segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O SOL A SERVIÇO DO VIAJANTE

No ano passado, quando ainda presidia o site sobre reciclagem Earth911, Jonathan Smith queixava-se da frustração de embarcar num avião, após uma palestra ou um dia cheio de reuniões, carregando um celular desligado por falta de opções para recarga.
"Ter acesso a uma estação de trabalho ou encontrar uma tomada aberta durante conexões no aeroporto era simplesmente imprevisível demais", disse ele.
Smith, então, comprou um carregador solar portátil, que ele poderia apoiar na janela do avião. "Eu o plugaria no meu telefone e, quando pousássemos, eu estaria pronto outra vez." Claro que o carregador combinava bem com seus valores ambientais.
No entanto, ele disse que foi "por conveniência" que começou a carregar seus equipamentos com energia solar.
Smith é parte do crescente número de profissionais que, por praticidade ou preocupação ambiental, usam dispositivos portáteis de energia renovável -principalmente painéis solares, mas também geradores a manivela, conhecidos como dínamos, ou equipamentos a corda- para alimentar seus aparelhos em viagens a lugares com pouco ou nenhum acesso a eletricidade.
"Essa tecnologia torna o nosso trabalho possível", disse John Poulsen, ecologista que atua em florestas da África Central. Com frequência, a coleta de material leva Poulsen a até 40 km da estrada mais próxima. "A pesquisa que fazemos exige estadias que duram de duas a três semanas na floresta. E, se tivéssemos de voltar à aldeia a cada dois ou três dias por causa das baterias, simplesmente não daria para fazer [a pesquisa]."
Em termos gerais, a energia renovável portátil não é capaz de alimentar grandes equipamentos, como computadores de mesa ou impressoras. Mas pode gerar eletricidade suficiente para laptops, telefones por satélite, câmeras de vídeo e foto, gravadores de som, GPS e iluminação de um acampamento, afirmou Stuart Cody, dono da Automated Media Systems, em Massachusetts.
A empresa customiza equipamentos solares portáteis e sistemas de "backup" com baterias para aventureiros e executivos viajantes.
Os equipamentos melhoraram significativamente desde seu lançamento, em meados da década de 1990. Foi mais ou menos nessa época que o programa de conservação do canguru de árvore, administrado pelo Parque Zoológico Woodland, de Seattle, começou a usar a energia solar portátil em suas instalações na Papua-Nova Guiné.
"Inicialmente, pegamos painéis que não funcionavam muito bem", disse Lisa Dabek, diretora de conservação de campo do zoo. Agora, os painéis solares usados para alimentar laptops, equipamentos de navegação e telefones por satélite "são muito menores e muito mais portáteis", acrescentou ela.
A organização usa essa tecnologia por razões ambientais e de praticidade.
Geradores a combustível são muito pesados, "e carregá-los morro acima por dois dias não é viável", segundo Dabek. Além do mais, geradores "fazem muito barulho, o que iria assustar os cangurus de árvore".
Cody disse que os usuários têm de ser realistas sobre quanta energia os painéis portáteis podem gerar. "A maioria das pessoas que começa do zero não percebe que os painéis solares nem sempre fornecem um fluxo consistente de energia", disse ele. "O sol vai e vem. [Pode haver] uma sombra que reduz o fluxo de corrente."
Por isso, Cody sugere usar o equipamento para carregar baterias internas ou externas, e não para operar diretamente os aparelhos eletrônicos.
A eventual intermitência desses equipamentos pode ser um ponto fraco. Mas, para alguns usuários, esse sistema é literalmente uma salvação. "Temos leões e elefantes por perto aqui", disse Martin Graber, médico e consultor internacional de desenvolvimento que trabalha na região de Narok, sudoeste do Quênia.
Graber usa uma lanterna a energia solar quando vai ao banheiro externo durante a noite. "Quero assegurar que não haja animais." Além disso, "nunca tive qualquer problema passando pela segurança de aeroportos com esses carregadores", disse Smith, acrescentando que os seguranças costumam ficar intrigados.
"Quando você encontra esses dispositivos que são inovadores e socialmente responsáveis é fantástico", afirmou. Quem viaja a trabalho para locais remotos "tem essa necessidade real que é resolvida por estes dispositivos renováveis, e isso nos permite praticar o que pregamos", disse.

(Fonte : The New York Times / 22-02-10)

Nenhum comentário:

Postar um comentário