quarta-feira, 22 de setembro de 2010

GASTO DE TURISTA NO EXTERIOR BATE RECORDE


O recorde nos gastos de brasileiros no exterior levou o BC a aumentar a previsão para o deficit na conta de viagens internacionais.
No mês passado, esses gastos somaram US$ 1,3 bilhão, maior valor para meses de agosto da série histórica. Em julho, o resultado de US$ 1,5 bilhão foi o maior para todos os meses do ano desde 1947.
De acordo com a instituição, a diferença entre os gastos dos brasileiros fora do país e os dos turistas estrangeiros no Brasil alcançará, em 2010, o valor inédito de US$ 10 bilhões.
Para o BC, essa situação não deve se alterar em 2011, quando é esperado novo recorde (US$ 11,5 bilhões). "Esse resultado se deve, fundamentalmente, à despesa [dos brasileiros], pois o turismo receptivo está crescendo a taxas mais baixas. A expectativa é que isso continue", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Os gastos classificados pelo BC na conta de viagens incluem também as compras feitas com cartões de crédito em lojas fora do país.

Ameaça de intervenção não segura dólar

No primeiro dia após o anúncio de que o Fundo Soberano do Brasil (FSB) atuará no câmbio para conter a valorização do real, o dólar voltou a cair ontem.
Fechou com baixa de 0,58%, a R$ 1,71.
Embora o ministro Guido Mantega (Fazenda) diga que o FSB terá poder de fogo "ilimitado", seguem pequenas as chances de o Brasil conter a valorização do real, avaliam especialistas.
O ponto central é que os juros nas principais economias do mundo estão próximos a zero ou negativos na tentativa desses países de recuperar dinamismo econômico.
No Brasil, a taxa básica de juros (Selic) é de 10,75% ao ano. Isso faz do país um "ímã" para capitais especulativos de fora (ingressaram US$ 2,7 bilhões em agosto).
Outros países que saíram mais rápido da crise global também vêm sofrendo com a valorização de suas moedas, maior até que a do real diante do dólar. Casos do Peru, do Chile e da Austrália.
"O poder do Fundo Soberano é limitado. O Brasil não pode bancar o resto do mundo", diz o economista José Márcio Camargo, da PUC-RJ e da Opus Gestão de Recursos.
No total, o FSB tem hoje em caixa R$ 17,9 bilhões (US$ 10,5 bilhões). É um valor considerado baixo diante do fluxo de dólares que o Brasil vem recebendo.
Só nos primeiros 17 dias de setembro, o Banco Central ampliou em quase US$ 7 bilhões (para US$ 261,3 bilhões) as reservas internacionais do país, "enxugando" dólares do mercado na tentativa de conter a alta do real.
O FSB pode ampliar seu poder de fogo. Basta o Tesouro emitir títulos da dívida pública e destinar os recursos para a compra de dólares.
O problema é que, assim como nas intervenções do BC, há custo elevado para a dívida pública nisso.
Os títulos emitidos pelo Tesouro pagariam juros de 10,75% ao ano, mas o valor levantado seria destinado à compra de dólares que não param de se desvalorizar.
Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, a decisão da Fazenda de usar o Fundo Soberano pode ter um "efeito psicológico" no mercado.
"Só de gritar e dizer que o poder será "ilimitado", a Fazenda segura um pouco a ação de especuladores."
Mas ele considera difícil conter a valorização do real. Especialmente agora que o Fed (o BC norte-americano) pode injetar mais dólares a custo zero nos EUA para tentar recuperar a economia.
"Parte desses dólares certamente acabará entrando para especular no Brasil."
Felipe Salto, economista da Tendências, disse que "faz todo o sentido" usar o FSB para segurar o dólar às vésperas da capitalização da Petrobras. Ela pode chegar a R$ 133 bilhões e atrair nova enxurrada de dólares.

Efeito será pontual para absorver excessos

O FSB (Fundo Soberano do Brasil) poderá até segurar as cotações do dólar, mas por momentos pontuais de forte entrada de recursos no país, como os provenientes da oferta de ações da Petrobras.
Na avaliação do mercado, que recebeu a novidade ontem com ceticismo, dificilmente o FSB terá poder de fogo para alterar os rumos da taxa de câmbio brasileira, definida hoje por movimentos globais de fluxo de dinheiro.
"O Fundo Soberano não vai mudar a correnteza. O efeito será pontual. Quando entrarem os recursos da Petrobras, a gente vai ter uma noção melhor. Fazer só pressão não adianta, tem de agir", disse José Roberto Carreira, da corretora Fair.
Para o economista Marcio Garcia, professor da PUC-RJ, o efeito máximo de uma intervenção do FSB no câmbio será de dez dias, tempo em que poderá retirar eventual excesso de dólares.
"As intervenções que o Fundo Soberano venha a fazer serão, rigorosamente, idênticas àquelas do BC. Vai até dificultar a ação do BC, de aumentar a liquidez, se não comunicar suas intenções. E com o agravante de um custo maior por conta do diferencial de juros", disse.
A expectativa é que a primeira atuação só ocorra em outubro, após a liquidação da oferta da Petrobras e do vencimento do contrato de dólar para outubro na BM&FBovespa, respectivamente, nos dias 29 de setembro e 1º de outubro.
Até lá, as cotações ficarão pressionadas pelas aplicações dos bancos para proteger investimentos e dívidas com risco cambial. As "apostas" dos bancos na queda do dólar somam US$ 14 bilhões.
Especialista em câmbio, Nathan Blanche, da Tendências, também não vê benefício da atuação do FSB nos rumos do câmbio. "Qualquer tentativa de manipular a taxa de câmbio terá custo, com aumento dos prêmios de risco pedidos pelo mercado."

(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo)

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