sexta-feira, 1 de outubro de 2010

DÓLAR ATINGE O SEU MENOR VALOR EM DOIS ANOS, E INDÚSTRIA RECLAMA - VIAGENS PARA O EXTERIOR FICAM MAIS ATRATIVAS


O dólar comercial fechou ontem com a cotação mais baixa dos últimos dois anos.
O grande fluxo de dólar na economia levou o valor da moeda americana a R$ 1,6920, recuo de 0,76%. A compra maciça de dólares pelo BC (US$ 9 bilhões) não conseguiu segurar a cotação em níveis acima do R$ 1,70.
A quebra desse limite gerou reações negativas no setor industrial exportador.
Segundo a indústria, a valorização do real tem minado a capacidade de competição da indústria nacional diante dos concorrentes internacionais.
Isso é apontado pela indústria como um "paradoxo", num momento em que o Brasil é apontado como uma grande opção de investimento em todo o mundo.
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) acusa uma parte do governo (o Banco Central) de anular todo o esforço da indústria na busca de competitividade.
"Toda a inovação, o processo de melhoria e o avanço tecnológico em busca da competitividade permitem que alcancemos, depois de muito tempo, ganhos de 3% ou 4%. O câmbio destrói isso em pouco tempo", afirmou José Velloso, primeiro vice-presidente da Abimaq.
A crítica da associação em relação ao dólar é bem dirigida. Segundo Velloso, a indústria reconhece o ingresso de dólares na economia brasileira como parte do sucesso do agronegócio brasileiro e das commodities metálicas no mercado internacional.
O problema, diz, está em boa parte no campo financeiro. "É a fuga para cá de investidores internacionais de mercados com juros baixos ou negativos em busca da taxa de 10,75%", afirma.
Harry Schmelzer Junior, diretor-presidente da Weg, uma das maiores indústrias de bens de capital do país, disse ontem que a situação cambial no Brasil tem levado a fabricante de motores elétricos a substituir a produção no país pela fabricação em unidades instaladas em outros mercados.
A iniciativa -lamentada pelo executivo- é uma forma de proteger a organização dessa atual situação da taxa de câmbio no país.
"É um grande paradoxo que estamos vivendo. O Brasil tem recebido muitos investimentos, inclusive produtivos, o que é muito bom, mas a situação cambial tem afetado muito a capacidade de produção aqui."
Além de produzir em outros países, a Weg ampliou as importações de alguns componentes para manter o poder de disputa do produto brasileiro no exterior.

JURO ALTO

Para especialistas do setor financeiro, o Banco Central segurou a queda mais acentuada do dólar. Felipe Brandão, especialista de mercados emergentes da Icap Brasil, aponta os juros domésticos como fator preponderante para esse movimento no Brasil. Segundo ele, essa situação deverá continuar.
Mas, à semelhança de outros especialistas, ele acredita em novas medidas do governo para deter a queda livre do câmbio.
"O Banco Central vai agir. Acho que o real não deve se valorizar muito mais do que a taxa de hoje [ontem]. No curto prazo, o dólar deve variar entre R$ 1,68 e R$ 1,72", diz.
Cristiano Souza, economista do banco Santander, lembra que outras variáveis podem ajudar a conter a derrocada do câmbio.
Ele nota que o enfraquecimento do balanço de pagamentos, como observado nos últimos meses, pode ser o fator estrutural que vai, inclusive, fazer as taxas oscilarem mais perto do R$ 1,80.

VIAGENS PARA O EXTERIOR FICAM MAIS ATRATIVAS

Viagens e compras no exterior, mesa farta de produtos importados nas festas de final de ano. A queda do dólar -dor de cabeça para a indústria que disputa lá ou que enfrenta aqui os competidores internacionais- é a parte favorável para os consumidores brasileiros.
Dados do Banco Central mostram que, de janeiro a agosto, os brasileiros gastaram US$ 6 bilhões a mais no exterior do que os estrangeiros desembolsaram aqui para passear pelo Brasil. É o maior saldo negativo em um período semelhante desde 1947, segundo a instituição.
Além de facilitar o acesso às viagens internacionais, a desvalorização da moeda americana é uma grande aliada do Brasil no controle da inflação.
O ingresso maciço de produtos importados amplia a competição no mercado local, o que restringe reajustes de preços dos produtos fabricados aqui. Com a desvalorização do dólar, a importação fica mais acessível.

(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo)

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