terça-feira, 29 de março de 2011

EXCESSO DE MEDIDAS CAMBIAIS PODE PRESSIONAR INFLAÇÃO


O expressivo fluxo cambial registrado neste ano, com saldo líquido positivo de US$ 34 bilhões, vem sustentando a tendência de valorização do real, movimento que tem sido contido por medidas do governo. Nosso cenário considera o dólar a R$ 1,70 ao final de 2011, no contexto citado, que combina elevada liquidez internacional e continuidade das ações de governo para segurar o dólar. Por outro lado, é cada vez mais importante considerar possíveis impactos indesejáveis do uso excessivo desses instrumentos, caso a percepção de risco dos agentes seja afetada. O aumento de IOF para compras no exterior não deve ter efeito importante sobre o câmbio. Conforme admitido pela Receita, o viés da medida é arrecadatório, buscando também conter a expansão dos gastos no exterior. Um eventual efeito no câmbio seria no sentido de maior apreciação do real, dada a resultante redução da demanda por dólares. Entretanto, a Receita admite que devem ser adotadas outras medidas. Fala-se em cobrar IOF nos empréstimos externos de empresas nacionais, em resposta ao aumento vigoroso das captações. Nos dois primeiros meses de 2011, captações e empréstimos somaram cerca de US$ 18 bilhões, muito acima do verificado no mesmo período de 2010 (US$ 8 bilhões). Vale ressaltar os riscos envolvidos na adoção de restrições a esse capital, dada a necessidade de financiamento externo do país e a insuficiência de poupança doméstica para atender à demanda por investimentos. Dessa forma, diferentemente da justificável medida sobre os capitais de curto prazo (operações em que investidores tomam empréstimos no exterior para aplicar em juros no Brasil), a tentativa de limitar captações pode gerar impactos no sentimento dos mercados, dependendo do teor das medidas. Uma consequente desvalorização do real comprometeria ainda mais o alcance das metas de inflação e em 2011 e 2012.

(Análise de Silvio Campos Neto, especial para o Jornal Folha de S. Paulo)

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