quinta-feira, 3 de março de 2011

CORTES NA PASTA DO TURISMO AFETAM PLANOS ELEITORAIS DE DEPUTADOS


O corte de todas as emendas parlamentares destinadas ao Ministério do Turismo ameaça os projetos políticos de 2012 e 2014 de boa parte dos deputados e senadores, além dos prefeitos que seriam os destinatários diretos dessas emendas. São 1.339 emendas que, somadas, alcançam pouco mais de R$ 3 bilhões e drenariam centenas de caixas municipais cujos mandatários já articulam suas sucessões e reeleições.
A Pasta era um dos principais alvos das emendas, tendo em vista a possibilidade de por meio dela ser possível realizar pequenas obras de infraestrutura com maior velocidade e consequente capitalização política.
Em 2010 os petistas foram os que mais apresentaram emendas para o Turismo e, portanto, os maiores prejudicados com o corte anunciado anteontem pelo Ministério do Planejamento. Suas bancadas na Câmara e no Senado destinaram R$ 919,9 milhões, sendo que muitos se utilizaram de toda sua cota parlamentar de R$ 13 milhões para o Turismo.
Foi o caso do senador José Pimentel (CE), ex-ministro da Previdência do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com interesses em disputar o governo do Estado em 2014. Sem especificar os municípios, ele direcionou R$ 11 milhões para "melhorar a infraestrutura turística em municípios do Ceará" e outros R$ 2 milhões para a "promoção de eventos para divulgação do turismo interno". Com o corte, perderá todos os recursos e terá de esperar 2012 para usufruir dos recursos parlamentares.
Com o horizonte em 2012, a senadora recém eleita Ângela Portela (PT-RR), presidente do diretório estadual do seu Estado, trabalha para manter o controle e a aliança com o prefeito de Boa Vista, Iradilson Sampaio (PSB), que deixa o cargo em 2012. A ideia é que a ex-deputada Maria Helena (PSB), sua aliada, o suceda naquela que é tida como uma eleição muito difícil, uma vez que será contra o grupo do senador Romero Jucá (PMDB) e do governador Anchieta Júnior (PSDB). Nesse sentido, desde 2008 ambas destinam a maior parte de suas emendas para a construção do primeiro teatro municipal de Boa Vista. Só neste ano, seriam R$ 10 milhões que foram cortados.
Situação semelhante ocorre em Maringá (PR), o terceiro maior colégio eleitoral paranaense. Ali é o reduto político da família Barros, cujo prefeito, Silvio, foi eleito em 2004 e reeleito em 2008. Seu pai, Silvio, foi prefeito de 1973 a 1976. O irmão, Ricardo, ocupou o cargo entre 1989 a 1992 e depois foi eleito deputado federal por sucessivas vezes. Em 2010, tentou uma vaga no Senado, mas perdeu. Como Silvio não pode concorrer e Ricardo não quer, por avaliar que seria regredir na carreira, a família busca um nome enquanto a oposição já constrói as suas candidaturas, provavelmente com deputados estaduais ligados á cidade. Os R$ 3 milhões de uma emenda parlamentar que Ricardo Barros deixou no Ministério do Turismo para obras de infra-estrutura turística ajudariam nesse cenário, mas foram cortados.
No PMDB, o deputado Manoel Júnior (PB) é pré-candidato a prefeito de João Pessoa, onde foi o candidato a deputado federal mais votado. Ele estrutura sua campanha mediante obras na cidade via emendas parlamentares e encontros com a população nos bairros populares da capital paraibana. Um dos maiores entraves é convencer seu partido no município, comandado pelo também deputado Benjamim Maranhão que também tem pretensões eleitorais no município em 2012. Maranhão, até esta semana, havia saído atrás na disputa interna. Seu tio, o ex-governador José Maranhão perdeu a reeleição para Ricardo Coutinho (PSB). O embate, porém, foi equilibrado com a perda de Júnior dos R$ 7,9 milhões de emendas para desenvolvimento do turismo que apresentou para cidades do Estado, dentre as quais a capital.
A oposição também foi prejudicada com os cortes. O senador Mário Couto (PSDB-PA), com grande base eleitoral na região de Salinópolis, balneário próximo à capital Belém. Ali, o tucano teve um aliado na prefeitura, Di Gomes, entre 2000 e 2008, quando o petista Vagner Curi derrotou seu sucessor. Desde então, o senador e o prefeito trocam ataques e antecipam o processo eleitoral de 2012. Couto articula a volta de Di Gomes e pretendia municiá-lo com obras como a recuperação da orla decorrentes de verbas de suas emendas parlamentares. Dos R$ 13 milhões que apresentou, R$ 8 milhões eram para a cidade via Ministério do Turismo.
Dois presidentes de diretórios regionais do Democratas também foram atingidos. No Maranhão, o deputado Clóvis Fecury (MA) tentou levar com suas emendas R$ 6,25 milhões a 14 municípios de sua base eleitoral no Maranhão, com o objetivo de fortalecer o partido nesses locais. Arolde de Oliveira, que exerce a mesma função no Rio, apresentou R$ 4,8 milhões em emendas para oito prefeitos de municípios predominantemente da Baixada Fluminense.

(Fonte : Jornal Valor Econômico)

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