está à venda!".
Já a Telefônica, que em 2011 fez operação bilionária para comprar a Vivo, executa um plano de investimento de R$ 24 bilhões, com razoável folga.
Segundo Gilmar Camurra, vice-presidente financeiro, a dívida líquida da Telefônica equivale a 20% da geração de caixa (Ebitda) de apenas um ano. Como se vê, aqui as espanholas não veem crise.

EMPRESAS OLHAM DE TREM-BALA A ENERGIA EÓLICA

Depois de montar uma fábrica de trens em Hortolândia (SP), a espanhola CAF se prepara para disputar o projeto do Trem de Alta Velocidade que deverá ligar as cidades de Campinas, São Paulo e Rio.
A CAF negocia com conterrâneos a formação de um consórcio. A empresa vai incluir na oferta o compromisso de montar o trem-bala no interior de São Paulo.
"O nosso interesse foi informado à presidente Dilma pelo rei Juan Carlos [que visitou o Brasil em junho]", disse Paulo Fontenele, diretor-presidente da CAF Brasil.
A empresa investiu R$ 240 milhões em Hortolândia, onde tem uma estrutura para montar 500 carros por ano.
Com pedidos da CPTM,dos Metrôs de São Paulo e do Recife e do VLT de Cuiabá, a CAF Brasil, com pouco mais de três anos com operação industrial no país, já fatura mais do que a matriz. "O baixo investimento na Espanha e os projetos no Brasil tendem a manter essa situação nos próximos anos", diz.
Com a CAF veio a HM. A construtora foi contratada para erguer a fábrica de Hortolândia. Decidiu ficar.
Segundo o diretor comercial, Ramon Remacha, depois de pôr em pé 40 mil metros quadrados de construção, surgiram outros negócios.
A empresa foi contratada para construir outras duas fábricas de conterrâneas: Gonvarri (do setor siderúrgico) e GH (fabricantes de equipamentos industriais).
O negócio deu tão certo que a HM decidiu lançar dois prédios residenciais, em Campinas. Remacha olha agora os parques eólicos. Nem precisa. A empresa já é maior que a matriz.

(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo)

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