terça-feira, 4 de maio de 2010

TERROIR EM FORMA


Vinícolas chilenas do Vale do Colchagua voltam à normalidade pós-terremoto. E continuam seduzindo os amantes do vinho

Menos de dois meses depois do terremoto que abalou o Chile, as vinícolas da Rota do Vinho do Vale do Colchagua – um dos mais belos destinos turísticos do País – estão novamente de portas abertas. E em busca de turistas. Estima-se que 12 mil pessoas deixaram de visitar a região por medo de novos tremores.Mas o presidente do circuito do vinho chileno, Mario Pablo Silva, garante que o Vale “voltou a funcionar como antes, está pujante e, ao contrário do que se pensa, a região não foi completamente destruída”. Tanto é assim que as principais adegas estão atendendo normalmente, os hotéis estão abertos e desde 20de março o Trem do Vinho segue seu requintado roteiro.
Trata-se de uma viagem pelos costumes e tradições chilenas em que o visitante toma o trem em Santa Cruz e segue até o coração do Colchagua, degustando os melhores e mais exclusivos vinhos da região. “As vinhas estão funcionando bem. E os serviços e a amabilidade continuam como sempre”, atesta a turista argentina Maria Alejandra Moreno.
Para os amantes do vinho é uma grande notícia. O Vale do Colchagua é o terroir chileno. A expressão francesa significa conjunto de solo, clima e plantas que define o estilo único de um vinho e o potencial de uma região. A 180 quilômetros ao sul de Santiago, tudo favorece a produção dos vinhos chilenos. São 20 mil hectares de solo rico em calcário, com pouca chuva e grande variação de temperatura, pois recebe ventos do Oceano Pacífico e da Cordilheira dos Andes.
De acordo com a revista especializada americana Wine Enthusiast, o Vale do Colchagua desbanca a região do Médoc, na França, e a do Priorato, na Espanha, sendo considerada a melhor região para vinhos do mundo. E graças ao cenário bucólico, desenhado pela imensidão verde dos vinhedos, a também americana Travel and Leisure classificou o lugar como um dos cinco melhores destinos de turismo do mundo.
É no Colchagua que estão os principais produtores de vinhos do Chile, como Lapostolle, Montes, Viu Manent, Santa Cruz e Hacienda Araucana. E nenhum deles foi gravemente afetado pelo terremoto. Quem for à vinícola Lapostolle, por exemplo, poderá conhecer a produção da vinícola que é pioneira no uso da gravidade para selecionar as uvas, retirando sem fricção o que há de melhor na fruta.
Também é possível degustar seu rótulo premium, o Clos Apalta, uma combinação de Carmenère, Merlot e Cabernet Sauvignon, desenvolvido pelo enólogo Michel Rolland, com quem a Lapostolle tem um contrato de consultoria exclusiva. A arquitetura da sede também encanta.
A adega possui seis andares incrustados na pedra e, apesar de a empresa possuir vinhedos em três importantes regiões do Chile, é no Vale do Colchagua que estão os maiores investimentos. “Aqui são elaborados apenas 2% da produção total da empresa, por ser uma produção cara”, explica Diego Urra, relações-públicas da vinícola.
“A colheita é feita à noite e 60 pessoas fazem a seleção manual dos grãos. Os bagos não são prensados e depois da criomaceração eles são vinificados inteiros em cubas de 7.500 litros de carvalho francês.” Na vinícola Montes, que perdeu apenas 5% de sua produção durante o terremoto, os vinhos voltaram a repousar ao som de canto gregoriano.
Toda construída com base nos conceitos do Feng Shui, os primeiros tremores desorganizaram os barris, que ficavam dispostos em semicírculos. Mas tudo ficou como antes. Logo na entrada, é possível encontrar uma fonte, cuja água percorre o prédio no sentido de fora para dentro. E na loja estarão à venda os vinhos Montes Alpha M, Montes Folly e Purple Angel, que estão entre os melhores e mais caros do país. “Conseguimos criar um ambiente para dar a sensação de calma e paz”, explica o chefe do Turismo da Viña Montes, Guillermo Silva.
A viagem pela terra do vinho reserva outros encantos. Também são garantidos o almoço na Hacienda Araucana, o passeio a cavalo pelas plantações da Viu Manent e a visita ao teleférico no topo da vinícola Santa Cruz. Nela, o turista poderá ver réplicas de aldeias indígenas Mapuche, Aymara e Rapa Nui. Não bastasse degustar uma das melhores uvas do mundo, o visitante ainda terá o privilégio de apreciar uma paisagem cinematográfica. Quem vai, não esquece.

(Fonte : Revista Isto É Dinheiro / Edição 655)

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