quinta-feira, 12 de julho de 2012

FIM DE RECURSOS CRIOU TURISMO NO ESPAÇO



"A Terra é azul", disse o primeiro homem no espaço, o soviético Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961, durante voo em órbita do planeta de menos de duas horas.
Desde então, muitos quiseram ter a mesma vista privilegiada. Poucos conseguiram. Tanto os "cosmonautas" soviéticos como seus rivais "astronautas" americanos eram quase todos militares.
Quando Gagarin viajou, o mundo vivia a Guerra Fria entre os blocos comunista e capitalista, e a corrida espacial, especialmente sua versão de voos tripulados, era a vitrine que servia para mostrar ao mundo as virtudes de seus regimes político-econômicos.
Levou 40 anos para o primeiro "turista" de verdade ir ao espaço - e, ironicamente, isso foi possível justamente graças ao fim da Guerra Fria.
Em julho de 1969, dois astronautas do projeto Apollo pisaram na Lua. Dos 12 que o fizeram, só um era cientista. E o começo da década de 1990 viu o desmantelamento do comunismo na Europa. De repente, perdeu a graça investir em caros voos tripulados para o espaço. Não havia interesse político. EUA e URSS continuaram a mandar homens e mulheres ao espaço.
A necessidade de propaganda era fundamental para manter à tona esses projetos espaciais. Os soviéticos enviaram ao espaço cosmonautas de seus aliados: Bulgária, Polônia, Alemanha Oriental e até Afeganistão e Síria.
Os EUA fizeram o mesmo com seus aliados da Europa ocidental, além de arranjarem lugares a bordo para senador, deputado e professora - que explodiram com o ônibus espacial Challenger em 1986, detonando projetos semelhantes de levar ao espaço jornalistas e civis.
Com o fim da utopia comunista da ex-URSS, não havia recursos. Foi quando surgiu a ideia do turismo espacial para ajudar a manter as naves e estações funcionando.
Até hoje, os únicos casos de "turismo" espacial estrito senso foram protagonizados pela sucessora da agência espacial da URSS, a Agência Espacial Russa. Houve o caso de "executivos" irem ao espaço por conta de suas empresas, claro, mas isso não chega a ser considerado uma espécie tradicional de turismo, na qual o próprio indivíduo paga sua viagem e estadia.
Caso haja interesse, quem faz a mediação é a Space Adventures (spaceadventures.com). Ela tem usado as naves russas da série Soyuz, testada e confiável. No futuro, espera usar uma nave em projeto pela Boeing, a CST-100.
Se você acha que os preços são exagerados só para constatar que a Terra é azul, há uma opção mais barata: por US$ 4.950 (R$ 10.062), você embarca em um avião que simula -graças a manobras- a sensação de "gravidade zero" do espaço. Por menos de um minuto, mas você vai flutuar como um astronauta/cosmonauta.


PRIMEIRA VIAGEM TURÍSTICA ESPACIAL DEVE SAIR EM 2013


Na ponta oeste de Pall Mall, entre veneráveis e antiquados clubes para cavalheiros de Londres, um novo escritório abriu no começo do ano. Na vitrine, um letreiro proclama um lema simples: "Espaço -um território Virgin". Em meio às relíquias do passado, Pall Mall agora abriga o futuro das viagens.
Estamos na nova sede britânica da Virgin Galactic, em que Richard Branson espera criar um mercado inteiramente novo de turismo - o turismo espacial.
Branson investiu mais de £ 162 milhões (R$ 511,2 milhões) no projeto e construção de uma frota de espaçonaves formada pelas unidades WhiteKnightTwo e pelos aviões espaciais SpaceShipTwo, de menor porte, que, operando juntos, transportarão passageiros em viagens a mais de 100 km acima da superfície da Terra, onde a atmosfera do planeta termina e o espaço começa.
Preso ao dorso do jato de transporte, cada avião espacial -transportando dois pilotos e seis passageiros- subirá até uma altitude de 15 km. Lá, o avião espacial será desacoplado da unidade de transporte, e os passageiros sentirão um arranque assustador no momento do disparo do motor foguete.
Serão comprimidos contra os encostos de suas poltronas enquanto a aeronave dispara a mais de 4.000 km/h. Do lado de fora, o céu azul será substituído pela escuridão do espaço, quando a espaçonave deixar a atmosfera.
Depois de 90 segundos, o piloto desligará o motor, e os passageiros flutuarão em gravidade zero, planando no espaço dentro da aeronave. Mais de 100 km abaixo, a curvatura da Terra será claramente visível diante do fundo escuro do espaço.
Os passageiros terão seis ou sete minutos de flutuação livre até que o aparelho inicie seu retorno. As asas curtas mudarão de posição e ficarão apontadas para cima, transformando a aeronave em uma espécie de peteca gigante que "deslizará" de volta à Terra.
Quando o aparelho retornar a uma altitude de cerca de 15 km, as asas retornarão à configuração original, e a aeronave planará até o pouso no aeroporto. E o dia do turismo espacial terá chegado.


TURISTAS PIONEIROS


Entre os passageiros com reservas na primeira missão da Virgin Galactic estão Branson e seus filhos Sam e Holly. Angelina Jolie será passageira de um dos primeiros voos, assim como Brad Pitt. Outras reservas para a viagem de £ 125 mil (R$ 394,5 mil) foram feitas por Ashton Kutcher, pelos pilotos de Fórmula 1 Rubens Barrichello e Niki Lauda, entre outros famosos.
A Virgin Galactic -que Branson descreve como "de longe meu empreendimento mais ousado"- até agora já teve depósitos de £ 64 milhões (R$ 202 milhões), de 520 passageiros que desejam escapar às amarras da Terra. Os primeiros voos devem ocorrer no final de 2013.
Na disputa pelo mercado de turismo espacial também estão o consórcio aeroespacial XCOR, a Armadillo Aerospace, ambas dos EUA, e a Orbital Technologies, da Rússia, que ganhou notoriedade em 2011 ao revelar seu plano de abrir um "hotel celeste".
O módulo orbital com quartos divertirá hóspedes em gravidade zero a um preço elevado: £ 500 mil (R$ 1,58 milhão) pela passagem no foguete Soyuz, mais £ 100 mil (R$ 315,4 mil) por cinco dias de estadia.
Um fator crucial em comum nestes projetos é o preço: salgado, mas não proibitivo. Uma tentativa de escalar o Everest custa entre R$ 95 mil e R$ 237 mil, por exemplo, e não é coincidência que os preços da Virgin Galactic e da XCOR sejam só um pouco mais altos - com o objetivo de capturar o mercado de turismo de aventura dominado por homens e mulheres equipados com relógios Breitling e salários de centenas de milhares de cifrões ao ano.

PREÇO POR ESTADA VALIA MILHÕES

Até hoje, só sete passageiros, todos bilionários, pagaram por uma estadia de sete dias na Estação Espacial Internacional. O mais recente foi Guy Laliberté, canadense que criou o Cirque Du Soleil. Ele pagou £ 22 milhões (R$ 69,5 milhões) por um voo e retornou à Terra com um nariz de palhaço.


(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo)

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