O Banco Central agiu pesadamente ontem para segurar a alta do dólar, mas
não conseguiu impedir mais uma forte valorização da moeda.
O BC fez uma operação no mercado futuro equivalente à venda de US$ 2,2
bilhões, valor considerado alto por analistas. Apesar disso, o dólar subiu
1,6%, para R$ 2,08, maior cotação em três anos.
O dólar está em alta em todo o mundo devido às incertezas na Europa. No
entanto, a divisa vem subindo com mais força no Brasil por causa das medidas
que o governo adotou nos últimos meses para desvalorizar o real.
A taxação de operações de venda de dólar no mercado futuro, por exemplo,
intensifica os movimento de alta da moeda americana, dizem analistas. No ano, o
real recua 11% ante o dólar, maior queda entre 16 moedas.
O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Comércio e Indústria)
afirmou ontem que o dólar pouco acima de R$ 2 torna a indústria mais
competitiva.
"Temos que assegurar um patamar adequado para o câmbio. Hoje o
dólar está pouco acima de R$ 2, quero crer que é um valor adequado para a
indústria", disse.
Apesar de reconhecer que o dólar nesse patamar é "preocupante"
para as importações, ele frisou que por outro lado beneficia exportações.
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito,
"o câmbio está sem teto", ou seja, deve subir mais no curto prazo.
Segundo ele, o contínuo discurso do governo de que o dólar alto é melhor
para a indústria deixou o mercado sem parâmetro para o câmbio. "Sem saber
se a moeda vai continuar subindo, investidores e empresários antecipam as
compras, o que pressiona mais a alta do dólar".
O BC, que vinha comprando dólares e alimentando a alta da moeda, passou
a vender a divisa não porque esteja incomodado com a alta, avalia Perfeito, mas
porque quer evitar um salto muito rápido da taxa de câmbio.
"Estamos numa zona de incerteza muito grande. Essa instabilidade no
dólar afeta o planejamento dos empresários e traz riscos para a inflação",
nota Alfredo Barbutti, da BCG Liquidez.
Ontem, também foi um dia de forte instabilidade na Bolsa de São Paulo,
que caiu 2,74%. Segundo Perfeito, os investidores reagem ao fraco desempenho da
economia e à queda do real, que torna o investimento aqui menos atrativo. Em
dólar, a bolsa tem queda de 20% em maio.
(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo/
imagem divulgação)
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