quinta-feira, 20 de setembro de 2012

ONDE SE HOSPEDA A ALTA GASTRONOMIA


Sabe quando você está hospedado naquele hotel estrelado que, de tão luxuoso e com tantos atrativos, o deixa sem vontade de sair para passear? Pois é exatamente isso o que os executivos do ramo hoteleiro querem que aconteça. Em um passado não muito distante, bastava um hotel oferecer instalações confortáveis e decoração sofisticada para ser considerado de alto padrão. Os tempos mudaram. Hoje, para agradar o seleto público endinheirado é preciso ir muito além. Na lista de serviços diferenciados entram spas, mordomos 24 horas e mimos de grifes de moda. Diferenciar-se é a chave do negócio para conquistar um espaço no competitivo mercado de luxo.
Atento a esse movimento, o ramo hoteleiro de alto padrão passou a investir pesado não somente no requinte de seus restaurantes como também na escolha de chefs de cozinha do mais alto escalão. Os hotéis que chamam mais atenção ao escalar chefs estrelados para seus restaurantes são estrangeiros, como os parisienses Alain Ducasse au Plaza Athénée e Restaurant le Maurice e o nova-iorquino Jean Jorges, no Trump International – todos com a premiação máxima do guia Michelin de três estrelas. Apesar de ainda não ter restaurantes incluídos no prestigioso guia francês de gastronomia, o Brasil também está ciente dessa demanda do mercado e já investe há alguns anos nesse setor.
O Agraz, por exemplo, localizado no Caesar Park, em São Paulo, recebeu há seis meses uma reformulação completa, da decoração ao cardápio, e hoje conta com a participação de dois chefs renomados: o italiano Franco Maddalozzo, com uma estrela Michelin de quando trabalhava no Villa del Parco, na Sardenha, e o mexicano Enrique Olvera, dono do Pujol, na Cidade do México, eleito o 36º melhor restaurante do mundo, segundo a lista San Pellegrino. E as estrelas não param por aí. O Arola-Vintetres, no Tivoli Mofarrej, é outro restaurante paulistano comandado por um nome de peso, o espanhol Sergi Arola, proprietário do espaço gastronômico em Madri que leva o seu nome – e já ostenta duas estrelas Michelin.
No Rio de Janeiro, destacam-se o Le Pré Catelan, no Sofitel Rio, com o francês Roland Villard, e o Pérgula, no Copacabana Palace, com o italiano Francesco Carli. “Todo hotel de luxo deve ser reconhecido pela boa gastronomia”, afirma Andrea Natal, gerente do Copacabana Palace. “Hoje 40% da receita do hotel é gerada pelos restaurantes e 60% pela hospedagem.” Carlos Estrada, diretor do Caesar Park, reforça a importância dessa estratégia de marketing. “Um chef com visibilidade garante a qualidade gastronômica e atrai um número maior de clientes, inclusive externos.” Para Roberto Miranda, especialista em hotelaria de luxo, as consequências desses investimentos têm sido positivas.
“O setor cresceu globalmente 25%, para US$ 370 bilhões, nos últimos três anos”, afirma ele, com base nos dados da Organização Mundial de Turismo (OMT). Segundo Miranda, a gastronomia é uma parte essencial durante a hospedagem. “Portanto, se a expectativa é de luxo, a alta gastronomia é a resposta”, diz ele. O sucesso dos guias de viagens também ajudou a estimular esse movimento em torno dos restaurantes instalados em hotéis estrelados. “Para alguns guias a alta gastronomia é pré-requisito básico na hora de classificar o nível de sofisticação de um hotel”, afirma Miranda. Para os chefs de cozinha, a valorização em curso da gastronomia hoteleira é um bom negócio.
“Os restaurantes de hotéis ganham grandes investimentos, tornando-se capazes de oferecer infraestrutura de qualidade”, afirma o francês Roland Villard, do Sofitel Rio. O cenário econômico mundial, com a crise na Europa, que coloca em disponibilidade a mão de obra altamente especializada no ramo, e o bom momento econômico que o Brasil atravessa tornam mais fácil atrair chefs internacionais de primeira linha. Mesmo o pessoal do primeiro escalão, lembra o espanhol Sergi Arola, precisa adaptar-se ao gosto dos brasileiros. “Estamos sempre conversando com os clientes para ver o que querem, quais adaptações são necessárias”, diz Arola. “Mesmo assim, o prato preferido deles continua sendo as tradicionais batatas bravas.”

(Fonte & imagem : Revista Isto É Dinheiro)

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