Capital privado, tecnologia e menos imposto: a receita que deixa a aviação brasileira mais competitiva
Melhorias na
infraestrutura, favorecida pelo programa de concessões de aeroportos à
iniciativa privada; cortes de impostos, que podem influenciar nos preços das
passagens; e uso intensivo de tecnologia nos terminais e nas companhias aéreas
podem tornar a aviação brasileira mais competitiva nos próximos anos.
Atualmente, na América
Latina, o Brasil ocupa a terceira posição no ranking, atrás do Chile e do
Panamá, aponta pesquisa feita pela Amadeus, fornecedora de soluções para o
setor de viagens, e a Alta (Associação da América Latina e do Caribe de
Transporte Aéreo.
Destaques
Segundo a executiva, na região,
o Brasil se destaca nas políticas de liberalização e crescimento da
infraestrutura. Os principais aeroportos estão sendo transferidos à iniciativa
privada - mais 22 terminais devem ir a leilão no próximo ano. “(O Brasil) tem
feito algo muito importante que é criar hubs em cidades que não sejam as
capitais, reduzindo o congestionamento e proporcionando maior eficiência aérea
com mais trechos diretos. ”Um dos exemplos citados por Victoria é o aeroporto
de Fortaleza, que conseguiu conectar o país sem depender de um único ponto. O
terminal da capital cearense atraiu um milhão de passageiros adicionais em
apenas um ano graças a esse processo. E a tendência é a consolidação desse
caminho, com a prorrogação da parceria entre a Gol e a Air France-KLM por mais
cinco anos.
Outro fator que
contribuiu para a liberalização do transporte aéreo no Brasil, de acordo com a
Amadeus, foi a assinatura de um acordo de céus abertos com os Estados Unidos,
que aumentou o tráfego em 14% entre 2017 e 2018. A expectativa é que ele ganhe
um impulso adicional após a retirada da exigência de visto para australianos,
canadenses, estadunidenses e japoneses. Chineses que tem o visto de entrada
para a Europa também não precisam de uma autorização especial para poder entrar
no Brasil.
Questão
tributária na aviação
A questão tributária é um
dos principais pontos de preocupação para a indústria aérea, destaca ela. A
Organização da Aviação Civil Internacional (Oaci) destaca que existem cerca de
130 impostos e tarifas sobre passagens aéreas na América Latina. “Muitos dos
quais não estão destinados a impulsionar a infraestrutura ou cobrir os custos
de serviços relacionados à aviação", aponta o relatório da Amadeus e da
Alta.
Segundo a Associação
Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), a América Latina
é um lugar muito caro para se fazer negócios. Impostos, taxas e políticas
governamentais sobrecarregam as companhias aéreas e “sufocam” as viagens
aéreas, tornando-as mais caras do que o necessário. Um dos exemplos é o custo
do combustível. Segundo a Amadeus, a região é pouco competitiva. Enquanto o
custo do combustível correspondeu a uma média global de 24% dos custos
operacionais, na América Latina esse percentual supera os 30%. A Associação
Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) reclama que o país é o único no mundo
com impostos regionais sobre o combustível de aviação. Mas há sinais de
melhora, destaca Victoria Huertas, da Amadeus. Um dos exemplos é o corte do
ICMS em alguns estados e no Distrito Federal. As reduções do tributo permitiram
compensar o fim da Avianca, que parou de voar em maio, e turbinaram novas rotas
aéreas.
Pontos
fortes da aviação brasileira
Os pontos-forte do Brasil
são a tecnologia e a facilitação para o passageiro. “Isto é um reflexo da
grande penetração de smartphones no Brasil”, cita a executiva. Dados da Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que, em agosto, eram 228,2
milhões de terminais para uma população de 210 milhões de pessoas. “O
brasileiro é conectado e isso contribuiu desenvolvimento de aplicativos por
parte das empresas aéreas, que facilitam o dia a dia no aeroporto.” Um dos
destaques, segundo ela, são os cartões de embarque virtuais. “E há aeroportos,
como o de Guarulhos, que estão automatizando o processo de leitura desses
cartões.”
Tendências
Segundo a Airbus, um dos
maiores fabricantes mundiais de aviões para passageiros, as viagens aéreas na
América Latina deverão duplicar nos próximos 20 anos, “graças a uma classe
média incipiente e à transformação dos modelos de negócios das companhias
aéreas, que farão que as viagens aéreas sejam cada vez mais acessíveis.” A expectativa é de que, em 2037, sejam feitas
cerca de 0,9 viagens por pessoa. A média atual é de 0,4.“A América Latina é um
mercado muito interessante para a aviação, dadas as grandes extensões
territoriais e a falta de meios alternativos, como trens”, aponta o relatório
publicado pela Amadeus e pela Alta.
(Fonte : Gazeta
do Povo – 04/11/19)
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