Um relatório lançado hoje pelo BID (Banco Interamericano para o
Desenvolvimento) traz uma verdade inconveniente para a América Latina: o corte
de emissões de carbono via redução do desmatamento será mais do que compensado
pelo aumento das emissões nos setores industrial e de transportes.
O resultado é que a região deve chegar a 2050 emitindo 7 bilhões de
toneladas de CO2 por ano, cerca de 50% mais do que os 4,7 bilhões atuais.
Se a trajetória se mantiver, os custos de controle de emissões em 2050
chegarão a 2,4% do PIB da região em 2010, ou US$ 110 bilhões por ano.
Isso é mais do que os próprios prejuízos causados pela mudança climática
entre agora e 2050, estimados pelo mesmo estudo do BID em até US$ 100 bilhões
por ano.
O chefe da Divisão de Mudanças Climáticas do BID, Walter Vergara,
explica a aparente contradição. "Estamos falando de prejuízos até
2050", afirma. Se o aquecimento ultrapassar 2°C em relação à era
pré-industrial até meados da década, os impactos serão muito maiores.
"Se você quiser evitar danos maiores, precisa reduzir a pegada de
carbono", diz. Ou seja, é um custo finito contra um custo indefinido.
Entre os problemas previstos estão a escassez de água nos países andinos
devido ao derretimento de geleiras e a redução na produtividade de terras
agrícolas -com um prejuízo estimado de até US$ 54 bilhões por ano, a maior
parte no Brasil.
O país, que responde por 52% das emissões latino-americanas, tem
enfatizado nas metas de corte que adotou para até 2020 o papel da redução do
desmatamento.
Porém, o setor de transportes tem aumentado suas emissões mesmo após o
anúncio da meta, e a indústria resiste a adotar metas obrigatórias absolutas.
Nenhum dos setores produziu até agora planos detalhados de corte de
emissões.
"Se o conteúdo de carbono na nossa energia ficar constante, as
emissões vão aumentar muito só pelo crescimento econômico", diz Carolina
Dubeaux, da UFRJ, que calculou em 2009 os custos do aquecimento no país. "Temos
de pensar no pós-2020."
(Fonte : Jornal Folha de S. Paulo / imagem divulgação)
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