terça-feira, 13 de julho de 2010

BRASIL GANHA NOVOS INDICADORES PARA MEDIR E INTERPRETAR RUMO DA ATIVIDADE


O país dos mais variados índices de inflação conta hoje com um número razoável de indicadores que tentam acompanhar de perto a evolução da atividade econômica. Com 16 anos de estabilidade monetária, bancos, consultorias e até o Banco Central (BC) têm investido na construção de índices que procuram apontar com mais clareza - e com menos defasagem - para onde vai o conjunto da economia, e em qual velocidade.
Serasa Experian, Itaú Unibanco, LCA Consultores e Bradesco calculam estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) mensal, usando metodologias diferentes, em que buscam antecipar a direção da atividade, unindo variáveis como a produção industrial, consumo de energia elétrica, estatísticas do mercado de trabalho e crédito e números de exportação e importação (ver quadro). O PIB divulgado pelo IBGE sai com atraso de cerca de 70 dias após o fim do trimestre.
O gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian, Luiz Rabi, vê o surgimento desses índices como fruto da evolução da economia brasileira. Segundo ele, cada vez mais é preciso acompanhar com lupa o ritmo da atividade, algo decisivo para definir os rumos da política monetária. Saber se há ou não folga de recursos na economia é crucial. Foi no "contexto de economia estabilizada" que surgiu o PIB mensal da Serasa Experian, lançado em dezembro de 2009.
"O país sempre teve muitos indicadores de inflação e poucos de atividade", lembra ele. Só entre a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem quase dez indicadores de preços.
A Serasa Experian divulga os números do PIB mensal tanto pelo lado da oferta (agropecuária, indústria e serviços) como pelo lado da demanda (consumo do governo, consumo das famílias, investimento e exportações e importações de bens e serviços). Rabi diz que o indicador tem mostrado boa aderência com os dados oficiais do PIB. "O PIB da Serasa Experian apontava alta de 2,8% no primeiro trimestre, na comparação com o anterior, e o número oficial foi de 2,7%." O número mais recente é o de abril, divulgado no fim de junho, após a publicação de informações sobre a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O indicador mostrou crescimento de 0,1% em relação a março, feito o ajuste sazonal, confirmando a desaceleração da economia no segundo trimestre.
O economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, diz que a ideia da instituição, ao construir o indicador, foi ter uma medida agregada da atividade econômica. Muitas vezes, os dados divulgados mensalmente desenham um cenário contraditório, com a produção industrial em alta e as vendas no varejo em queda, por exemplo. Com o indicador, é possível ter uma visão ampla do que se passa na economia sem ter de esperar o resultado do PIB do IBGE.
"Além de ser um método de previsão do PIB trimestral, o PIB mensal permite a estimação de modelos mensais que relacionam o crescimento do PIB com o mercado de trabalho e inflação", diz Bicalho. Em abril, o PIB mensal do Itaú Unibanco também apontou alta de 0,1% sobre março.
O BC lançou o seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) em março, com o objetivo de refletir a "evolução contemporânea da atividade econômica" e contribuir "para a elaboração da estratégia de política monetária". O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que o surgimento dos diversos indicadores de monitoramento da atividade se deve ao "processo evolutivo" da economia brasileira. As séries de indicadores mensais têm hoje um histórico mais longo, o que as torna mais confiáveis.
O IBC-Br também só é calculado pelo lado da oferta, por haver muito mais elementos que possibilitam a estimativa, diz Lopes. Ele faz a ressalva de que o índice do BC não é uma projeção do PIB, mas sim um sinalizador da atividade, sintetizada num único indicador. O relatório de inflação do BC de março, porém, destaca "a relevância do cálculo do IBC-Br como indicador antecedente do PIB", reconhecendo também a "aderência da trajetória do IBC-Br ao comportamento do PIB". Em abril, o indicador teve alta de 0,3% sobre março, na série com ajuste sazonal.
O indicador da LCA, por sua vez, pretende ser um indicador coincidente do PIB. Com isso, leva em conta em seu cálculo apenas indicadores divulgados com frequência diária ou semanal: o licenciamento de veículos, o consumo de energia, expurgada a influência da temperatura, os valores das exportações e importações em valores e a evolução do M1 (papel moeda em poder do público mais depósitos à vista) deflacionada. O modelo também leva em conta o número de dias úteis de cada mês. O economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, diz que "o IAE é uma proxy mensal do PIB", que tem o objetivo de mostrar o "pulso em tempo real da atividade econômica".
Enquanto os indicadores mais recentes do Itaú Unibanco, da Serasa Experian e do BC são de abril, o IAE de junho já está disponível, com recuo de 0,1% em relação a maio. Segundo ele, o indicador melhora a qualidade das previsões e ajuda na discussão da conjuntura econômica. O custo dessa rapidez é uma margem de erro maior, afirma Borges: "O modelo tem um erro médio de 0,4 ponto percentual, para cima ou para baixo."

(Fonte : Jornal Valor Econômico)

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