quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

FAENA NO BRASIL

Após erguer um hotel durante a crise argentina e apostar em um bairro de US$ 300 milhões, o excêntrico Alan Faena fará um cinco-estrelas em São Paulo

O empresário argentino Alan Faena é tido como uma pessoa excêntrica no mundo da hotelaria. Para começar, ele sempre usa roupas brancas (não por superstição, mas porque acha que lhe caem bem), está sempre de chapéu e tergiversa sobre os assuntos mais distintos. Frases como "o mistério é caminhar em pensamento" ou "sou um grande respeitador do presente" são parte do modo Faena de se expressar - e não de se fazer entender. Mas que ninguém se engane: Faena só delira quando usa o vocabulário, pois é um craque no campo dos negócios. Aos 45 anos, ele comanda um dos hotéis mais badalados de Buenos Aires, o Faena Hotel + Universe. Paralelo a isso, está investindo US$ 300 milhões na criação do Faena Art District, um bairro inteiramente novo, ao lado de Puerto Madero, onde se encontra o seu hotel. Agora, esse argentino que anda de um lado para o outro do alto de suas botas de caubói vai pisar em um novo terreno. "Vou abrir um hotel em São Paulo dentro de dois anos", disse Faena com exclusividade à DINHEIRO. A ideia é criar um empreendimento que mescle hotelaria com residências no bairro dos Jardins. "Estamos em um processo inicial, mas, com certeza, criaremos um hotel que una as características do Faena com o espírito da cidade."
Os investidores que entrarão com o argentino nesse negócio são o russo Len Blavatnik, presidente da Access Industries (empresa americana que atua no setor de energia e mineração), os irmãos Christopher e Robert Burch, do fundo de investimento Red Badge, e Austin Hearst, neto do lendário magnata da mídia William Randolph Hearst (1863-1951), tido como um dos homens mais ricos do mundo, com uma fortuna pessoal de US$ 1,4 bilhão. Para dar forma ao novo empreendimento, o grupo contratou a consultoria imobiliária americana Jones Lang LaSalle. A meta dos investidores é criar um hotel para competir, em termos de prestígio e luxo, com ícones de São Paulo como o Fasano, o Emiliano e o Unique. O investimento, estimado por especialistas do setor é de R$ 700 mil por quarto. Ou seja, se a unidade brasileira for do mesmo tamanho que a do Faena + Universe, consumirá cerca de R$ 75 milhões. "A chegada de um concorrente é sempre interessante para o mercado", aponta José Ernesto Marino Neto, presidente da BSH International, consultoria especializada em hotéis. "Mas é importante ter em mente que o sucesso de um projeto não significa o sucesso do próximo", alerta Marino.
De fato, Faena carrega grandes feitos no seu currículo. Ele é um dos responsáveis diretos pela revitalização do bairro de Puerto Madero, hoje um dos mais valorizados da capital Argentina. É que seu hotel, o Faena Hotel + Universe, começou a ser construído em 2002, com um investimento de US$ 30 milhões, em plena crise na Argentina. Logo, o estabelecimento tornou-se um dos destinos de luxo mais procurados da cidade. No ano de 2007, numa jogada com altas doses de ousadia, Faena começou a construção do Faena Art District, que será um complexo de condomínios, hotéis, praças e museu. Detalhe: 65% do projeto já está concluído. Outros negócios de Faena incluem unidades hoteleiras em Punta del Este, no Uruguai, e na cidade de Bariloche, na Argentina - este último ao custo de US$ 100 milhões. "Estou fazendo os projetos para serem obras de arte", conta Faena.
Não há meio-termo para definir o empresário: é amado ou odiado. Seus críticos consideram o hotel Faena uma ilha de excentricidade que não dialoga com a realidade da Argentina. De estilo belle Époque, com toques surrealistas, o hotel impressiona os visitantes ao abrigar um restaurante com cabeças de unicórnio nas paredes e outras maluquices. "Alan Faena consegue, através do design e da arquitetura, marcar seu nome no mercado", aponta Eduardo Rodrigues, coordenador do curso de design de interiores da Escola Panamericana de Arte. E, para os críticos, Faena dispara: "Ao me ver de chapéu, as pessoas pensam que não podem me levar a sério. Bom... Eles que continuem pensando isso. Embaixo do chapéu, sigo pensando e construindo."

(Fonte : Revista Isto É Dinheiro / Edição 645 / 17-02-10)

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