quinta-feira, 27 de outubro de 2011

BUENOS AIRES QUERIDA E MAIS CARA


Buenos Aires perde status de metrópole com preços baixos

A capital argentina barata que fazia a alegria (e enchia as malas) dos brasileiros ficou para trás. Pelo menos em itens como perfumaria, roupas, sapatos e miscelâneas, que encareceram e deixaram de ser uma pechincha.
Ingressos para eventos também têm saído por um preço salgado entre os portenhos: o show da banda escocesa de rock Primal Scream, cuja entrada mais barata (meia) custou R$ 60 em São Paulo, saiu em Buenos Aires por, no mínimo, 225 pesos (R$ 93), uma diferença razoável.
Alimentação, passeios e transporte, contudo, ainda compensam (veja infográfico acima). Um bom jantar em Puerto Madero -uma das regiões chiques da cidade- para duas pessoas com um vinho argentino pode sair, em média, 240 pesos (ou R$ 99), valor ainda abaixo dos restaurantes mais sofisticados de São Paulo, por exemplo.
"Os restaurantes são a melhor opção", diz a relações públicas Marina Mosol, 29, que esteve na cidade no início do mês. "A comida é saborosa e os preços são atraentes. O uso de táxi também é opção que sai em conta." A analista de mídias sociais mineira Mônica de Paula, 32, que estava m Buenos Aires no final de setembro, concorda. Ainda dá para comer e beber pagando pouco. Comprar maquiagem e produtos de beleza compensa."
Isso depende, na verdade, do produto: batons da grife americana Mac e cremes hidratantes da francesa Rok custam, em média, o mesmo que no Brasil -R$ 70 e R$ 120, respectivamente.
"Quando fui em 2009 para Buenos Aires, comprei mais roupa que dessa vez", observa Mônica. "As roupas estão mais caras agora. Mas procurando, você acaba achando algumas com preço bom. Comprei uma blusa lá por 120 pesos (R$ 50) que aqui não seria menos de R$ 120."
Livros, porém, ainda valem a pena. "Os que comprei compensaram: custavam R$ 60 e, aqui no Brasil, valeriam, no mínimo, R$ 90. Além da livraria El Ateneo ser linda", afirma ela, sobre o edifício da livraria na avenida Santa Fé.

REELEIÇÃO SINALIZA UM NOVO PERONISMO

A Argentina acaba de reeleger, de maneira contundente, com quase 54% dos votos, a presidente peronista Cristina Kirchner.
A viúva de Néstor Kirchner (1950-2010) realizou uma primeira gestão controversa. Escândalos de corrupção, ataques à imprensa e falta de transparência são alguns dos aspectos negativos apontados por seus críticos.
Por outro lado, é fato que a Argentina, sob os Kirchner, ergueu-se economicamente do golpe que levou em 2001, com a crise que causou a queda de um presidente e a desvalorização do peso.
A economia do país cresceu nos últimos anos, devido, principalmente, à demanda do Brasil por produtos industrializados e por conta da alta do preço da soja.
Isso fez com que o poder de compra dos argentinos crescesse. E que o mercado de trabalho se estabilizasse. Pelo resultado das urnas, vemos que esses fatores foram essenciais para que as pessoas escolhessem Cristina novamente.
O turista que vier a Buenos Aires agora verá um comércio aquecido e um consumo revigorado. Porém, para os brasileiros, não está mais tão barato vir para cá fazer compras. A inflação alta (25%, segundo estimativas) não estimula extravagâncias como se fazia há pouco tempo.
Ainda assim, trata-se de uma cidade mais barata do que São Paulo e, escolhendo bem, é possível se divertir gastando pouco. A dica é evitar lugares muito turísticos, que tendem a ser mais caros, e aproveitar para fazer um tour a bairros menos centrais.
Santelmo, por exemplo, reúne boas opções de restaurantes, como o La Brigada (00/xx/54/11/4361-5557), onde se come uma boa parrilla a preços convidativos. Ali perto, próximo ao parque Lezama, onde Buenos Aires teria sido fundada, está o Centro Cultural Torcuato Tasso (http://www.torquatotasso.com.ar/ ), espaço pequeno e muito charmoso, onde se escuta boa música e come-se bem. Antes de entrar para assistir a um show, vale tomar um café no mítico bar Británico, localizado na esquina das ruas Brasil e Defensa.
Em Almagro, está um dos melhores espaços de tango da cidade, o La Catedral (lacatedralclub.com), que oferece aulas e bailes e é mais barato do que os salões criados para atrair turistas.
A época do ano, que corresponde ao começo da primavera, é ainda um convite para passear pelo parque Tres de Febrero, também conhecido como bosques de Palermo. Um programa animado, ensolarado e... grátis.

ESTÉTICA 'EUROPEIA' CONTRASTA COM RECANTOS ARROJADOS

Dizer que Buenos Aires é uma cidade "europeia" soa como clichê. Mas a capital argentina parece, sim, um pedacinho do Velho Continente embutido na América do Sul, com suas largas avenidas, "plazas" e "villas".
Não à toa, levou o apelido de a Paris desses lados no início do século 20, quando muito se investiu para dar a ela contornos de metrópole.
"Calles" (ruas) charmosas e geométricas no centro e em bairros tradicionais (como San Telmo, Monserrat, Congreso e Recoleta) sediam prédios com arquitetura inspirada nos estilos art déco e art nouveau -e que tampouco deixam de remeter aos edifícios neoclássicos de Madri e Barcelona, que formam o que a trigonometria chama de ângulo notável de 45 graus.
Buenos Aires também faz jus ao nome quando se anda pela rua Santa Fé, onde bancas de flores e incenso proliferam a cada quarteirão, em trajetos movimentados, coloridos, perfumados -e também repletos de lojas.
Na cidade também está a larga avenida 9 de Julio, centro do cosmopolitismo portenho, cuja demora para atravessá-la é alvo de chacota na cidade e pode chegar a dez minutos, segundo cronometrou a reportagem da Folha.
Já o encanto da avenida de Mayo, espinha dorsal que liga a plaza de los Dos Congresos (onde está a reprodução de "O Pensador", de Auguste Rodin, uma das oito cópias autorizadas pelo artista francês) à plaza de Mayo (endereço da Casa Rosada), fica ainda mais evidente na primavera, com as árvores mais floridas e verdejantes.

CAFÉS BOÊMIOS

É nessa via que fica um café antigo portenho, o Tortoni (cafetortoni.com.ar), frequentado por intelectuais e cuja existência ultrapassa os 150 anos de vida boêmia.
E também ali que fica a estação de "subte" (metrô) Perú, na esquina da rua homônima e ainda hoje decorada como na época de sua inauguração, no ano de 1913.
Não se pode, também, deixar de visitar La Boca, um dos bairros pitorescos que remete à imigração, sobretudo na multicolorida travessa Caminito, onde há casas pitorescas e performances artísticas.
Tome cuidado, no entanto, em regiões e ruas mais ermas do bairro em horários pouco movimentados.

COSMOPOLITA

A Buenos Aires tradicional contrasta com os bairros e lugares mais descolados e revitalizados, como Palermo ou Puerto Madero. Bares e restaurantes têm surgido m Villa Crespo e Colegiales, com opções mais módicas.
Palermo, no entanto, é o recanto do jet-set de Buenos Aires e demanda dois dias, no mínimo, para percorrê-lo.
Há diversas lojas de decoração e design, restaurantes e bares requintados.
No Mundo Bizarro (mundobizarrobar.com), por exemplo, é possível tomar drinques por 37 pesos (R$ 16) e espumante Chandon por 120 pesos (R$ 50).
Também existem parques no bairro, como o Los Bosques (que aglutina o planetário, o zoológico e o hipódromo) e o belo Jardim Botânico, que virou uma espécie de "casa" de gatos abandonados, alimentados por moradores.
Se a grana apertar, alugue uma bicicleta (em torno de 15 pesos/hora, ou R$ 6,30). Embora não tenha ciclovias, a cidade é plana e fácil para se deslocar, pedalando ou andando.

EVITE PERRENGUES QUE, INFELIZMENTE, ACONTECEM POR LÁ

Num sábado, por volta das 15h, a rua Florida é um formigueiro humano. O segundo idioma extraoficial é o português, tamanha é a quantidade de brasileiros transitando por uma das vias mais comerciais de Buenos Aires.
Foi lá, nesse horário, que ocorreu um furto de uma viajante brasileira que acompanhava a reportagem.
Enquanto escolhia, agachada, lenços de ambulantes que estendem artesanatos na rua - cuja estrutura é em formato de calçadão - a carteira foi levada de dentro da bolsa.
Além da dor de cabeça, o prejuízo foi contabilizado por volta de 200 pesos (uns R$ 82) e um cartão de crédito.
A beleza da capital argentina também projeta a sua sombra, um lado obscuro, que pode trazer problemas para turistas brasileiros.
Além de um furto sofrido, é possível ser alvo de desconfiança por prática (!) de furto. Em avenidas movimentadas e comerciais, como a Santa Fé e a Corrientes, não estranhe se vendedores ficarem xeretando próximos a você.
Sendo mulher, relaxe se, ao efetuar uma compra, o lojista pedir para que mostre sua (grande) bolsa. Não é uma atitude corriqueira - tampouco elegante - no comércio local.
Mas, enquanto a Folha esteve por lá, um canal de televisão argentino exibia reportagem narrando quais furtos perpetrados por mulheres têm sido mais comuns - daí, provavelmente, é que provém essa atenção dos lojistas.
Abstraia também as condições de atendimento. Os portenhos costumam ser mais relaxados no quesito de bajulação do cliente -não ligue, por exemplo, se o atendente deixar você se virar ao provar um calçado em alguma loja, ou se lhe contrariar calorosamente quando algum produto lhe parece insatisfatório.
É nessa hora que a fama passional e belicosa do argentino mais transparece.

TÁXIS DILETANTES

O viajante mais desavisado que opta por pagar o táxi com uma nota de cem pesos (R$ 41) se vê diante de duas hipotéticas, porém muito comuns, situações: a reclamação do taxista sobre o alto valor fornecido e/ou o troco devolvido em notas que não circulam mais -situação relatada em sites de viagens.
Portanto, ter dinheiro trocado para evitar problemas dessa natureza é fundamental. Uma dica é sacar 90 pesos, por exemplo, para ter trocados. Ou comprar alguma bugiganga qualquer no supermercado. Também vale navegar no site do Banco Central argentino (bcra.gov.ar) para ver como são as notas verdadeiras, e evitar um possível e ardiloso truque.

ENTRANDO E SAINDO

Preste atenção a um detalhe que parece irrisório, porém fundamental no caso de não querer tomar um susto.
Independentemente da documentação (RG, que é permitido nos países do Mercosul, ou passaporte), a imigração argentina lhe dá um papel de entrada no país. Não o ignore. Ele é fundamental para a saída, sob exceção de pagar uma multa de cem pesos em uma hipotética perda.
A bagagem também pode ser pesada no bolso: só uma mala de 23 kg por passageiro é permitida.
Extrapolando, paga-se caro: por volta de 25 pesos (R$ 10) por quilo excedente.

(Fonte & imagem : Jornal Folha de S. Paulo)

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