terça-feira, 23 de agosto de 2011

ARGENTINO PAGA CARO POR AEROPORTO NO RN



Em uma disputa acirrada, sociedade com brasileiro vence leilão de São Gonçalo do Amarante, na grande Natal

Com um lance de R$ 170 milhões, o consórcio Inframérica venceu o leilão de privatização do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, na grande Natal (RN). O valor equivale a mais de três vezes o lance mínimo previsto no edital - ágio de 228%.
Esse montante corresponde à outorga de concessão e deverá ser pago em 25 prestações anuais depois de uma carência de três anos. O Inframérica terá de investir mais R$ 650 milhões ao longo de 28 anos, sendo mais da metade até 2014.
O aeroporto já tem uma pista, obra de R$ 250 milhões bancada pela União.
O consórcio é formado pela brasileira Engevix e pela argentina Corporación América, com 50%-50%, e ficará responsável pela construção, pela manutenção e pela operação do aeroporto por 28 anos.
O grupo argentino encabeça o consórcio vencedor do controverso processo de privatização do país vizinho.
Quatro grupos apresentaram propostas ontem na sede da BM&FBovespa.
O preço mínimo era R$ 51,7 milhões. O Inframérica apresentou o maior lance inicial: R$ 132 milhões. Houve uma disputa acirrada com a Aeroportos Brasil (grupo MPE), com 87 lances no total.
O processo, a primeira concessão federal no setor, está sendo considerado como um teste para a privatização dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília, prevista para dezembro.
A exemplo do que deve ocorrer com os demais aeroportos, a privatização será bancada pelo BNDES.

"QUERIDO BNDES"

"Esperamos rapidamente ir bater na porta do nosso querido BNDES", disse o sócio da Engevix, José Antunes Sobrinho, dirigindo-se ao ministro da Aviação Civil, Wagner Bittencourt, durante entrevista após o leilão. O empresário disse esperar que o banco estatal financie "até 70% do investimento". Para ele, com esse apoio, o retorno do investimento ficará "acima de 6%".
Concorrente da Inframérica, o grupo ATP, que fez uma oferta inicial de R$ 62 milhões, considerou o resultado "uma loucura". "Não há condição de esse investimento se pagar", disse Lincoln Delboni, diretor de novos negócios da ATP.
"Que raio de privatização é essa que é bancada pelo BNDES?", diz o professor de transporte aéreo da UFRJ Respício do Espírito Santo. Eduardo Padilha, professor do Insper e consultor de aeroportos, calcula que a taxa de retorno para a Inframérica poderá chegar a 8% se a demanda se comportar dentro de um cenário otimista.
"Não é um retorno impossível, mas 8% é apertado", diz Padilha. "O risco é quererem renegociar o contrato."
Marcelo Guaranys, diretor-presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), comemorou. Mas reconheceu os riscos do ágio elevado.
"Ao longo dos anos, estamos diminuindo as brechas que permitem a negociação de aditivos aos contratos nas privatizações no país", disse.
Antunes, do Inframérica, não se comprometeu a entregar o aeroporto antes da Copa, mas disse que fará todos os esforços para isso. "É de nosso total interesse."

GRUPO PAGOU ÁGIO ALTO NO PAÍS VIZINHO

O empresário argentino de origem armênia Eduardo Eurnekián, dono da Corporación América, fez fortuna na década de 1990 na esteira das privatizações feitas no governo de Carlos Menem, a quem era muito ligado.
Entrou em telecomunicações, energia, infraestrutura e aeroportos. Em 1997, venceu, com outros sócios, o leilão de privatização dos 36 principais aeroportos do país.
A exemplo do leilão de ontem, pagou caro. O preço mínimo da outorga era de US$ 40 milhões por ano e o seu grupo, Aeropuertos Argentina 2000, venceu por US$ 171 milhões.
Os elevados compromissos de outorga, somados aos problemas enfrentados pelo país, tornaram o negócio impagável.
Dívidas de US$ 600 milhões e atrasos no cronograma de investimentos levaram o grupo a renegociar o contrato.
Em um processo bastante controverso de negociação, que mobilizou a mídia e a opinião pública, Eurnekián conseguiu, em 2007, trocar a dívida por uma participação acionária de 20% do Estado.
No processo de "reestatização", a obrigação de pagamento anual da outorga foi abandonada. O grupo passou a pagar para o governo um porcentual das receitas comerciais e aeroportuárias.

(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo)

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