sexta-feira, 3 de junho de 2011

CARDÁPIO EM BRAILE



Não entendeu o título acima? É "cardápio", escrito em braile; restaurantes ignoram a lei e não têm transcrição para cegos em alto-relevo; serviço custa R$ 6 por página

"Parece que servem sopa aqui. Adoro. Ouvi a conversa na outra mesa", diz Bernadete Fonseca, 51, pouco antes de entrar no táxi que a espera, ao lado marido, na saída da Forneria San Paolo.
Bernadete vê apenas contornos de luz. Sofre de uma doença que a fez perder quase toda a visão. Conheceu Geraldo Fonseca, 53, (cego desde a infância) quando procurava se adaptar -e há quatro anos estão juntos.
Gostam de frequentar restaurantes, mas nem sempre têm facilidade à mesa. Na última sexta-feira, foram à rua Amauri, o badalado endereço gastronômico do Itaim Bibi (zona sul de São Paulo).
Dos 11 restaurantes dali, somente três -entre eles o Parigi- tem cardápio em braile, como manda a lei.
Acomodados à mesa da Forneria San Paolo, perguntam ao garçom sobre a especialidade da cozinha. O funcionário ensaia a leitura, mas, 15 minutos depois, finaliza poucas descrições.
Ele é interrompido, a cada instante, por perguntas como "Qual o valor desse prato?". O salão está cheio e ele não segue até o fim da lista.
"O menu em braile dá privacidade. Escolho o que dá água na boca e o que posso pagar", diz Bernadete assim que o atendente se vai.
Para atender aos cerca de 148 mil cegos no Brasil (número do IBGE), não é preciso investimentos altos. A transcrição, feita por instituições como a Dorina Nowill, custa R$ 60 por dez páginas.

OUTRO LADO

A Forneria San Paolo afirma que "nunca recebeu deficientes visuais" e que "tampouco tinha conhecimento da lei". Diz nunca ter recebido a fiscalização e que vai providenciar o cardápio adaptado em breve.
Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, que responde pela vigilância, "a fiscalização ocorre rotineiramente e todos os estabelecimentos da cidade são vistoriados".


EM BERLIM, GARÇONS CEGOS SÃO ATRAÇÃO DE NOVO RESTAURANTE

Restaurantes que oferecem uma "explosão dos sentidos" com uma refeição totalmente às escuras viraram febre ao redor do mundo.
Em Berlim, o Unsicht-bar (unsicht-bar.com) inovou na proposta ao empregar garçons cegos para guiar os clientes na mesa.
"A decisão de empregar cegos é dar a eles uma chance de trabalho. São mais adequados para mostrar como é comer no escuro", diz a gerente, Ute Benedick.
O restaurante emprega quatro pessoas na cozinha, duas na recepção e cinco garçons.
Apenas estes últimos são cegos ou possuem algum tipo de deficiência visual severa.
Cada um atende, em média, por noite, 25 clientes.
"Sinto-me útil ao ajudar as pessoas a terem, na experiência do escuro, outra percepção do mundo", diz Hedi, o garçom tunisiano.
Ainda no lobby, o cliente escolhe sua refeição. São cinco variações: vegetariano, peixes, carne ou o menu surpresa. Os valores são altos para os padrões berlinenses: variam de 39,50 a 59,50, (R$ 86 a 130) sem bebidas.
Os pratos são descritos em termos misteriosos. Uma das sobremesas é "cheia de paixão, a mulher de amarelo convida as frutas em maravilhosas vestes vermelhas" (era musse de maracujá com calda de frutas vermelhas).
O garçom senta o convidado na sala escura e explica como os objetos estão dispostos: prato, talheres, copos, a cestinha de pão.
Por questões de segurança, o cliente não pode deixar a mesa nem para ir ao toalete sem a ajuda do garçom.

(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo)

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