segunda-feira, 8 de março de 2010

PORTOS PRECÁRIOS AMEAÇAM CRUZEIROS NO NE

Os turistas de cruzeiros marítimos do Nordeste correm o risco de ficar a ver navios. Instalações portuárias precárias, falta de espaço nos píeres e falhas de segurança nos cais ameaçam investimentos privados no setor. Por causa desses problemas, a MSC Cruzeiros, líder de mercado, cancelou a próxima temporada de um navio na região.
Essa estrutura deficiente dos terminais portuários nordestinos é listada pela Abremar (associação do setor). Faltam estruturas eficazes de check-in, segurança para as bagagens e salas de espera de acordo com a demanda de turistas.
Em Salvador, os passageiros fazem filas nas ruas para realizar o check-in porque a sala de embarque não comporta a demanda. No cais de Fortaleza, os turistas passam por áreas sujas com restos de cargas.
Para o presidente da Abremar, Ricardo Amaral, os portos do Nordeste podem perder os navios para novos destinos internacionais, como Dubai e Hong Kong, ou se tornarem apenas escalas, o que obrigaria os passageiros do Nordeste a viajarem para o Sul e o Sudeste para iniciar o cruzeiro -o que vai encarecer os pacotes.
"Nós não precisamos de portos luxuosos, com piso de granito. Na Suécia, há estruturas de embarque em tendas de lona que são mais confortáveis que os terminais sofríveis do Nordeste", disse Milton Sanches, diretor de cruzeiros da CVC.Após a primeira temporada do MSC Melody na região, a empresa decidiu cancelar o próximo período da mesma embarcação por falta de "condições adequadas de segurança e conforto para o embarque e desembarque" de turistas nos portos do Nordeste.
No mês passado, o mesmo navio saiu cinco horas antes do previsto do porto de Fortaleza e deixou quase cem passageiros sem embarcar.Os passageiros reclamam que só foram avisados na chegada ao porto. Eles devem processar a MSC.
"Os motivos que levaram ao cancelamento do MSC Melody deixam claro que não é uma questão isolada, mas sistêmica. A região está perdendo uma janela para se desenvolver e consolidar o mercado de cruzeiros", afirmou Amaral.

Setor em alta

No país, o setor cresce 33% ao ano. Nesta temporada, as empresas levaram 760 mil passageiros, crescimento de 40% em relação à temporada passada. As empresas não têm os números de quantos desses turistas saem do Nordeste.
"É desagradável, uma esculhambação ficar aguardando para embarcar sem nenhuma cobertura para sol ou chuva, sem cadeira para sentar ou mesmo segurança para nossas bagagens", disse a empresária Norma Costa, 47, que embarcou anteontem em Salvador.
Sem espaço na discussão do destino dos investimentos, as companhias marítimas temem a repetição de projetos fracassados -em Recife, por exemplo, foi inaugurado um terminal de passageiros precário, sem espaço para manobras nem profundidade suficiente.

ADMINISTRADORES DIZEM AGUARDAR INVESTIMENTOS

Os administradores dos portos do Nordeste que recebem cruzeiros marítimos admitem as falhas de infraestrutura apontadas pelas empresas, mas afirmam que o mercado precisa aguardar os investimentos antes de "abandonar o barco".Para o diretor-presidente da Companhia Docas do Ceará, Sérgio Novaes, as empresas já conheciam a estrutura dos portos do Nordeste, por isso "não podem agora decidir culpar os terminais da região".
José Rebouças, diretor-presidente da Companhia das Docas do Estado da Bahia, responsável pelos portos de Salvador e Ilhéus, admitiu que a estrutura turística dos locais é precária, mas afirmou que os administradores da região "ainda estão tentando se adequar a um filão de mercado muito recente".
Ele disse ainda que as filas de passageiros formadas fora do porto de Salvador serão resolvidas com a reforma do terminal, que receberá R$ 30 milhões do PAC da Copa.
A administração do porto de Cabedelo, na Paraíba, informou que a dragagem para aumento da profundidade do local, apontada como inadequada pelas empresas, será feita em abril deste ano. A obra está na fase de estudos de impacto ambiental.
De acordo com Hermes Delgado, diretor de operações dos portos de Recife e Fernando de Noronha, o terminal alvo de reclamações das empresas foi substituído em janeiro por um provisório de R$ 130 mil.
"Para o que estava antes, agora é uma maravilha", afirmou Delgado.

PASSAGEIROS TÊM DIFICULDADE PARA FAZER RECLAMAÇÃO NO EMBARQUE

A advogada Aurelina Pinto Dantas deixou de brincar o Carnaval com os filhos para viajar pela segunda vez de cruzeiro, mas não conseguiu embarcar em Fortaleza no mês passado porque o navio saiu cinco horas mais cedo.
"Eu procurei algum órgão oficial no porto para reclamar, obter informações, mas não encontrei nada", disse.
Um grupo com cerca de 50 clientes deve acionar judicialmente a MSC Cruzeiros nesta semana por danos morais e materiais. A empresa não quis comentar as ações.
O setor de cruzeiros marítimos não tem uma legislação ou regulamentação específica. Isso significa que o passageiro que enfrenta algum tipo de problema na viagem de cruzeiro encontra dificuldades para saber a que órgão reclamar.
A Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) diz que é responsável pela regulamentação dos terminais e transporte interno de passageiros, como o fluvial na Amazônia. O Ministério do Turismo diz que fiscaliza se os serviços prestados pelos navios estão de acordo com o pacote vendido.

(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo / Ed. Dinheiro / 08-03-10)

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