segunda-feira, 4 de julho de 2011

BANCOS AMPLIAM CRÉDITO ÀS EMPRESAS

O crédito concedido pelos bancos a empresas cresceu em 2010 num ritmo que foi quase o dobro do registrado nos empréstimos mercantis, isto é, quando os financiamentos ocorrem entre companhias.
Estudo da Serasa Experian, realizado a partir dos balanços de 60 mil empresas, revela que o crédito bancário aumentou 21,6% no ano passado ante 2009, enquanto o crédito mercantil cresceu 11,5% em igual período. O universo da pesquisa é formado por empresas com faturamento anual superior a R$ 2 milhões, públicas e privadas, e que apresentaram balanço em 2009 e 2010.
"Passado o susto da crise, os juros caíram em 2010, os empresários começaram a fazer as contas e perceberam que o crédito bancário não estava tão caro como em anos anteriores", afirma Márcio Torres, gerente especializado em crédito da Serasa Experian.
O financiamento mercantil sempre respondeu por uma parcela menor do total dos empréstimos levantados pelas empresas. Mas, nos últimos anos, com a escalada do juros, as empresas aceleraram a procura por financiamentos mercantis para escapar dos altos encargos cobrados pelo sistema financeiro.
Entre 1996, quando foi iniciada a pesquisa da Serasa Experian, e 2010, o crédito mercantil cresceu num ritmo superior ao bancário: 206% ante 199%, respectivamente.
Em 2010, no entanto, com o recuo dos juros e o interesse dos bancos em emprestar mais, esse cenário mudou, explica Torres, acrescentando que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) teve papel importante na oferta de crédito a empresas em 2010.
"O crédito bancário deu uma guinada no último ano porque ficou claro que o País não ia quebrar, com o emprego crescente, o mercado interno forte e as medidas de estímulo do governo para evitar a crise", diz Torres.
No ano passado, as empresas analisadas no estudo tinham empréstimos que somavam R$ 842,3 bilhões com bancos. Desse total, R$ 397,5 bilhões foram levantados por indústrias, que ampliaram em 22% o seu endividamento bancário na comparação com o ano anterior.
"Com a maior oferta de crédito dos bancos e taxas de juros menores, aumentamos o financiamento bancário no ano passado", confirma Valdemir Dantas, presidente da Latina, empresa que fabrica eletrodomésticos da linha branca.
De acordo com o estudo, as dívidas das empresas do setor de serviços com o sistema financeiro atingiram R$ 330,9 bilhões em 2010 e cresceram 16% em relação ao ano anterior. Mas a maior taxa de aumento de empréstimos bancários em 2010 foi registrada para as empresas do comércio varejista: acréscimo de 40% na comparação com 2009 e dívida bancária de R$ 113,8 bilhões em 2010.
A rede Lojas Marisa, por exemplo, aumentou o endividamento bancário em 150% no ano passado e o Grupo Pão de Açúcar, em 45%, segundo dados dos balanços.
Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), explica que, com o forte crescimento do consumo no ano passado, as empresas do comércio varejista buscaram nos bancos um volume maior de crédito para poderem financiar as vendas aos clientes e aproveitar o bom momento da economia.
O estudo aponta que o crédito mercantil para empresas varejistas não cresceu em 2010 sobre o ano anterior. Isso confirma que o comércio optou pelo sistema financeiro como fonte de financiamento para capital de giro e investimentos. Normalmente, ressalta Torres, a proporção entre o uso dos recursos é 60% para capital de giro e 40% para investimentos.

Reversão

O movimento observado no ano passado, de uma maior velocidade de crescimento do crédito bancário em relação ao mercantil, não deve se repetir neste ano. "Em 2011 deve haver um incremento no financiamento mercantil em detrimento do bancário", prevê Torres.
Ele explica que essa reversão deve ocorrer porque o cenário macroeconômico mudou. Isto é, desde janeiro o Banco Central (BC) vem subindo a taxa básica de juros para conter o excesso de consumo no mercado interno e segurar a inflação.
Além disso, no final de 2010 o governo baixou medidas macroprudenciais para esfriar a demanda interna. O resultado já começou a aparecer: aumento dos juros cobrados das empresas e maior risco de inadimplência. "Daqui para frente as empresas devem se voltar para o seu parceiro financeiro natural, que é o fornecedor."

(Fonte : Jornal O Estado de S. Paulo / imagem divulgação)

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