quarta-feira, 27 de abril de 2011

GOVERNO ACELERA CONCESSÃO DE AEROPORTOS



O governo lançará até junho os editais para a concessão de novos terminais em cinco dos principais aeroportos que passarão à iniciativa privada. O objetivo é acelerar as obras para dar conta da demanda e preparar o setor para a Copa e a Olimpíada.
O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, confirmou ontem decisão do governo de construir novos terminais em Guarulhos (SP), Brasília (DF) e Viracopos (SP). A Folha antecipou, na edição de ontem, o plano de criar três modelos de concessão.
Os editais de Guarulhos e Brasília devem sair já na semana que vem. As regras para Viracopos virão logo em seguida. Galeão (RJ) e Confins (MG) também estão na lista, embora em estágio menos avançado. O objetivo é que os editais desses empreendimentos sejam liberados até o fim do semestre.
"Em curto espaço de tempo teremos obras em regime de concessão dos três principais aeroportos que necessitam de investimentos", disse Palocci.
"Queremos combinar a urgência das obras com a necessidade dos investimentos públicos e privados para que a gente possa dar uma resposta a essas questões no menor espaço de tempo possível", afirmou o ministro.

MODALIDADES

O Executivo usará três modalidades de concessão para melhorar a infraestrutura aeroportuária: a puramente privada, caso de Guarulhos, Brasília e Viracopos; a mista (iniciativa conjunta com o poder público); e sistema de permuta em que a União faz a concessão de um determinado projeto em troca de investimento privado em aeroportos de baixa rentabilidade.
Para os projetos de Guarulhos, Brasília, Viracopos, Galeão e Confins, o governo deve adotar o regime tradicional de concessão. Integrantes do governo disseram que as vencedoras das concessões terão o retorno de todos os serviços prestados nos terminais: taxas de embarque, aluguel de lojas, restaurantes e lanchonetes.
O resto das obras consideradas prioritárias irá adotar as outras duas modalidades. A Infraero prometeu à Fifa a conclusão de 25 obras para garantir serviços da Copa.
Pelo cronograma do governo, todas as obras estarão prontas até o fim de 2013.
Após a concessão dos primeiros projetos, o governo passará à segunda fase de seu "pacote de concessões", focando então sobre os aeroportos do Nordeste. Há necessidade de investimentos pesados em terminais, pistas e pátios nos aeroportos de Recife, Salvador e Natal.

LOTAÇÃO EM AEROPORTOS SUPERARÁ PREVISÃO

Os aeroportos brasileiros deverão receber, em 2014, 33 milhões a mais de passageiros do que o previsto inicialmente pelas companhias aéreas. Serão 225,7 milhões de passageiros, ante uma previsão inicial de 192,35 milhões.
A diferença equivale a mais de um Cumbica e meio, considerando a capacidade atual do maior aeroporto do país -localizado em Guarulhos (SP)-, de 20,5 milhões de passageiros. E mostra que muitas das obras de ampliação de capacidade previstas pela Infraero já estarão defasadas na inauguração.
Os números constam de um estudo feito pela Coppe, programa de pós-graduação em engenharia da UFRJ, para o Snea, o sindicato das empresas aéreas.
A Infraero, estatal que administra os aeroportos do país, não divulga dados globais de previsão de demanda. Mas em Guarulhos, por exemplo, a Infraero planejou obras que elevarão a capacidade do aeroporto para 35 milhões de pessoas com base em uma previsão de demanda de 27,5 milhões para 2014.
"O problema é que a previsão de demanda está defasada. Chegamos a 2010 com 26,7 milhões de passageiros em Guarulhos", diz o professor de transporte aéreo da Coppe Elton Fernandes, responsável pelo estudo.
Em Campinas, a Infraero estima aumentar a capacidade para 11 milhões em 2014, com base em previsão de demanda de 6,6 milhões. Mas, em 2010, o aeroporto recebeu 5 milhões de passageiros.
"Prevemos 9,5 milhões para Campinas em 2014. Mas, com o congestionamento em Guarulhos e Congonhas, pode aumentar ainda mais", diz Fernandes.
O setor vinha crescendo 9,2% ao ano, em média, desde 2003 até meados de 2009, quando o crescimento médio anual passou para 23%.
Por considerar o crescimento de 23% como conjuntural, a Coppe estabeleceu em 10,7% a taxa esperada para os próximos anos.
Pela previsão anterior da Coppe/Snea, o país terminaria 2010 com um movimento de 145,4 milhões de passageiros nos 66 aeroportos administrados pela Infraero, mas foram 154,3 milhões.

APERTO

O estudo dá a dimensão do aperto vivido pelos brasileiros nos aeroportos. Eles recebem 165 passageiros por m2 (número de passageiros/ano dividido pela área do terminal), enquanto na Europa a média é 143, e nos EUA, 127.
As obras previstas deverão adicionar perto de 400 mil m2. Porém, com a nova previsão de demanda, o índice de aperto passaria para 171 passageiros por m2.
O estudo sugere que, para que os aeroportos brasileiros se adaptem à média mundial, será necessário adicionar 366 mil m2 além das obras já previstas. Isso equivale a duas vezes a área atual dos terminais de Cumbica.

MESMO NA CHINA, TERMINAL LEVA 4 ANOS PARA FICAR PRONTO

50 mil operários chineses trabalharam na construção do Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pequim.
Trabalharam noite e dia, iluminados com holofotes gigantes durante o turno da madrugada, e também aos finais de semana.
Não houve problemas de licença ambiental, e a camarada Justiça chinesa, braço do Partido Comunista, não criou contratempos.
O britânico Norman Foster, arquiteto do excelente aeroporto de Hong Kong, foi o responsável, junto com duas das maiores empresas de engenharia do mundo, uma da Holanda e outra do Reino Unido.
O orçamento, de US$ 3,65 bilhões, seria muitos maior se a obra não tivesse "custo China". Ainda assim, com know-how digno de Grande Muralha, a obra durou três anos e 11 meses.
O "exemplo" chinês é útil para calcular se a ampliação de Cumbica estará pronta ou não para a Copa do Mundo, que começa em 13 de junho de 2014, ou seja, em menos de três anos e dois meses. Isso se as obras começassem hoje, o que não é o caso.
Outros exemplos internacionais, além da superpotência chinesa, também são desanimadores. O emirado de Dubai, outra ditadura, construiu seu Terminal 3, o maior do mundo, com orçamento de US$ 4,5 bilhões, em quatro anos.
Com metade do tamanho dos terminais de Pequim e Dubai, o novo terminal de Nova Déli, capital da Índia, ficou pronto em três anos, sob as regras de uma democracia.
Mas foi uma concessão 100% privada, construído por alemães, malaios e indianos, com milhares de operários em regime digno da China. Uma pressa Bric incomum no Brasil.
Caso raro de grande ampliação que levou menos de três anos foi a extensão do aeroporto de Istambul. A capacidade de um terminal passou de 12 milhões a 20 milhões de passageiros em uma reforma que levou 27 meses.
Só que ampliar em 8 milhões de passageiros, meio Congonhas, não resolverá o aperto de Cumbica.

(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo / foto divulgação)

Nenhum comentário:

Postar um comentário