terça-feira, 28 de agosto de 2012

MARÉ ALTA


A combinação de sol e praias, aliada a um clima agradável, presente o ano inteiro, que faz a fama do Nordeste do Brasil entre os turistas dos mais diferentes cantos do mundo, tem sido vista, também, como uma oportunidade de negócios imobiliários para os investidores estrangeiros, à frente os europeus. E se engana quem pensa que a crise internacional – que vem fustigando os países desenvolvidos desde 2008 e se abateu recentemente com força redobrada sobre a Europa – reduziu o interesse pelos imóveis brasileiros. Ao contrário: os ventos da crise vêm enfunando as velas das caravelas de investidores que cruzam o Atlântico em busca de um porto mais seguro para o seu dinheiro.
“O Brasil tem sido visto como uma boa alternativa”, afirma João Teodoro da Silva, presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci). Segundo ele, no entanto, o perfil dos interessados mudou. Desembarcaram as pessoas físicas que buscavam um imóvel para uso, e subiram a bordo empresários e fundos de investimentos que, sem oportunidades em seus países de origem, escolhem o Nordeste brasileiro para alocar seus recursos. Foi o caso do Salamanca Capital, fundo de investimento britânico voltado para projetos globais no setor imobiliário. Em 2008, o fundo adquiriu 50% da construtora potiguar Ecocil, com sede em Natal, operação que deu origem à subsidiária Ecocil Incorporações, na qual os ingleses já investiram R$ 200 milhões nesses quatro anos.
Segundo Silvio Bezerra, presidente da incorporadora, a Ecocil foi a primeira empresa do setor imobiliário que recebeu capital, mas existem outros fundos de olho na região. “Na Europa, os negócios não estão acontecendo, enquanto aqui existem muitas oportunidades”, afirma Bezerra. “Tem muito dinheiro lá fora sem saber para onde ir.” Segundo o presidente do Cofeci, a estabilidade da economia, os preços mais em conta e as boas perspectivas de valorização dos imóveis no Nordeste são poderosos atrativos para o capital. De acordo com uma pesquisa feita com exclusividade para a DINHEIRO pela Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (ADITBrasil), o metro quadrado de um apartamento de alto padrão em uma área nobre de Natal custa de R$ 6 mil a R$ 8 mil, ante R$ 20 mil no Rio de Janeiro e R$ 15 mil em São Paulo.
“Os valores dos terrenos em algumas capitais do Nordeste já não são tão baixos, mas há locais para construir, o que amplia a oferta e favorece os preços”, afirma Bezerra. “Para o médio e longo prazos, é uma oportunidade.” O retorno das caravelas ao litoral nordestino beneficia, também, os brasileiros interessados no mercado imobiliário, pois justifica valorizações significativas na região. “O preço dos imóveis cresceu demais no Sul e no Sudeste nos últimos anos, e a margem para valorização se tornou pequena”, afirma Silva, do Cofeci. No Rio de Janeiro e em São Paulo, o metro quadrado já subiu, em dois anos, cerca de 50%, de acordo com o índice Fipe Zap.
Pelo mesmo indicador, em Fortaleza a valorização foi de 30% e em Salvador os preços subiram 15%, em média. “A especulação no Nordeste foi menor, e o potencial de valorização é grande, por conta das melhorias na região”, afirma Bezerra. Das 12 cidades-sede que receberão a Copa do Mundo de 2014, quatro localizam-se no Nordeste – Natal, Recife, Fortaleza e Salvador –, e, por isso, elas têm recebido investimentos em infraestrutura, transporte e mobilidade e nas melhorias da rede hoteleira e dos serviços ao turista. “É um bom momento para investir nesses locais”, diz Bezerra. Se antes os grandes empreendimentos eram voltados para os estrangeiros, hoje a aposta das incorporadoras são os próprios brasileiros.
“Eles consideram os imóveis uma boa alternativa diante das incertezas do mercado e estão de olho no crescimento do Nordeste”, afirma Waldemir Figueiredo, presidente do Conselho de Corretores de Imóveis do Rio Grande do Norte. A natalense Ecocil, que chegou a vender mais de 30% das unidades de cada um de seus empreendimentos para estrangeiros, entre 2004 e 2008, se voltou para o mercado doméstico. O foco anterior eram os turistas, que chegavam, semanalmente, em cerca de 37 voos fretados à capital potiguar. “Era possível comprar um excelente imóvel por € 50 mil”, afirma Bezerra. “Hoje os turistas não vêm mais com esse interesse.” O empresário aposta em imóveis para brasileiros e espera aumentar os lançamentos de R$ 180 milhões, em 2011, para R$ 600 milhões, em 2013.

(Fonte & imagem : Revista Isto É Dinheiro)

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